Antigo gerente do 'Hotel Ruanda' queixa-se no Tribunal da África Oriental
O antigo gerente que inspirou o filme "Hotel Ruanda" sobre o genocídio de 1994, Paul Rusesabagina, apresentou uma queixa no Tribunal de Justiça da África Oriental contra a prisão no seu país, onde é acusado de terrorismo.
© SIMON WOHLFAHRT/AFP via Getty Images
Mundo Ruanda
A informação foi avançada à agência Efe por um porta-voz da família de Rusesabagina, preso em 31 de agosto no Aeroporto Internacional de Kigali, segundo o Governo ruandês.
A família de Paul Rusesabagina e os advogados alegam que ele não foi preso, mas sim "raptado, desaparecido e sujeito a uma extradição irregular do Dubai para o Ruanda".
As autoridades ruandesas sustentam que a sua detenção foi legal, mas não forneceram pormenores do processo.
No processo, apresentado na terça-feira, os advogados de Paul Rusesabagina pedem ao tribunal de Arusha, Tanzânia, que ordene às autoridades ruandesas que o libertem imediatamente e que suspendam permanentemente o processo contra ele no Ruanda.
"Se o Governo ruandês tivesse tido quaisquer acusações fundamentadas ou legítimas contra Paul Rusesabagina, poderia ter seguido os procedimentos estabelecidos para a sua extradição legal dos Estados Unidos (o seu país de residência) para o Ruanda", argumentam os advogados do ex-gerente, no resumo enviado ao tribunal.
"A sua decisão de recorrer ao rapto mostra a fraqueza das acusações contra Rusesabagina. Também faz parte de um padrão antigo de tratamento ilegal de opositores políticos do regime ruandês", segundo o processo judicial.
O tribunal é um tribunal internacional para resolver litígios envolvendo a Comunidade da África Oriental (EAC) e os seus Estados-membros (Burundi, Quénia, Ruanda, Sul do Sudão, Tanzânia e Uganda).
Segundo um dos advogados da Rusesabagina, Philippe Larochelle, o tribunal fornece um mecanismo legal para responsabilizar o Ruanda.
O processo foi arquivado após um tribunal ruandês ter ordenado na sexta-feira passada uma prorrogação de 30 dias da prisão preventiva de Rusesabagina, que é acusado de 13 crimes relacionados com terrorismo.
Em setembro passado, o acusado - um grande crítico do Presidente ruandês, Paul Kagamé - admitiu num outro tribunal que era o fundador de um grupo armado, a Frente Nacional de Libertação (FLN), mas negou qualquer envolvimento nos seus crimes.
A acusação acusa-o, entre outros, de ter entregado dinheiro a esta milícia, a ala armada do Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD), um partido de que era líder.
A FLN tem sido responsável por ataques no Ruanda desde 2018.
Rusesabagina, que era gerente do famoso Hotel Des Milles Collines em Kigali, onde alojou mais de mil tutsis e hutus moderados durante o genocídio, para os salvar dos hutus extremistas, tinha um mandado de captura internacional, acusado de crimes como o assassínio e rapto de civis ruandeses.
O trabalho de Rusesabagina, 66 anos, inspirou o famoso filme "Hotel Ruanda" (2004), baseado na história deste influente homem de negócios hutu, casado com uma mulher tutsi.
No entanto, a associação de vítimas de genocídio de Ibuka afirma que o seu papel como salvador na matança foi exagerado e os críticos dizem que ele salvou tutsis no hotel em troca de dinheiro.
O genocídio começou em 07 de abril de 1994, após o assassínio na véspera dos presidentes do Ruanda, Juvénal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira (ambos hutus), quando o avião em que viajavam foi abatido sobre Kigali.
Os assassínios (dos quais o Governo ruandês acusou os rebeldes tutsi da Frente Patriótica Ruandesa) desencadearam o massacre de cerca de 800.000 tutsis e hutus moderados em pouco mais de três meses, um dos piores genocídios da história recente.
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