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"Crise dos reféns" dos EUA no Irão terminou há 40 anos

Em 20 de janeiro de 1981 são libertados dezenas de reféns norte-americanos que permaneciam há 444 dias na embaixada dos EUA em Teerão, coincidindo com a posse de Ronald Reagan e representando uma humilhação que não foi esquecida.

"Crise dos reféns" dos EUA no Irão terminou há 40 anos
Notícias ao Minuto

08:11 - 19/01/21 por Lusa

Mundo EUA

A "crise dos reféns" inicia-se em 04 de novembro de 1979, em plena revolução islâmica, quando cerca de 400 estudantes iranianos se dirigem para a embaixada norte-americana em Teerão. Exigem a extradição do xá Mohammad Reza Pahlavi, e que em janeiro de 1979, um mês antes do triunfo da revolução, se tinha exilado no Egito.

Na ocasião, Reza Pahlavi encontrava-se desde 22 de outubro hospitalizado nos Estados Unidos em tratamento a um cancro que o vitimará, em julho de 1980, após o seu regresso ao Cairo.

No início do cerco à embaixada, diversos diplomatas conseguem fugir, mas 52 diplomatas e civis norte-americanos são feitos reféns. Tinha início a "crise dos reféns". Entre eles, 13 são libertados nas duas semanas seguintes, e um outro em julho de 1980. Os restantes vão permanecer 444 dias em detenção, apesar de alguns terem tentado escapar sem sucesso.

Após a sua libertação, denunciam atos de tortura psicológica, enquanto as autoridades iranianas exigem que os Estados Unidos reconhecessem atuações do passado, em particular o indefetível apoio de Washington ao xá após a "operação Ajax" no verão de 1953, numa referência ao golpe de Estado em 1953 promovido pela CIA e pelo MI6 (inteligência militar britânica), que derrubou o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh.

Alguns meses após o derrube do regime monárquico e a fuga do xá em 16 de janeiro de 1979, o ayatollah Ruhollah Khomeini tinha proclamado a instauração da República Islâmica do Irão.

Fervoroso crítico dos Estados Unidos -- em particular pelo seu envolvimento na política interna do país herdeiro da antiga Pérsia -- apela ao seu povo para se manifestar contra esse país que designa de "Grande Satã".

Em 02 de novembro de 1979 Kohmeini declara que os EUA são um "inimigo do Islão". A capital iraniana vive um período de grande efervescência. As centenas de estudantes radicalizados que se concentram dois dias depois frente à embaixada, apoiados por milhares de populares que glorificam o novo líder supremo, não exigem apenas a extradição do xá, mas também a sua condenação à morte.

Os 'marines' que protegem a embaixada são impotentes para conter a multidão, que após duas horas de cerco consegue transpor os muros do complexo. A bandeira dos EUA é substituída pelo estandarte do Islão.

A principal causa desta crise é a suspeita de espionagem efetuada pela embaixada dos EUA, que depois justificam pela descoberta diversas informações e documentos.

No edifício da representação diplomática, que o regime islamita transformará em museu, são apresentadas provas das atividades de espionagem, e a invasão do complexo será justificada após os estudantes terem visto fumo que saía das janelas do edifício. Diversos documentos confidenciais estavam a ser queimados, outros têm como destino máquinas de trituração.

No entanto, 80 registos de documentos secretos puderam ser reconstituídos após um paciente trabalho dos estudantes, que recolheram os pedaços enviados para trituração.

O então Presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter impõe sanções económicas ao Irão e rompe as relações diplomáticas em abril de 1980. A situação é de impasse. No entanto, cinco meses mais tarde, em 24 de abril de 1980, ordena a operação "Eagle Claw" (Garra de Águia) com o objetivo de resgatar os reféns pela força.

A operação culmina num desastre total. Diversos helicópteros envolvidos avariam-se e despenham-se no deserto. Oito militares morrem durante uma precipitada evacuação. Humilhados, os governos norte-americanos passam a eleger o Irão como um inimigo prioritário, e encorajam o ditador iraquiano Saddam Hussein a atacar o país vizinho em setembro de 1980.

Inicia-se a guerra Irão-Iraque, um conflito que se prolongou até 1988 com um balanço de pelo menos seis milhões de mortos, feridos e deslocados.

Com o regime reforçado no rescaldo desta guerra mortífera, e num gesto que revelou alguma sobranceria, Teerão ordena a libertação dos reféns em 20 de janeiro de 1981, no próprio dia da tomada de posse do Presidente republicano Ronald Reagan -- com cuja equipa manteve contactos prévios com o objetivo de comprometer a reeleição de Carter, como sucedeu. Termina uma longa crise que marcou o país de forma quase tão violenta como a guerra do Vietname.

Apesar dos militares mortos na fracassada operação, a tomada dos reféns não provocou qualquer vítima entre os reféns norte-americanos. Os detidos serão libertados em Argel 12 minutos após o discurso inaugural de Reagan, em troca da promessa de não-ingerência dos EUA na política interna do Irão ou o descongelamento dos fundos iranianos. Para além da venda secreta de armamento a Teerão, em plena guerra com o Iraque, na origem do posterior escândalo "Irão-Contras", num triângulo em que entram os rebeldes anti comunistas da Nicarágua.

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