Venezuela caminha para uma desinstitucionalização, diz Josep Borrell
A Venezuela caminha para uma "desinstitucionalização" e isso é "mau", alertou o alto representante da Política Externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, que defende negociações com vista a novas eleições, aconselhando à oposição "unidade de ação".
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Mundo União Europeia
"Infelizmente, ocorreram avanços na desinstitucionalização do país. Isso é mau para todos, também para a oposição, e uma negociação entre as partes na Venezuela deve ser retomada", disse Borrell numa entrevista por meio digital à agência de notícias EFE, hoje divulgada.
Nas eleições parlamentares de 6 de dezembro, com abstenção de 70% e com pouca participação da oposição, os apoiantes do Governo venezuelano conquistaram 253 dos 274 assentos que compõem a Assembleia Nacional, que assim controlará a nova Câmara a partir de 05 de janeiro.
No dia seguinte às eleições convocadas pelo Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro, a União Europeia (UE) rejeitou o resultado das eleições por incumprimento dos "padrões internacionais mínimos" e exigiram a realização de eleições legislativas e presidenciais "credíveis, inclusivas e transparentes".
"A normalidade política e económica" da Venezuela "só será alcançada por meio de uma negociação entre os venezuelanos", insistiu Borrell.
O alto representante europeu referiu que é necessário "não fechar os olhos para a realidade" e que a crise política, humanitária e económica do país só se "resolverá votando novamente" e não com sanções económicas ou eventuais intervenções militares estrangeiras, das quais "felizmente" já ninguém fala.
Nesse sentido, Borrell destaca que as sanções económicas contra a Venezuela, que a UE não apoia, estão a ter "um efeito gravíssimo sobre a situação humanitária da população", mas esclareceu também que "não exonera a responsabilidade do Governo de Maduro na gestão económica do país".
O chefe da diplomacia europeia assegura que fez "muitos esforços" para tentar obter a participação de todas as forças políticas nas últimas eleições, embora "não fossem perfeitas", mas a maior parte da oposição "não quis aparecer".
"Não foi possível e agora estamos com uma Assembleia", presidida pelo líder oposicionista Juan Guaidó, "que chegou ao fim do seu mandato (...) e uma outra que foi mal eleita do nosso ponto de vista" e que assume em 05 de janeiro, observa Borrell.
Até que chegue essa data, o objetivo do alto representante é conseguir o máximo consenso possível com a oposição e os países da região sobre como enfrentar a nova situação política que se abriu na Venezuela depois das eleições.
Perante o novo cenário, o alto representante da UE para a Política Externa considera que a oposição venezuelana beneficiaria ao "reforçar a sua unidade de ação".
Este foi o conselho que passou pessoalmente e recentemente a Leopoldo López, "sem dúvida um dos líderes mais importantes da oposição venezuelana", disse Borrel, que se encontrou recentemente com o opositor em Madrid, onde este vive há algum tempo e goza de maior "capacidade de ação política".
Questionado se o pedido do ex-presidente do Governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, para que a UE reconsiderasse a sua posição e reconhecesse o resultado das eleições na Venezuela lhe parece relevante, Borrell respondeu que não é do seu domínio comentar o que diz o ex-chefe executivo.
"Não estou a dizer que seja irrelevante, o que digo é que não é relevante para o meu trabalho", afirmou.
"Para mim, o que é relevante é o que disseram os 27 Estados da UE, que declararam que essas eleições não podem ser reconhecidas porque não cumpriram os padrões democráticos mínimos. O ex-presidente Zapatero tem outra opinião, ele saberá o porquê", declarou.
"Mas francamente o que me interessa é que os 27 governos europeus, incluindo o espanhol, tenham a mesma opinião: que estas eleições não podem ser reconhecidas porque não cumprem os padrões democráticos mínimos exigidos. E é isso que para mim é importante", sublinhou.
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