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Adiamento das eleições na Bolívia beneficia Presidente Jeanine Áñez

A Justiça boliviana adiou para outubro as eleições gerais no país, devido ao agravamento da pandemia de covid-19, medida que beneficia a Presidente interina, Jeanine Áñez, consideram analistas consultados pela Lusa.

Adiamento das eleições na Bolívia beneficia Presidente Jeanine Áñez
Notícias ao Minuto

16:12 - 24/07/20 por Lusa

Mundo Covid-19

O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia anunciou quinta-feira o adiamento das eleições de 6 de setembro para 18 de outubro, um ano depois da renúncia do então Presidente, Evo Morales. Uma eventual segunda volta aconteceria em 29 de novembro.

A Presidente interina, Jeanine Áñez, candidata a continuar no cargo, tem agora mais 42 dias para superar a crise na gestão da pandemia e tentar uma reviravolta eleitoral.

"O Governo desejava muito um adiamento das eleições porque está numa situação declinante em termos de votos. Adiar as eleições pode dar um pouco de oxigénio ao executivo para recuperar popularidade", explica à Lusa o analista político boliviano, Raúl Peñaranda.

Até maio, Jeanine Áñez empatava tecnicamente com o ex-presidente Carlos Mesa na disputa sobre qual dos dois lideraria o campo opositor contra o candidato de Evo Morales, o seu ex-ministro da Economia, Luis Arce.

O período inicial do combate ao coronavírus beneficiara a popularidade da presidente que aparecia como uma líder protetora. No entanto, a ineficaz capacidade de resposta à propagação do vírus somada aos efeitos da quarentena na economia revelaram uma gestão em crise.

"A lua-de-mel de Jeanine Áñez, iniciada em novembro, terminou em maio com o avanço da pandemia. Na gestão dessa crise, a presidente não tinha mais possibilidades além de algum retoque superficial até setembro", avalia em declarações à Lusa o cientista político boliviano Diego Ayo, da Universidade Mayor de San Andrés em La Paz.

"Agora, com mais tempo, o governo pode distribuir alguma ajuda financeira ou ensaiar duas ou três manobras políticas e ganhar apoio popular na reta final das eleições", indica.

Com a data de 6 de setembro, os eleitores iriam às urnas em pleno auge da curva de contágio, prevista para o período entre 20 de agosto e 10 de setembro. Com a nova data de 18 de outubro, as eleições acontecerão, espera-se na descida da curva. Isso permitiria ao Governo exibir vitoria na luta contra o coronavírus.

O Movimento Ao Socialismo (MAS), partido de Morales, discorda do adiamento. O ex-presidente, refugiado na Argentina, acusa o governo de "ganhar tempo" e vê na manobra uma "perseguição contra o seu candidato".

"A alteração da data é contestada por Evo Morales, mas o seu partido está isolado nesse discurso e em defesa das eleições sem se importar com a pandemia", aponta Diego Ayo.

"Há uma sensação de crise sanitária muito grande no país. A mudança de data era inevitável porque havia uma pressão de muitos setores políticos e cidadãos", descreve Raúl Peñaranda.

Com o adiamento, a Bolívia prolonga a sua incerteza política e os mandatos que originalmente venceram no dia 22 de janeiro sem que o país tivesse eleitos para substituir os atuais.

Esta é a terceira vez que as eleições na Bolívia são adiadas. A data de 3 de maio passou a 2 de agosto e depois a 6 de setembro. Foram decisões controladas pelo Parlamento, onde o partido de Evo Morales detém dois terços dos votos. A nova modificação foi decisão exclusiva do TSE.

O TSE estuda também uma acusação de alguns partidos contra o MAS por difundir ilegalmente sondagens, algo que pode eliminar o partido da disputa.

Com 11,5 milhões de habitantes, a Bolívia tem 2.328 falecidos, sendo, proporcionalmente, um dos países mais afetados do mundo.

Duas recentes sondagens mostram uma disputa entre o candidato de esquerda de Evo Morales, o ex-ministro da Economia, Luis Arce, e o ex-presidente de centro-esquerda, Carlos Mesa. A atual Presidente de direita, Jeanine Áñez, vem em declínio.

Na sondagem Mercados e Mostras, Luis Arce cai de 27% a 24% enquanto Carlos Mesa sobe de 19% a 20% e Jeanine Áñez perde dois pontos, ficando agora com 16%. Os indecisos aumentaram de 9% a 20%, deixando a disputa totalmente aberta.

A nova data coincide com as frustradas eleições de um ano atrás. Depois de constatada fraude nas eleições de 20 de outubro pela Organização dos Estados Americanos, auditora do processo eleitoral, Evo Morales perdeu o apoio dos sindicatos, da Igreja e das Forças Armadas, e renunciou ao cargo, pondo fim a um quarto mandato, depois de 14 anos de Governo.

Morales abandonou o país em 12 de novembro no meio a uma convulsão social, resultante de três semanas de protestos e greves. Passou um mês no México e, com a mudança política na Argentina, refugiou-se em Buenos Aires, de onde lidera a campanha do seu partido.

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