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Japão mantém-se fora e questiona eficácia do tratado das armas nucleares

O primeiro-ministro japonês, Yoshihide Suga, sublinhou hoje que o país não pretende aderir ao Tratado da ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares e questionou a eficácia do acordo sem apoio de potências nucleares.

Japão mantém-se fora e questiona eficácia do tratado das armas nucleares
Notícias ao Minuto

11:35 - 22/01/21 por Lusa

Mundo Japão

"O Japão não tem intenção de assinar o tratado", garantiu Suga em declarações feitas no parlamento japonês, citadas pela agência de notícias Kyodo, no dia em que o pacto entra em vigor, depois de ser ratificado por mais de 50 dos seus mais de 120 signatários.

O pacto, promovido pelas Nações Unidas, "não tem o apoio de Estados com armas nucleares nem de muitos Estados sem essas armas", argumentou o chefe do executivo japonês.

Como primeiro e único país a sofrer um bombardeamento nuclear contra a população civil, em Hiroshima e em Nagasaki, Suga considerou que o Japão "tem a responsabilidade de liderar os esforços da comunidade para alcançar um mundo sem armas nucleares".

No entanto, sublinhou, para que isso aconteça, é preciso seguir "um caminho realista".

O primeiro-ministro Suga também se mostrou "cauteloso" sobre a possibilidade de considerar ter estatuto de observador do tratado, afirmando que o Japão continuará a esforçar-se para servir como "ponte" entre Estados nucleares e não nucleares.

Os bombardeamentos atómicos de Hiroshima e de Nagasaki, em agosto de 1945 - que precipitaram o fim da Segunda Guerra Mundial, mataram cerca de 214.000 personas até ao final desse ano, e deixaram sequela físicas e psicológicas em muitas outras, que ainda hoje perduram.

As associações de sobreviventes do 'hibakusha' e outras organizações antinucleares pediram várias vezes ao Governo que aderisse ao tratado, mas o Japão está sob alçada nuclear dos Estados Unidos, tornando improvável que apoie uma proibição total da produção, uso ou armazenamento de armas atómicas.

Segundo o executivo japonês, esse 'guarda-chuva' dos Estados Unidos ao Japão dá-lhe proteção contra ameaças como o programa nuclear norte-coreano.

O tratado internacional de proibição das armas nucleares, não assinado pelos países que possuem armamento atómico, entrou hoje em vigor, sendo, ainda assim, considerado um dos maiores avanços na prevenção de ataques nucleares intencionais ou acidentais.

"Este tratado oferece esperança para um mundo sem armas nucleares e indica, pela primeira vez, que o seu uso é ilegal", explicou o diretor-geral do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Robert Mardini.

Existem atualmente mais de 13 mil ogivas nucleares no mundo e "milhares delas estão em estado de alerta máximo, o que significa que basta alguns segundos para apertar um botão e causar um desastre", referiu.

O CICV esteve na linha da frente, em conjunto com a Cruz Vermelha Japonesa, do resgate e tratamento das vítimas dos atentados de Hiroshima e Nagasaki, há 75 anos, conhecendo, portanto, em primeira mão, as devastadoras consequências humanitárias do uso de armas nucleares.

"Ainda hoje há hospitais no Japão que tratam pacientes com cancro provocado pela exposição à radiação durante os ataques", disse Mardini.

Por isso, explicou o responsável, as negociações para banir as armas nucleares, que levaram à adoção do tratado em 2017, foram lançadas por um movimento de "diplomacia humanitária" do CICV, da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, que reúne sociedades da Cruz Vermelha de todo o mundo.

A ratificação desse instrumento legal por 51 países permitiu a sua entrada em vigor hoje, embora a ausência de países que possuam arsenais nucleares deixe o pacto muito vulnerável.

Os Estados Unidos e a Rússia têm, juntos, cerca de 90% das ogivas nucleares existentes, mas o Reino Unido, a França e a China, todos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, também possuem armas nucleares.

Oficialmente, a Índia, o Paquistão e a Coreia do Norte também são países nucleares e presume-se que Israel também detenha sse tipo de armas.

Todos estes países recusaram assinar o tratado que proíbe o uso, ameaça de uso, desenvolvimento, produção, testes e armazenamento de armas nucleares, com o principal argumento de que não se trata de um meio de dissuasão contra os seus inimigos.

"A realidade é que enquanto existirem armas nucleares existe o risco de que sejam utilizadas e isso é irrefutável. Se queremos um planeta seguro, essas armas têm de desaparecer", concluiu Mardini.

Também Portugal ficou de fora do grupo de signatários do acordo, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, explicado considerar que o tratado não responde à necessidade de desarmamento e não observa as preocupações de segurança de muitos países.

O Tratado de Proibição das Armas Nucleares "não se constitui como a resposta" à necessidade de alcançar um mundo livre de armas nucleares, "uma vez que não toma em conta as legítimas preocupações de segurança de muitos países e a conjuntura internacional", disse.

Leia Também: ONU e papa saúdam entrada em vigor de tratado de armas nucleares

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