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Tunísia assinala sob tensão 10 anos da fuga de Ben Ali

A Tunísia assinala na quinta-feira a fuga do seu ditador Zine el Abidine Ben Ali sob pressão popular, acontecimento que desencadeou um processo democrático hoje fragilizado pelas dificuldades de reformar a economia e oferecer perspetivas sociais.

Tunísia assinala sob tensão 10 anos da fuga de Ben Ali
Notícias ao Minuto

08:31 - 13/01/21 por Lusa

Mundo Tunísia

Os tunisinos já comemoraram em dezembro, sem entusiasmo, a imolação pelo fogo do jovem vendedor ambulante Mohamed Bouazizi, a 17 de dezembro de 2010 no centro desfavorecido do país, que desencadearia a revolução.

A partida de Ben Ali, a 14 de janeiro de 2011, após 23 anos no poder, foi seguida de levantamentos em vários países da região e da queda de outros autocratas, no que ficou conhecido como a Primavera Árabe. Mas a Tunísia foi o único que continuou a sua democratização.

No entanto, as festividades na quinta-feira prometem ser limitadas: o clima é de deceção face à falta de melhorias sociais e a explosão do número de casos do novo coronavírus dificulta as concentrações.

Os tunisinos, os jovens em primeiro lugar, ocuparam as ruas em janeiro de 2011 para exigir nomeadamente trabalho. Hoje mais de um terço dos jovens (35%) está oficialmente desempregado, assim como mais de 30% dos licenciados.

Após anos de agitados debates, islamitas e oposição chegaram a um compromisso em 2014 sobre uma Constituição, saudada como um avanço histórico, e o país realizou várias eleições justas.

Registaram-se assassínios políticos, uma vaga de atentados 'jihadistas', instabilidade política, mas os tunisinos mantiveram o rumo e um Nobel da Paz para o "diálogo nacional" em 2015 saudou os esforços de compromisso com a transição.

A situação de segurança também melhorou bastante nos últimos anos e as presidenciais de 2019 foram vencidas por um universitário antissistema, Kais Saied.

Em termos de liberdade de expressão, a Tunísia é uma exceção na margem sul do Mediterrâneo, com tal direito enraizado nos media e na arte.

"Ter escritórios, uma equipa de jornalistas que trabalha livremente no terreno, era um sonho há 10 anos e este sonho realizou-se", sublinha citado pela agência France Presse o opositor Sami Ben Gharbia, regressado do exílio em 2011 e cujo blog Nawaat se tornou um 'site' de informação de referência.

A liberdade de associação permitiu o nascimento de uma sociedade civil dinâmica, que se mobilizou face às tentativas de pôr em causa os avanços democráticos, mas a classe política, enredada em lutas pelo poder, tem sido incapaz de agir.

A emergência social, no entanto, continuou a aumentar e as consequências da epidemia da covid-19 incluem uma recessão sem precedentes.

As manifestações multiplicaram-se nas últimas semanas em regiões marginalizadas e a exigência é a mesma de há 10 anos, investimentos e empregos.

"Não passámos da transição democrática para a transição económica. Os diferentes governos tentaram comprar a paz social sem ter uma política de desenvolvimento económico ou de integração social a longo prazo", considera o analista Zied Krichen.

O Estado contratou em massa -- o número de funcionários públicos aumentou 50% de 2010 a 2017 -- e aumentou os salários, mas "não foi o suficiente para responder às enormes expectativas", sublinha.

Krichen critica a economia "parasitária" de grandes grupos que beneficiam sobretudo da revenda de produtos importados. Outros denunciam um "capitalismo de compadrio" desenvolvido pelo Estados e grupos económicos familiares que se protegem dos concorrentes através de regras de conveniência.

Face à crise, o presidente aceitou no final de dezembro o princípio de um novo "diálogo nacional" por iniciativa da federação sindical UGTT, mas persistem divergências importantes sobre como tal se realizará.

As dificuldades sociais alimentam uma nostalgia do antigo regime, que cultivava a imagem de sucesso económico. Para numerosos tunisinos, a liberdade trazida pela revolução "não alimenta ninguém".

Krichen reconhece que existe uma "situação muito difícil", mas pensa que "um regresso à ditadura continua improvável".

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