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"Juntos, podem redimir a alma da nação". A última carta de John Lewis

O ativista dos direitos cívicos norte-americano morreu aos 80 anos, devido a um cancro no pâncreas. Escreveu uma carta antes de morrer que foi publicada hoje, no dia do seu funeral.

"Juntos, podem redimir a alma da nação". A última carta de John Lewis
Notícias ao Minuto

23:39 - 30/07/20 por Sara Gouveia

Mundo John Lewis

John Lewis, congressista norte-americano e histórico ativista dos direitos cívicos, morreu a 17 de julho de 2020, aos 80 anos, devido a um cancro no pâncreas. Mas o seu trabalho de uma vida parece não ter terminado e mesmo depois de morrer deixou uma mensagem e um apelo a todos os americanos.

"Juntos, podem redimir a alma da nossa nação", é o título de uma carta escrita por Lewis pouco antes de morrer e publicada no dia do seu funeral, pelo New York Times, a seu pedido.

"Apesar de já não estar, peço-vos que respondam ao apelo mais alto do vosso coração e que defendam aquilo em que realmente acreditam", começa por escrever. Neste ensaio, dirige-se diretamente aos norte-americanos e diz que, apesar de o seu tempo na Terra já ter terminado, quer que saibam que nos seus últimos dias na terra o "inspiraram". 

"Encheram-me de esperança quanto ao próximo capítulo da história da América quando usaram o vosso poder para fazer a diferença na nossa sociedade. Milhões de pessoas simplesmente motivados pela compaixão humana conseguiram por de parte o que nos separa. Pelo país e pelo mundo puseram de lado raça, classe, idade, língua e nacionalidade para exigir respeito pela dignidade humana", continua, referindo-se ao movimento Black Lives Matter, que se globalizou nos dias e semanas que antecederam a sua morte. 

Mais à frente, recorda ter tido o seu próprio George Floyd ou Rayshard Brooks, Sandra Bland ou Breonna Taylor, que motivaram os protestos massivos nos Estados Unidos. Chamava-se Emmett Till e era um adolescente de 14 anos que, em 1955, foi morto depois de ter sido acusado de namoriscar uma mulher branca. 

"Só tinha 15 anos nessa altura. Nunca me hei de esquecer do momento em que se tornou claro que poderia facilmente ter sido eu. Nesses dias, o medo constrangeu-nos como se de uma prisão imaginária se tratasse, e os pensamentos perturbadores de uma potencial brutalidade cometida sem nenhuma razão compreensível eram as grades", explicou.

Lewis escreveu também sobre a primeira vez em que ouviu Martin Luther King Jr. a falar na rádio sobre responder e ser uma voz ativa contra o racismo na América e pediu à geração atual para continuar a tentar provocar a mudança: "Quando veem que algo não está bem, têm de dizer alguma coisa. Têm de fazer alguma coisa. A Democracia não é estanque. É um ato, e cada geração tem de fazer a sua parte".

"Quando os historiadores pegarem nas canetas para escreverem a história do século XXI, deixem que escrevam que foi a vossa geração a acabar com o peso do ódio e que a paz finalmente triunfou sobre a violência, agressão e guerra. Por isso digo-vos, andem com o vento, irmãos e irmãs, e deixem o espírito da paz e o poder do amor eterno ser o vosso guia", rematou.

O ativista era o mais novo e o último sobrevivente do movimento de defesa dos direitos cívicos, liderado pelo reverendo Martin Luther King Jr.

O funeral de John Lewis decorreu hoje, em Atlanta, e contou com a presença dos antigos presidentes Barack Obama, Bill Clinton e George W. Bush.

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