Putin e Lukashenko acordam retirar força policial da fronteira
Os presidentes russo e bielorrusso acordaram hoje retirar da fronteira comum a força policial russa ali colocada com o objetivo de apoiar a vizinha ex-república soviética caso os atuais protestos antigovernamentais se radicalizassem.
© Getty Images
Mundo Bielorrússia
"A Rússia vai retirar a sua reserva de forças de segurança e da Guarda Nacional que estava concentrada perto da fronteira russo-bielorrussa", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, no final do encontro entre os dois líderes, na residência de verão do Presidente russo, Vladimir Putin, em Sochi.
Peskov, que destacou a importância desta decisão, especificou que as referidas unidades regressarão ao seu posto habitual, em território russo.
No final de agosto, Putin anunciou a criação de uma força policial, a pedido do Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, com planos de intervenção que foram condenados pelo Ocidente.
A Rússia nunca criticou o uso desproporcional de força pela polícia de choque bielorrussa contra os manifestantes e denunciou as tentativas de alguns países de interferir nos acontecimentos em Minsk.
O Presidente bielorrusso -- no poder desde 1994 nesta ex-república soviética e eleito para um sexto mandato consecutivo com 80% dos votos expressos num escrutínio que a oposição considera fraudulento -- criticou, durante a campanha eleitoral, as tentativas russas de desestabilizar a situação no seu país, mas assegurou hoje que aprendeu a "lição".
A reunião de hoje decorreu um dia após uma nova marcha pacífica contra Lukashenko em Minsk, proibida pelas autoridades e onde foram detidos mais de 770 manifestantes.
A líder da oposição bielorrussa no exílio, Svetlana Tijanovskaya, avisou hoje Putin que os acordos que subscreveu com Lukashenko não terão qualquer valor legal.
"Quero recordar a Vladimir Putin que tudo o que acordarem na reunião de Sochi não terá valor. Todos os acordos assinados pelo ilegítimo Lukashenko serão revistos pelas novas autoridades, porque o povo lhe retirou a confiança nestas eleições", sublinhou Tijanovskaya numa mensagem vídeo.
"Lamento muito que tenhas decidido dialogar com um usurpador e não com o povo da Bielorrússia", acrescentou.
A oposição considera a proposta de reforma constitucional proposta pelas autoridades de Minsk como uma tentativa de ganhar tempo e esvaziar os protestos nas ruas.
O apoio de Putin ao projeto de reformas internas, apesar das fricções no passado entre Moscovo e Minsk, é ainda encarado pelos receios da Rússia em assistir a uma saída precipitada de Lukashenko devido às pressões populares, também incentivadas pelas sanções que Estados Unidos e União Europeia estão dispostas a aplicar, numa situação que também poderia encorajar os críticos do líder do Kremlin no seu país.
Pavel Latushko, antigo ministro da Cultura e embaixador em França, forçado a abandonar a Bielorrússia após aderir ao Conselho de Coordenação da oposição, avisou que, apesar de o Kremlin apoiar de momento Lukashenko, pode mais tarde fomentar a sua partida.
"Lukashenko desacredita-se a si próprio dia após dia, e quando perder completamente a sua autoridade, para Moscovo será mais fácil substituí-lo", disse em declarações à agência noticiosa Associated Press.
"O Kremlin já tomou a decisão e está a mover-se para completar um cuidadoso plano para que Lukashenko seja removido", acrescentou.
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