"Estima-se que mais de 55% da população do país está agora presa na pobreza e a lutar pelo acesso aos bens de primeira necessidade", frisou em maio a Comissão Económica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental (ESCWA), em comparação com 28% em 2019.
De acordo com a ESCWA, 23% da população vive em extrema pobreza, um aumento face aos 8% do ano passado.
Em 04 de agosto uma enorme explosão no porto de Beirute matou pelo menos 181 pessoas, feriu mais de 6.500 e devastou grande parte da capital.
As autoridades já não comunicam o número de pessoas desaparecidas.
Esta tragédia vem juntar-se às dificuldades económicas do país, acentuadas pela pandemia provocada pelo novo coronavírus. Dezenas de milhares de libaneses perderam os seus empregos ou parte dos seus rendimentos.
O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários afirmou hoje, em comunicado, que "mais de 70.000 empregados perderam os seus empregos desde a explosão, com efeitos diretos em 12.000 lares".
A classe média, que representava 57% da população em 2019, não será mais de 40% em 2020, de acordo com a ESCWA.
"O verdadeiro desafio para o Líbano é que este grupo [a classe média], que representa a maior parte do capital humano do país, pode querer fugir da situação económica incerta e procurar emigrar", acrescentou a agência da ONU.
Nos últimos meses, cada vez mais libaneses da classe média têm tentado emigrar, fortemente afetados pela vertiginosa depreciação da libra libanesa, pela inflação galopante, pelas restrições draconianas à retirada do dólar e pela deterioração dos serviços públicos.
Num país onde a redistribuição da riqueza está entre as mais desiguais do mundo, os libaneses que são considerados os mais abastados representavam 15% da população em 2019. Atualmente, refere a ESCWA, constituem apenas 5% da população.
Segundo os últimos números das autoridades libanesas, 45% da população vive abaixo do limiar da pobreza.
Na terça-feira foi decretado o reconfinamento durante duas semanas, a partir de sexta-feira, devido ao número recorde de casos de covid-19.
A última avaliação feita hoje pelas autoridades libanesas indica 10.347 casos desde o início do surto, incluindo 109 mortes.