A revolução em Louisville "não será transmitida pela televisão"
As milícias armadas de afro-americanos dizem estar nos protestos de Louisville para garantir a segurança dos manifestantes, mas os apoiantes do Partido Democrata apelam à defesa das instituições, enquanto a coluna de som amplifica um clássico de Gil Scott Heron.
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Mundo EUA/Eleições
"A revolução não vai ser transmitida pela televisão e tu não vais poder ficar em casa porque a revolução não vai ser transmitida pela televisão", canta o afro-americano Gil Scott Heron (1949-2011) no tema "The Revolution Will Not Be Televised" gravado em 1971 durante a presidência do republicano Richard Nixon.
No centro administrativo da cidade de Louisville, os piquetes de manifestantes mantêm-se na rua desde o dia 13 de março em protesto pela morte da afro-americana Breonna Taylor, atingida a tiro pela polícia durante uma rusga.
No centro da praça são depositadas flores junto a um retrato da vítima da polícia de Louisville e ao lado está um cartaz com a inscrição "o silêncio dos brancos é violência".
Durante as ações de protesto, as milícias armadas dizem "garantir a segurança" dos manifestantes, que mantêm o protesto a menos de uma semana das eleições presidenciais de terça-feira, que opõem o Presidente e candidato Republicano, Donald Trump, ao candidato democrata, Joe Biden.
"Nós somos membros da 'Guarda dos Justiceiros Unidos'. Somos uma milícia armada do Kentucky e garantimos a segurança aos manifestantes. Não gostamos da forma como os protestos são tratados pela polícia. Eles não se metem connosco", diz Jakobi, 20 anos, munido de uma espingarda de assalto e de uma pistola automática.
"O Estado do Kentucky é conhecido como 'Guntucky' [abreviatura entre arma e Kentucky] porque aqui não é preciso fazer qualquer registo. Basta comprar-se uma arma e colocá-la no coldre. Nós usamos o que queremos. Esta espingarda é uma AK-47", diz o jovem membro da milícia.
Segundo Jakoby, a milícia na cidade de Louisville é composta por cerca de 40 pessoas que estão dispostas a manter-se nas ruas "todos os dias", mesmo depois das eleições da próxima quarta-feira.
O jovem armado diz que não vai votar porque defende que não deve ser governado "pelo sistema" e não acredita em nenhum dos políticos, nem mesmo no New Black Panther Party (Panteras Negras), porque estão demasiado envolvidos com "ideologia".
Por outro lado, outros jovens da mesma idade empenham-se em sensibilizar os eleitores afro-americanos - "desiludidos" com o sistema - a votarem o mais depressa possível, sobretudo através do voto presencial nas diferentes assembleias de voto espalhadas pela cidade.
"Eu acredito no voto e na vitória dos democratas. Já vi muitas coisas acontecer. Muitos dos afro-americanos que vivem aqui ainda não votaram, mas nós estamos cá para dizer que cada voto conta. Não é por perdermos um jogo que vamos parar de jogar. Por isso, estamos aqui para explicar às pessoas que é importante votar", diz à Lusa Coach Pit, acrescentando que já exerceu o direito de voto.
A situação política e social no Kentucky tem estado extremada desde a morte de Breonna Taylor, mas os acontecimentos não retiraram a base de apoio do republicano Donald Trump, que segundo as últimas sondagens locais consegue cerca de 60% dos votos no estado do Kentucky, contra os 39% de Joe Biden, o candidato do Partido Democrata.
A música de Gil Scott Heron "The Revolution Will Not Be Televised" continua a ouvir-se na praça do memorial a Breonna Taylor e não está uma única câmara de televisão frente aos manifestantes.
"A imprensa e as televisões locais não querem saber de nós, estão controlados pelas grandes corporações e só aparecem quando há confrontos. Só querem espetáculo", diz o jovem da milícia armada, que não vai votar e não sabe "nem quer saber" quem foi Gil Scott Heron.
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