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Israel. Pandemia levou mais jovens ultraortodoxos a deixar a comunidade

A crise sanitária devido à pandemia da covid-19 transformou-se numa crise espiritual para alguns jovens judeus ortodoxos em Israel, fazendo aumentar o número dos que este ano decidiram abandonar a sua comunidade.

Israel. Pandemia levou mais jovens ultraortodoxos a deixar a comunidade
Notícias ao Minuto

15:17 - 18/12/20 por Lusa

Mundo Israel

"O corona(vírus) deu-me a oportunidade de deixar este mundo", disse Yoav, nome fictício, à agência France-Presse.

O jovem de 22 anos foi um dos que decidiu recorrer à associação Hillel, que desde 1991 ajuda jovens ultraortodoxos que desejam deixar as suas famílias para viver de forma diferente.

A Hillel é solicitada por cerca de 350 ultraortodoxos anualmente, mas os pedidos duplicaram em 2020 com a pandemia, indicou à AFP o diretor da organização, Yair Hess.

Yoav contou que durante os dois confinamentos determinados pelas autoridades israelitas para travar a epidemia do novo coronavírus, na primavera e em setembro, ficou fechado em casa com os pais.

Impedido de frequentar a 'yeshiva' (escola talmúdica), o jovem teve de lidar com um pai intransigente em relação à prática religiosa e "as tensões eram permanentes", declarou à AFP.

"Há anos que sabia que não tinha sido feito para essa vida e aí compreendi que tinha de ir embora", adiantou Yoav, que vive desde então com 13 outras pessoas, entre os 18 e os 25 anos, num centro de acolhimento da organização em Jerusalém, financiado pelo Ministério dos Assuntos Sociais.

Acompanhados por membros da associação e assistentes sociais, os jovens contam com assistência psicológica e financeira, além de cursos de reinserção.

"Eles não sabem nada do mundo moderno, do outro sexo, é preciso ensinar-lhes tudo", explicou Etty Eliahu, diretora da casa que recebe quem não tem para onde ir. "Estamos aqui para os ajudar a encontrar o seu lugar no mundo", disse.

Efrat, 21 anos, também vive no centro de acolhimento de Jerusalém e quer tornar-se maquilhadora profissional para "embelezar a vida".

Já tinha deixado antes a sua família numerosa, mas voltou quando a pandemia começou e ficou desempregada e sem poder pagar a renda.

Foi um "pesadelo", conta emocionada, recordando que a mãe a expulsou de casa, antes de ser hospitalizada devido à diabetes.

Os 'haredim' ("tementes a Deus" em hebreu ou ultraortodoxos) representam cerca de 12% dos nove milhões de israelitas e vivem normalmente isolados, respeitando "à letra" a sua interpretação do judaísmo.

A maioria dos homens estuda os textos sagrados ao longo do dia. As mulheres vivem separadas dos homens até ao casamento, que geralmente ocorre cedo. Frequentemente trabalham mais que o cônjuge.

Segundo um estudo do instituto israelita para a democracia divulgado em 2019, todo os anos cerca de 14% dos judeus ultraortodoxos em Israel abandona a religião e a maioria tem entre 19 e 25 anos.

Segundo Yair Hess, este ano, o encerramento das escolas talmúdicas devido ao confinamento obrigou os jovens a passar mais tempo com a sua família, criando um fenómeno de "panela de pressão" que explodiu em muitas casas.

Os jovens acolhidos pela Hillel podem ficar quatro meses no centro e depois têm a possibilidade de alugar um alojamento pertencente à associação.

"Perdi anos, finalmente estou a viver", disse Yoav, que agora trabalha para o Ministério dos Transportes e tem aulas de matemática e inglês, das quais foi privado durante os seus estudos.

Com a Hillel, também Efrat descobriu "um mundo novo".

"Aqui aprendi a não ser ingénua, aprendi a falar com os homens, aprendi quem sou e o que sou capaz de fazer na vida", disse à AFP.

"Paradoxalmente, o corona(vírus) salvou-me", adiantou.

A pandemia de covid-19, transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019 na China, provocou pelo menos 1.662.792 mortos resultantes de mais de 74,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço da AFP.

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