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Costa do Marfim vai a votos no sábado sob a ameaça de boicote

Cerca de 7,5 milhões de costa-marfinenses vão no sábado às urnas numa eleição marcada por receios de regresso da violência e que deverá ser boicotada pela oposição, que contesta a recandidatura do Presidente cessante.

Costa do Marfim vai a votos no sábado sob a ameaça de boicote
Notícias ao Minuto

09:15 - 29/10/20 por Lusa

Mundo Eleições

Desde agosto, altura em que o atual chefe de Estado, Alassane Ouattara, anunciou a sua recandidatura, vários incidentes e confrontos causaram já cerca de 30 mortes, reforçando os receios de uma escalada de violência étnica, dez anos após a crise pós-eleitoral de 2010 de que resultaram 3.000 mortos.

A crise teve origem na recusa do então Presidente Laurent Gbagbo - cuja candidatura às eleições deste ano foi rejeitada pelo Conselho Constitucional - em reconhecer a sua derrota eleitoral frente a Alassane Ouattara.

Desde há uma semana, estão destacados 35 mil elementos das forças de segurança para assegurar as operações das eleições presidenciais de 31 de outubro e cerca de 40 observadores da União Africana estão já no país.

Sobre o escrutínio paira também a incerteza, com oposição a considerar "inconstitucional" a candidatura de Alassane Ouattara e a apelar à "desobediência civil" e ao "boicote ativo" às eleições, garantindo que a votação não se vai realizar.

As presidenciais de sábado põem também em evidência o grande fosso geracional existente na Costa do Marfim, um país muito jovem com líderes políticos muito velhos.

Num país onde três quartos da população tem menos de 35 anos e a idade média é de 19 anos, os candidatos favoritos dominam a cena política na Costa do Marfim há três décadas.

O Presidente Alassane Ouattara, 78 anos, no poder há 10 anos, concorre contra o antigo chefe de Estado Henri Konan Bédié (no cargo de 1993 a 1999), de 86 anos.

Apenas quatro das 44 candidaturas apresentadas foram validadas pelo Conselho Constitucional, que deixou de fora outro dos líderes históricos do país, o ex-Presidente Laurent Gbagbo, 75 anos, no poder de 2000 a 2010, recentemente absolvido pelo Tribunal Penal Internacional.

Os dois candidatos mais jovens na corrida são o ex-primeiro-ministro de Gbagbo, Pascal Affi N'Guessan, 67 anos, e o independente Kouadio Konan Bertin, 51 anos, cujas candidaturas têm, segundo os analistas, poucas possibilidades.

O Presidente Ouattara tinha prometido entregar o poder à "nova geração", encarnada, segundo ele, pelo seu primeiro-ministro Amadou Gon Coulibaly, 61 anos, mas a sua morte súbita, bem como a candidatura de Bédié fizeram-no mudar de ideias e recandidatar-se.

Ausentes destas eleições presidenciais estão dois homens que querem encarnar a próxima geração: o ex-líder rebelde e ex-primeiro-ministro Guillaume Soro, 48 anos, que viu a sua candidatura invalidada, e o ex-líder dos Jovens Patriotas, Charles Blé Goudé, da mesma idade, que preferiu posicionar-se para as próximas eleições.

Na Costa do Marfim, os jovens são particularmente afetados pela pobreza e pelo desemprego (quase 40% dos 25 milhões de habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza) e sentem-se negligenciados pelos líderes políticos.

Durante a década da liderança de Alassane Ouattara, a Costa do Marfim conheceu um crescimento económico recorde, mas os analistas apontam as insuficiências nas políticas sociais e a pobreza persistente no país.

Com um crescimento médio de 7 a 8% ao ano desde 2011, a Costa do Marfim mais do que duplicou o seu Produto Interno Bruto (PIB), de 25,4 mil milhões de dólares (21,5 mil milhões de euros) em 2010 para 58,8 mil milhões (49,7 mil milhões de euros) em 2019, segundo o Banco Mundial.

O crescimento baseia-se nos serviços, particularmente telecomunicações, construção e energia, apoiados por um forte investimento público em infraestruturas, bem como num setor agrícola que continua crucial, especialmente o cacau, cuja produção duplicou numa década para 2,1 milhões de toneladas em 2019-20, confirmando a posição do país como o principal produtor mundial, com 40% do mercado.

O rendimento nacional per capita mais do que duplicou de 1.120 dólares em 2011 para 2.290 dólares em 2019, mas este número esconde enormes desigualdades de rendimentos, com a economia informal a representar cerca de 70% do valor acrescentado e até 90% do emprego e a corrupção a representar ainda um problema.

A taxa de pobreza caiu de 55,4% em 2011 para 39,5% em 2018, de acordo com dados oficiais, mas a população aumentou de 20 para 25 milhões durante o mesmo período, com o número de pessoas pobres a situar-se ainda em cerca de 10 milhões, em comparação com os 11 milhões há dez anos.

Com a crise de covid-19, espera-se que o crescimento da Costa do Marfim desça para apenas 1,8% em 2020, mas o Banco Mundial prevê uma rápida recuperação para 5% em 2021, após o que o crescimento deverá "aproximar-se dos níveis pré-crise nos anos seguintes".

A crise pandémica afetou gravemente as empresas, especialmente as pequenas. Mais de um terço encerrou, temporária ou permanentemente.

Os agregados familiares também foram duramente atingidos, especialmente os mais pobres. Sete em cada 10 agregados familiares sofreram uma queda no rendimento e estão a lutar para fazer face às suas despesas básicas.

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