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Assassínio de cientista nuclear iraniano foi para "matar a diplomacia"

O embaixador do Irão em Portugal disse em entrevista à Lusa que o assassínio do cientista iraniano Mohsen Fakhrizadeh na passada sexta-feira foi efetuado por um "triângulo da destruição" com o objetivo de "matar a diplomacia".

Assassínio de cientista nuclear iraniano foi para "matar a diplomacia"
Notícias ao Minuto

10:23 - 03/12/20 por Lusa

Mundo Irão

"A magnitude desta operação sugere que um regime terrorista está por detrás. Há cerca de dois anos, o primeiro-ministro do regime de Israel, Benjamin Netanyahu, designou este cientista como incluído na designada 'lista do terror' e disse aos jornalistas para se lembrarem do seu nome", indicou o Morteza Damanpak Jami em declarações à Lusa".

"É a prova que Israel está de certeza por detrás deste assassínio", afirmou o diplomata iraniano.

Mohsen Fakhrizadeh, um cientista, professor universitário e diretor da organização de pesquisa e inovação do ministério da Defesa do Irão, foi morto na passada sexta-feira em Teerão, num atentado que se seguiu a anteriores ações atribuídas pelo regime iraniano à Mossad, os serviços secretos de Israel.

"Há dez anos Mohsen Fakhrizadeh já estava na "lista do terror". O Irão apontou o dedo a Israel por muitas razões, também devido às anteriores ações da Mossad, com o assassínio de cientistas iranianos. Agora mudaram o método de assassínio, utilizando equipamento eletrónico, numa operação provavelmente apoiada por satélite", disse.

O diplomata precisou que nesta ação esteve envolvido o que designou de "triângulo da destruição" no qual incluiu, para além de Netanyahu, "Bin Salman [o príncipe herdeiro saudita e vice-primeiro-ministro] e Pompeo [Mike, o último chefe da diplomacia dos EUA durante a administração do ainda Presidente em exercício, Donald Trump] que promovem ações e conspirações contra a paz e a segurança na região".

Morteza Jami recordou que na sequência do acordo nuclear assinado entre o Irão e os 5+1 em 2015 [o Plano de Ação Conjunto Global, JCPOA, assinado entre Teerão e os EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e ainda Alemanha], foram as políticas destrutivas e negativas deste "triângulo da destruição" que "finalmente convenceram Trump" a renegar o acordo nuclear em 2018.

"E que implicaram o regresso das sanções inumanas contra o Irão e a política de máxima pressão, impedindo mesmo ao povo iraniano o acesso a medicamentos e equipamento médico necessários durante a atual pandemia. São estas as conspirações e atrocidades deste triângulo do crime contra a nação iraniana", frisou.

"O motivo deste ataque é que possivelmente pretendem matar a diplomacia", frisou, antes de recordar que o Irão decidiu manter-se no acordo JCPOA "apesar de todas estas atrocidades" e que "apenas adotou algumas medidas para reduzir o seu compromisso porque as outras partes também não os cumpriram".

"Mas optámos por permanecer no acordo porque acreditarmos na diplomacia", frisou.

Ao referir-se às eleições presidenciais nos EUA, o embaixador iraniano recordou que no decurso da campanha eleitoral o Presidente eleito, Joe Biden, prometeu o regresso dos EUA ao JCPOA e o levantamento de todas as sanções impostas por Trump ao Irão.

"Existe uma hipótese de que regresse ao acordo nuclear e terminem as sanções", admitiu. "Mas não contamos com as palavras do Biden ou dos seus conselheiros. Contamos com o comportamento e as ações dos Estados Unidos. Caso terminem com as sanções e regressem ao acordo nuclear, o Irão regressará imediatamente à total implementação do JCPOA".

Ao referir-se às promessas de retaliação do Irão após este atentado -- e na sequência da resposta iraniana após o assassínio do general Qasem Soleimani em Bagdad no início de janeiro por um drone norte-americano -- o representante de Teerão assinalou que o seu país "preserva o direito de tomar as medidas necessárias e retaliar contra este crime inumano", mas no momento e local apropriados.

"Vai ser examinada com detalhe a natureza do crime e como responder. Mas decerto que o Irão tem a força suficiente para responder de forma adequada e no tempo certo".

E precisou: "Os criminosos que esperem em relação ao que o Irão vai fazer, mas devo referir que logo após este assassínio, muitos países do mundo condenaram este ato criminoso e terrorista. Quase todos os países da região e diversos países europeus, apesar de não ter sido uma posição forte contra este ato terrorista".

Numa alusão às divergências surgidas entre o parlamento de Teerão -- que na terça-feira aprovou uma iniciativa legislativa sobre o fim das inspeções internacionais ao seu programa nuclear -- e o Governo, que criticou esta iniciativa, o embaixador considerou serem "naturais", mas não o reflexo de uma "divisão entre diversas fações" internas.

"A natureza de uma sociedade democrática é que existam abordagens e perspetivas diferentes no parlamento e no Governo, porque existe uma divisão de poderes. O mesmo sucede em Portugal, e nos países que assentam nas formações partidárias", sustentou.

A lei foi, entretanto, enviada ao Conselho dos Guardiães, que na quarta-feira concluiu diversas alterações ao texto, como indicou.

"Trata-se de um reforço da lei, que será enviado para o Governo e onde são fornecidos dois meses para que as sanções sejam levantadas pela outra parte. Caso contrário o Irão renunciará à aplicação voluntária do protocolo adicional da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA)".

Um prazo que permitirá a tomada de posse e a entrada em funções da administração de Joe Biden nos EUA.

O Irão sempre negou estar a munir-se da bomba nuclear, mas o acordo de 2015 encontra-se muito debilitado desde a saída unilateral dos EUA e a reimposição por Washington de fortes sanções, com Teerão a responder com o incumprimento de diversas partes desse protocolo, assinaladas nas inspeções da AIEA.

"Mas se a outra parte regressar à total implementação do JCPOA, incluindo permitir que o Irão beneficie economicamente do acordo, do levantamento das sanções, conexões bancárias, atividades económicas numa base normal, não demorará muito o regresso do Irão ao total cumprimento do acordo. Mas os erros dos EUA e dos países europeus devem ser corrigidos", insistiu Morteza Damanpak Jami.

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