"Penso que é altura de o Conselho de Associação [UE-Israel] voltar a reunir-se", defendeu Raphael Gamzou durante uma videoconferência sobre a cooperação entre Portugal e Israel no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE.

Para o embaixador de Israel em Portugal, esta presidência é um bom pretexto para concretizar as palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, na sua última visita a Israel, em dezembro, quando defendeu a necessidade de fortalecer os laços entre o país e o bloco comunitário, bem como a importância de uma reunião do Conselho de Associação UE-Israel.

"Esta foi também a perspetiva do ministro Santos Silva, que a expressou durante as nossas conversações aqui em Israel. Espero que ele consiga convencer todos os países membros [da UE] a aceitarem reunir novamente o Conselho de Associação", afirmou.

Raphael Gamzou lembrou que "o Conselho de Associação UE-Israel não se reúne desde 2012", pois "alguns países-membros, infelizmente, queriam criar uma ligação entre este processo no Médio Oriente e a relação com a UE".

"Consideramos que esta é uma ideia muito errada. Não há nada positivo nesta ligação. A única mensagem que envia à Palestina é que, se não se juntar à mesa de negociações, pode continuar na mesma a ter benefícios. Acreditamos que a Europa deve enviar a mensagem contrária aos palestinianos, chamando-os novamente à mesa de negociações, que é a única forma de conquistar algum progresso", defendeu.

O Acordo de Associação UE-Israel, em vigor desde 2000, é o quadro jurídico que rege a relação entre o bloco comunitário e este país do Médio Oriente.

Em 2012, o Conselho Europeu decidiu que em todos os acordos assinados com Israel deve ser inserida uma "cláusula territorial", que limita explicitamente o âmbito de aplicação a Israel e exclui os territórios ocupados.

Numa entrevista ao jornal 'Jerusalem Post', publicada no mesmo dia da viagem a Israel em dezembro passado, Augusto Santos Silva referiu que foi possível "planear conversas futuras e uma cooperação com Israel de uma forma muito mais positiva".

Contudo, alertou que, se Israel retroceder na promessa de suspensão dos planos de anexação, tal "seria um obstáculo para o aprofundamento da cooperação entre as duas entidades".

O embaixador Raphael Gamzou acrescentou ainda que Israel espera que a presidência portuguesa do Conselho da UE "apoie a total participação no [programa] Horizonte Europa", o programa-quadro de investigação e inovação da UE para o período de 2021 a 2027 e cujo lançamento está previsto para fevereiro, em Lisboa.

O 'Horizonte Europa' surge no seguimento do programa 'Horizonte 2020', do qual Israel faz parte e, portanto, "Portugal tem toda a noção da contribuição do ecossistema inovador de Israel" no âmbito da investigação e da ciência, frisou.

Raphael Gamzou falava durante uma conferência digital, promovida pela Câmara de Comércio Portugal-Israel, a Missão Israelita junto da União Europeia (UE) e a consultora Eupportunity, para discutir a cooperação entre ambos os países durante a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia, que se iniciou no passado dia 01 de janeiro.