Depois de 38 anos de prisão por um crime que não cometeu, Walter Forbes foi no mês passado colocado em liberdade, depois de uma testemunha, acamada, ter voltado atrás na sua versão dos factos, numa trágica e complexa história em que a justiça falhou.
Forbes era um estudante em 1982 quando decidiu intervir numa luta entre dois grupos rivais, no exterior de um bar, no Michigan. Um dos intervenientes no conflito, Dennis Hall, vingou-se no dia seguinte, baleando Forbes quatro vezes. O norte-americano sobreviveu, mas Hall morreu pouco depois num incêndio em sua casa, algo que foi encarado como retaliação, indica a CNN.
Três meses depois do incêndio, Annice Kennebrew, uma jovem mãe, disse às autoridades que viu Forbes e mais dois homens com bidões de gasolina perto do apartamento onde morava Dennis Hall. Disse também que os viu despejar gasolina à volta do edifício, de acordo com os documentos judiciais.
Incriminado (e sem grande atenção ao detalhe)
Ainda que a versão dos factos relatada por Annice Kennebrew colidisse com o apurado pelos investigadores - cor dos bidões indicada era diferente da cor de um dos bidões encontrado no local; encontraram provas de que o líquido incendiário foi colocado no interior do apartamento e não fora -, Forbes acabou por ser condenado, depois de dois outros homens terem sido absolvidos.
Havia outro detalhe que poderia agravar as dúvidas: um denunciante anónimo ligou para a polícia, quatro dias após o incêndio, e disse que a responsabilidade era do dono do edifício. A denúncia, porém, foi considerada inadmissível, na altura. Sabe-se agora que David Jones, o dono, já falecido, tinha contratado um seguro para o prédio dois meses antes do incêndio.
Foi Walter Forbes que, depois de ver num jornal uma notícia sobre potencial fraude cometida por David Jones, decidiu apelar a que levassem o seu caso de novo a julgamento, em 2010, já depois de 28 anos de prisão. O caso foi aceite pela Michigan Innocence Clinic, gerida por advogados e estudantes de direito da Universidade do Michigan. A primeira coisa que saltou à vista foi o facto de um homem ter sido condenado por homicídio com base no testemunho de apenas uma pessoa.
Única testemunha altera depoimento em 2017
Depois de localizar Annice Kennebrew, em 2017, que se encontrava acamada, com doença respiratória, deslindaram a história. "Ela admitiu tudo. Disse que na altura do incêndio tinha 19 anos e que dois homens da comunidade se tinham aproveitado disso", indicou o atual advogado de Forbes, Imran Syed, explicando que esses dois homens pressionaram-na para dizer que tinha visto Forbes com dois homens no local do incêndio. "Eles ameaçaram matar os meus filhos, pais, irmãos e a mim, se não dissesse à polícia e testemunhasse que vi Walter iniciar o incêndio", confessou a mulher, em 2017.
O caso voltou a tribunal em maio e junho deste ano, de forma remota. A acusação foi retirada pouco depois, e Forbes saiu da cadeia a 20 de novembro (imagem acima). "É muito triste que tenha levado 38 anos", lamentou o seu advogado, Syed.
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