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São de África os migrantes que atravessam os oceanos? Relatório contraria

Um relatório internacional hoje divulgado contraria a ideia de que são maioritariamente oriundos de África os migrantes que atravessam os oceanos, revelando que os africanos que pensam em mudar de país optam por permanecer no continente.

São de África os migrantes que atravessam os oceanos? Relatório contraria
Notícias ao Minuto

15:09 - 15/10/20 por Lusa

Mundo Migrantes

O "Relatório sobre a Migração Africana: Mudando a narrativa" foi elaborado pela União Africana (UA) e a Organização Internacional das Migrações (OIM), tendo sido hoje apresentado durante um encontro virtual que juntou vários especialistas ligados à temática.

Tentando perceber "O que está mal na narrativa sobre a migração africana", Maureen Achieng (OIM) e Amira El Fadil (UA) referem que "80% dos africanos que pensam na migração não têm qualquer interesse em deixar o continente", nem tão pouco de se deslocar permanentemente.

"Embora África acolha um quarto da população de refugiados, apenas dois terços são nacionais de cinco dos 54 países do continente", prossegue o relatório, cujos autores alertam para um apelo para "uma nova narrativa" sobre a migração africana.

Esta centra-se, em grande parte, na migração intra-africana, a qual é testemunhada pelas "intermináveis travessias diárias de fronteira pelos comerciantes".

"Ao contrário da impressão que os horrores da migração irregular no Mediterrâneo transmitem, a maioria dos migrantes africanos não estão a atravessar oceanos, mas sim a atravessar fronteiras terrestres".

O documento, indica-se que 94% da migração africana através dos oceanos assume uma forma regular e que na maior parte das migrações globais os migrantes não são africanos.

África representa 14% dos migrantes globais, a Ásia tem um peso de 41% nestes movimentos e a Europa 24%.

O relatório indica ainda que, entre 2000 e 2019, o número de migrantes internacionais em África aumentou de 15,1 milhões para 26,6 milhões, tratando-se do aumento mais acentuado (76%) entre todos principais regiões do mundo.

Como resultado, a percentagem de migrantes internacionais em África em relação ao total global aumentou de 9% em 2000 para 10% em 2019.

Ainda assim, o número total de migrantes internacionais em África permanece "relativamente modesto" em comparação com outras regiões do mundo e à população total do continente.

Em 2019, a Ásia acolheu 31 por cento da população mundial de 272 milhões de migrantes internacionais, seguidos pela Europa (30%), América do Norte (22%), América Latina e Caraíbas (4%) e Oceânia (3%).

Atualmente, lê-se no documento, "os migrantes internacionais representam 2% da população total em África, em comparação com 3,5 por cento para o mundo inteiro. A quota de migrantes internacionais na população total é significativamente mais elevada na Oceânia (21,2%), América do Norte (16%) e Europa (11%), mas inferior tanto na Ásia, como América Latina e Caraíbas (1,8% cada)".

Em 2019, a África Oriental acolheu a maior parte de todos os migrantes internacionais residentes em África (30%), seguido pela África Ocidental (28%), África Austral (17%), África Central (14%) e África do Norte (11%).

Em relação à população total, a África Austral acolheu a maior população migrante (6,7%). Sete países africanos acolheram mais do que um milhão de migrantes internacionais, incluindo a África do Sul (4,2 milhões), Costa do Marfim (2,5 milhões), Uganda (1,7 milhões), Nigéria e Etiópia (1,3 milhões cada), Sudão (1,2 milhões) e Quénia (1 milhão).

Sobre os refugiados, o relatório indica que, no ano passado, África acolheu 7,3 milhões (incluindo os requerentes de asilo) ou 25% da população mundial de refugiados (28,7 milhões).

Mais de metade de todos os refugiados em África foram acolhidos por países da África Oriental (3,8 milhões), com um número significativamente menor de refugiados residentes na África Central e Norte de África (1,4 milhões cada), África Ocidental (383.000) e África Austral (288.000).

Um em cada quatro migrantes internacionais em África é refugiado, em comparação com um em cada 10 migrantes a nível a nível mundial.

Estima-se que 47% de todos os migrantes internacionais em África sejam do sexo feminino, o que é muito semelhante à quota global de mulheres migrantes (48%).

Os autores sublinham que "as narrativas populares da migração em África centram-se, em grande parte, em torno de movimentos irregulares do norte de África para a Europa, frequentemente em termos exagerados e sensacionalistas".

Na realidade, acrescentam, "os dados disponíveis mostram que a maioria dos migrantes africanos se deslocam geralmente dentro do continente e que a migração de países-chave em África para a União Europeia tem sido regular".

Em meados de 2009, mais de metade dos migrantes nascidos em África viviam noutro país africano (52,7%), sendo a outra metade residente na Europa (26,3%), Ásia (11,4%), América do Norte (8,0%) e outras partes do mundo (1,6%).

Na apresentação deste documento, o diretor-geral da OIM, António Vitorino, sublinhou a importância deste relatório que, pela primeira vez, dá uma perspetiva da migração africana a partir de África.

O documento, acrescentou, "corrige ideias erradas que, infelizmente, persistem".

Para António Vitorino, a pandemia do novo coronavírus apresenta-se como um dos maiores desafios para a migração no continente, uma vez que, para mitigar os seus efeitos, teve de recorrer à limitação da liberdade de movimentos.

Por outro lado, acrescentou, a recessão económica que resulta desta pandemia também terá um impacto na migração em África, a qual "poderá pôr em causa dos avanços obtidos".

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