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Independentistas da região de Tigray dizem estar "prontos a morrer"

O presidente da região separatista etíope de Tigray (Norte) disse hoje que o seu povo estava "pronto a morrer", reagindo ao ultimato do primeiro-ministro do país, que deu aos líderes da região 72 horas para se renderem.

Independentistas da região de Tigray dizem estar "prontos a morrer"
Notícias ao Minuto

15:57 - 23/11/20 por Lusa

Mundo Conflito Etiópia

Quase três semanas após o início da operação militar para recuperar a autoridade sobre a região, Adis Abeba planeia, em breve, "cercar" Mekele, capital de Tigray e sede do governo local, da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF).

O primeiro-ministro Abiy Ahmed fez há 10 dias um primeiro ultimato aos militares da região, convidando-os a desertarem para o exército federal. Alguns dias mais tarde, anunciou que a intervenção estava a entrar na sua "fase final".

"Quantas vezes [Abiy Ahmed] disse três dias? Ele não compreende quem somos, um povo de princípios e pronto a morrer para defender o nosso direito de administrar a nossa região", disse o presidente de Tigray e líder da TPLF, Debretsion Gebremichael, citado pela agência de notícias France-Presse.

"É uma questão de esconder a derrota que sofreram hoje em três frentes, a fim de ter tempo para se reagruparem", acrescentou. Porém, Debretsion não especificou de que "frentes" estava a falar.

A situação no terreno, e independente das reivindicações de cada lado, é muito difícil, uma vez que Tigray tem estado praticamente isolada do mundo desde o início da operação, em 04 de novembro.

Também não há um relato preciso dos combates, que resultaram em pelo menos centenas de mortes. Mais de 36.000 pessoas da região já fugiram para o vizinho Sudão.

No domingo, num comunicado dirigido à liderança da TPLF, o primeiro-ministro do país, desde 2018, Abyi Ahmed, que foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 2019, deu um ultimato de 72 horas aos militares da região para se renderem.

"O caminho para a vossa destruição está a chegar ao fim", escreveu.

O Governo afirma controlar a localidade de Edaga Hamus, 100 quilómetros a norte de Mekele, enquanto o exército disse, na semana passada, que estava a controlar Mehoni, 125 quilómetros a sul. Ambas as cidades estão na estrada principal que conduz à capital regional.

No sábado, o exército nacional alertou para um ataque violento iminente contra Mekele, que pretende "cercar com tanques" a cidade. Um porta-voz apelou aos meio milhão de habitantes para "fugirem", anunciando que não haveria "nenhuma misericórdia".

"Tratar uma cidade inteira como um alvo militar, não só seria ilegal, como também poderia ser visto como uma forma de punição coletiva", disse a diretora da organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) para o Corno de África, Laetitia Bader, na sua conta no Twitter no domingo.

Também no domingo, o primeiro-ministro acusou a TPLF de destruir muitas "infraestruturas" em Tigray, incluindo o aeroporto da histórica e turística cidade de Aksum (noroeste, também controlado pelo exército (segundo Addis Abeba), bem como "escolas, centros médicos, pontes e estradas que eram propriedade do país".

O aeroporto de Bahir Dar já foi atingido duas vezes por roquetes. A TPLF tinha reivindicado a responsabilidade pelo primeiro tiroteio, em 13 de novembro, dizendo que a infraestrutura estava a ser utilizada pelo exército federal.

Também tinha reivindicado a responsabilidade pelo lançamento de roquetes nos aeroportos de Gondar, em Amhara, e Asmara, a capital da Eritreia. Quando contactada, a TPLF não reagiu.

"A milícia TPLF destruiu a pista de aterragem do aeroporto de Aksum, quando fugiam aos avanços da Força de Defesa Nacional Etíope", disse o comité governamental etíope, que gere a informação sobre a guerra em Tigray, num vídeo em que mostra a destruição.

Aksum, é um dos destinos turísticos mais conhecidos da Etiópia, foi o centro do poder do Reino Aksum, que existiu desde o primeiro ao sétimo século, e se expandiu das Montanhas Tigray para abranger o norte da atual Etiópia, regiões do Sudão, quase toda a Eritreia e parte da costa ocidental da Península Arábica. O sítio arqueológico de Aksum foi declarado Património Mundial da UNESCO em 1980.

Os seus monumentos mais importantes são as estelas, enormes obeliscos esculpidos com motivos arquitetónicos, que marcam o local dos túmulos dos soberanos do antigo reino.

Até à data, o primeiro-ministro ignorou os apelos internacionais à cessação das hostilidades e recusa uma negociação com a TPLF para resolver a crise.

A disputa entre Tigray e o Governo federal cresceu nos últimos meses, com o atraso indefinido das eleições gerais a realizar em agosto passado, na Etiópia, como ponto de viragem.

Após o atraso nas eleições, justificado pela covid-19, a TPLF realizou as suas próprias eleições parlamentares em setembro passado, que o governo central descreveu como ilegais, razão pela qual procura agora restaurar a "ordem constitucional" em Tigray.

Do mesmo modo, desde 05 de outubro, data em que o mandato de Abiy expirou, teoricamente, o Governo de Tigray não reconhece qualquer autoridade ao executivo federal.

A TPLF dominou a coligação governamental na Etiópia até o atual primeiro-ministro chegar ao poder em 2018.

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