Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 14º MÁX 21º

França exige fim de apelos a boicote comercial por parte do Médio Oriente

França exigiu hoje que cessem imediatamente os apelos ao boicote dos seus produtos, que proliferam em países de maioria muçulmana do Médio Oriente devido a declarações e anúncios do presidente francês, Emmanuel Macron, contra o fundamentalismo islâmico.

França exige fim de apelos a boicote comercial por parte do Médio Oriente
Notícias ao Minuto

20:32 - 25/10/20 por Lusa

Mundo Emmanuel Macron

Num comunicado, citado pela agência EFE, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros exigiu que se ponha fim a estes atos de boicote que ocorreram nos últimos dias e que afetam em particular os produtos alimentares, insistindo que estão "a ser instrumentalizados por uma minoria radical".

Um porta-voz do ministério disse que toda a rede diplomática francesa se mobilizou para explicar a posição do país, em particular sobre a questão das "liberdades fundamentais e a rejeição do ódio", mas também para pedir às autoridades locais que se afastem dos apelos ao boicote e de qualquer ataque contra França, que acompanhem as empresas francesas e garantam a segurança dos cidadãos franceses nos seus territórios.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros defende que as posições defendidas por França foram distorcidas "a favor da liberdade de consciência, da liberdade de expressão, da liberdade de religião e da rejeição de qualquer apelo ao ódio".

Em 02 de outubro, o presidente francês apresentou o seu plano de ação contra o "separatismo islâmico", num discurso feito no subúrbio parisiense de Les Mureaux.

"Há nesse islamismo radical [...] uma vontade reivindicada de mostrar uma organização metódica para violar as leis da República e criar uma ordem paralela de outros valores, para desenvolver uma outra organização da sociedade", afirmou então Macron, apontando que o Islão é "uma religião que atravessa atualmente uma crise em todo o mundo".

"Quero que não haja nenhuma confusão nem nenhuma amálgama", mas "é inegável que há um islamismo radical que leva à negação da República", frisou na mesma ocasião, citando o "abandono escolar das crianças", o "desenvolvimento de práticas desportivas e culturais" por ativistas comunitários, o "doutrinamento" ou "a negação de princípios como a igualdade entre homens e mulheres".

Durante a intervenção, Macron anunciou várias medidas para combater o radicalismo, como a obrigação de qualquer associação que concorra a financiamento público de assinar uma declaração de laicidade, um enquadramento reforçado das escolas religiosas privadas e uma limitação do ensino em casa.

O projeto-lei que irá englobar estas e outras medidas será apresentado em Conselho de Ministros, a 09 de dezembro, e visa reforçar a laicidade e consolidar os princípios republicanos.

Entretanto, as declarações de Macron sobre o Islão geraram críticas, protestos e apelos ao boicote aos produtos franceses.

Na Líbia, onde as declarações de Macron foram classificadas de "provocatórias" nas redes sociais, foram convocadas manifestações para hoje no centro de Tripoli.

Segundo a Agência France Presse, pequenos grupos de pessoas já tinham protestado em várias cidades no sábado, agitando cartazes onde se liam frases como "tudo menos o profeta", "o profeta é uma linha vermelha" e viam retratos do presidente francês riscados com cruzes vermelhas.

A diplomacia turca declarou que "tais medidas só irão exacerbar a xenofobia", a imprensa pró-governamental acusou o presidente francês de procurar notoriedade política às custas do islão, e hoje o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, atacou, novamente, Emmanuel Macron.

O presidente turco voltou a pôr em causa a sanidade mental do seu homólogo francês, repetindo as palavras que tinha dito no sábado. "Tudo o que podemos dizer de um chefe de Estado que trata milhões de membros de comunidades religiosas diferentes desta maneira é: 'faça primeiro exames de saúde mental'", tinha afirmado Erdogan no sábado num discurso transmitido na televisão.

Há duas semanas, Erdogan tinha considerado uma provocação as declarações de Macron sobre o "separatismo islamita" e a necessidade de "estruturar o islão" em França.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, criticou as declarações "inaceitáveis" do presidente turco em relação ao seu homólogo francês e apelou a Ancara para "parar esta espiral perigosa de confronto".

"As declarações do Presidente Recep Tayyip Erdogan em relação ao Presidente Emmanuel Macron são inaceitáveis. Apelo à Turquia para parar esta espiral perigosa de confronto", escreveu Borrell na rede social Twitter, no sábado.

Borrell também recordou o Conselho Europeu de início de outubro em Bruxelas, no qual os dirigentes da UE tentaram acalmar as tensões com o Presidente Erdogan.

Nomeadamente comprometeram-se a melhorar a cooperação e a relançar a união aduaneira se a Turquia interrompesse a investigação e perfuração nas águas cipriotas com jazidas de gás.

Embora a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tenha advertido: "se Ancara continuar com suas ações ilegais, usaremos todos os instrumentos à nossa disposição".

"As conclusões do Conselho Europeu contêm uma oferta real para relançar a nossa relação", disse Borell. "Mas é necessária vontade política das autoridades turcas em relação a esta agenda positiva. Caso contrário, a Turquia ficará ainda mais isolada", alertou.

Este contencioso vem juntar-se a uma longa lista de disputas entre Macron e o seu homólogo turco, que incluem desde as tensões no leste do Mediterrâneo ao conflito na Líbia, passado pelos confrontos em Nagorno-Karabakh.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório