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Argentinos protestam contra Governo e quarentena

Milhares de argentinos protestaram nas principais cidades do país contra a reforma judiciária, vista como estratégia para a impunidade da corrupção, contra o avanço do Governo sobre as liberdades e contra a quarentena, em vigor há 177 dias.

Argentinos protestam contra Governo e quarentena
Notícias ao Minuto

06:26 - 14/09/20 por Lusa

Mundo Argentina

As manifestações de domingo não tiveram bandeiras políticas e foram convocadas através das redes sociais, apesar das restrições para circular impostas pela mais prolongada e rígida quarentena do mundo, prevista para durar até 20 de setembro.

Nas principais praças e avenidas do país, bandeiras argentinas eram agitadas, enquanto o som metálico de panelas em protesto se misturava às buzinas dos automóveis em caravanas.

"Venho aqui para protestar contra o avanço do Governo sobre as instituições. O Governo pretende dominar a Justiça e submeter o Parlamento para acumular poder enquanto ficamos presos em casa. Se sairmos para protestar, acusam-nos de irresponsáveis. Pois vamos sair para defender a República, sempre", disse à Lusa Martín Cataneo, de 38 anos, em frente à residência presidencial de Olivos, um dos pontos de protesto.

"Usam a quarentena para controlo social através do medo. Querem impor uma reforma judiciária, promovem a ocupação de terras, libertam presos perigosos e destroem a economia enquanto nos mantém nesta espécie de estado de sítio encoberto", acrescentou Marta Rodríguez, de 52.

Nos cartazes, empunhados através das janelas dos automóveis, podia ler-se: "Em defesa da República", "Pela Constituição e pela Liberdade", "Contra a impunidade e a corrupção", "Não à libertação de presos".

"Querem que sejamos todos dependentes do Estado enquanto os comércios quebram, as pessoas perdem empregos, a pobreza aumenta", disse Viviana da janela do seu automóvel, ao mesmo tempo que pressionava a buzina a acompanhar o coro dos manifestantes: "Não à impunidade".

Para o sociólogo Marcos Novaro, uma "crescente quantidade de conflitos", como ocupação de terras, insegurança pública e paralisação dos processos judiciais contra a corrupção, "dá um sinal de impunidade que leva as pessoas espontaneamente às ruas".

Novaro apontou para o risco do cansaço popular e salientou que o Governo devia prestar atenção porque sucessivas marchas durante uma pandemia, uma forte recessão e falta de segurança "podem ter um efeito explosivo para a governabilidade".

O principal alvo do protesto é a reforma judiciária, que juristas classificaram de inconstitucional e analistas políticos denunciaram ser feita à medida para salvar a vice-Presidente argentina, Cristina Kirchner, de processos por corrupção.

A reforma judiciária está a ser debatida no parlamento, numa altura em que o confinamento deverá levar a economia do país a contrair 12,5% em 2020, de acordo com sondagem do Banco Central entre economistas.

O nível de violência aumentou no país, com observadores a destacarem que mais de 4.500 presos perigosos foram libertados para evitar contágios de covid-19. Na área metropolitana de Buenos Aires, é registado um roubo a cada três minutos.

Ao mesmo tempo, o Governo mantém silêncio perante a crescente ocupação de terras privadas por parte de grupos organizados.

Após o regresso de Cristina Kirchner ao poder, agora como vice-Presidente, 71 dos 74 detidos, acusados ou condenados por corrupção durante os 12 anos de governos Kirchner, Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015), saíram da prisão.

A quarentena argentina tem perdido o amplo apoio popular inicial e é agora rejeitada por 53,4% dos argentinos, de acordo com uma sondagem da consultora Giacobbe.

Ao mesmo tempo também a popularidade do Presidente Alberto Fernández, que em março registava uma taxa de aprovação popular de 67,8% da aprovação popular, desceu para 37,1% agora. A imagem negativa superou a positiva, passando a 48,5%.

"O Presidente Alberto Fernández perdeu tudo aquilo que conquistou durante o começo da quarentena. Voltou ao baixo patamar que tinha ao assumir o cargo em dezembro", explica à Lusa o analista político Jorge Giacobbe.

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