Eleições: Académicos contrariam Trump e defendem voto por correspondência
Os Estados Unidos devem eliminar diferenças nas leis sobre a votação e reforçar a possibilidade do voto por correspondência, defenderam hoje académicos norte-americanos, quando faltam 95 dias para as eleições presidenciais de novembro.
© Reuters
Mundo EUA
Numa altura em que a pandemia de covid-19 põe em causa a segurança e saúde dos eleitores, o Presidente dos EUA, Donald Trump, põe em causa a veracidade dos votos por correspondência, escrevendo hoje na rede social Twitter que "com o voto por correspondência [...] 2020 terá as eleições mais inexatas e fraudulentas da história".
Do outro lado estão professores, investigadores e especialistas norte-americanos, que hoje reiteraram, numa conferência virtual a que a Lusa assistiu, que o "voto por correspondência é altamente seguro" e deve ser disponibilizado para os eleitores em todo o país poderem participar nas eleições presidenciais, que acontecem a 03 de novembro.
"Os eleitores norte-americanos rejeitam escolher entre votar ou ficar em segurança", disse Charles Stewart, investigador de sistemas políticos e professor de Ciências Políticas no Massachussetts Institute of Technology (MIT).
"Os americanos querem votar e ficar em segurança" e por isso estão a informar-se sobre os direitos de voto por correspondência, acrescentou o professor, coautor de estudos para o projeto 'online' "Healthy Elections" (Eleições Saudáveis), das prestigiadas instituições Universidade de Stanford e do MIT.
As estimativas dos estudos realizados pelo projeto "Healthy Elections" demonstram que 50 a 70% dos eleitores nos EUA querem votar por correspondência em novembro, o que reforça também a "esperança" para Charles Stewart de que, apesar da pandemia, "as pessoas querem sair para votar".
Ainda assim, existem desafios ao voto por correspondência na grande maioria dos Estados: 17 requerem que os eleitores apresentem justificação para admitirem votos por correspondência e outros 24 exigem o registo prévio dos eleitores que votam à distância, segundo aquele projeto.
Charles Stewart avisou que votar por correio tem de ser uma decisão tomada três semanas antes das eleições, porque o processamento dos registos pode levar até cinco dias.
"Neste país, convencer as pessoas a votar já é difícil o suficiente, mas, mais do que isso, o registo prévio para poder votar é a maior barreira", disse Don Waisanen, professor de Comunicação na Faculdade de Assuntos Públicos e Internacionais do Baruch College.
"Em 2016, 100 milhões de cidadãos não votaram", o que representa 42% da população que tinha o direito de votar nos EUA, continuou Waisanen.
Para isso contribuíram as restrições aos documentos que têm de ser recolhidos e apresentados antes do registo de eleitor, como certidão de nascimento, juntamente com prova de residência, carta de condução e outros documentos.
"No Texas, pode registar-se [como eleitor] com uma licença de uso e porte de arma, mas não com um cartão de estudante", exemplificou o consultor e professor de comunicação.
"Torna-se claro que as políticas são escritas de acordo com o interesse dos decisores políticos de cada Estado", criticou Waisanen, acrescentando que nos EUA "não são os cidadãos que elegem os políticos, mas sim os políticos que escolhem os eleitores".
Nicole Gordon, diretora do programa de mestrados em Administração Pública do Baruch College, criticou a "vasta disparidade entre jurisdições", as "inconsistências" e a "disfunção" no aparato eleitoral dos EUA, em que o "Governo federal tem pouco a dizer", porque é no Congresso de cada Estado que se fazem leis relativas às eleições.
Dentro de cada um dos 50 Estados, com jurisdições diferentes, existem os condados, que são responsáveis por organizar o trabalho prático. Existem cerca de três mil condados no país, acrescentou Nicole Gordon.
Contra as adversidades discutidas, os especialistas pediram que todos os Estados adotem regras iguais para as eleições para se eliminar a "opressão dos eleitores".
Um outro apelo dos estudiosos é que os cidadãos falem com vizinhos, amigos e familiares sobre a importância de votar e integrem grupos de direitos dos eleitores.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, evocou hoje, pela primeira vez, a possibilidade de adiar as eleições presidenciais de novembro, alegando a existência de riscos de fraude ligadas à pandemia de covid-19.
"Com o voto por correspondência [...] 2020 terá as eleições mais inexatas e fraudulentas da história", escreveu Trump na rede social Twitter.
"Será uma verdadeira vergonha para os Estados Unidos. Adiar as eleições até que as pessoas possam votar normalmente, com toda a segurança?", acrescentou.
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