O aviso, que se junta a outros que a ONU tem vindo a fazer nas últimas semanas, surge numa altura em que os Estados Unidos da América (EUA) estão a considerar integrar os rebeldes Huthis na sua lista de "organizações terroristas", medida que irá complicar ainda mais a entrega de ajuda humanitária no Iémen.
"Na falta de ação imediata, milhões de vidas poderão estar perdidas", frisou António Guterres num comunicado.
No texto, o secretário-geral da ONU abordou, mas de forma não explícita, a eventual decisão norte-americana.
"Peço a todos que evitem tomar medidas que possam agravar a já desastrosa situação", afirmou.
O Iémen é palco de uma guerra desde 2014 entre os rebeldes Huthis, apoiados pelo Irão, e as forças do Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, que desde março de 2015 é apoiado por uma coligação militar internacional árabe, cujo principal pilar é a Arábia Saudita (uma reconhecida aliada dos EUA).
A guerra já causou dezenas de milhares de mortos, sobretudo civis, e provocou a pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.
Entre os aspetos que potenciaram o aumento da ameaça de fome, Guterres referiu a "redução drástica" verificada no ano em curso do financiamento da ajuda coordenada pela ONU em relação a 2018 e 2019, a instabilidade da moeda iemenita (o rial) e os entraves colocados pelas fações beligerantes aos funcionários humanitários no terreno.
"Exorto todos aqueles que têm influência a agir com urgência sobre estas questões para evitar uma catástrofe. Caso contrário, arriscamo-nos a uma tragédia não só na perda imediata de vidas, mas com consequências que terão repercussões ilimitadas no futuro", advertiu António Guterres.
Se Washington incluir os rebeldes Huthis na lista norte-americana de organizações terroristas, várias áreas de atuação podem ser prejudicadas, nomeadamente a interação com os líderes da fação, a gestão de impostos, o uso do sistema bancário, o pagamento das equipas médicas, a compra de alimentos e de combustível, bem como o acesso à Internet.
Em outubro passado, a edição de 2020 do Índice Global da Fome (IGF) colocou o Iémen entre os países no mundo que mostram níveis alarmantes de fome.
