Meteorologia

  • 19 ABRIL 2024
Tempo
18º
MIN 15º MÁX 21º

Russo que investiga época de Estaline escapa a pesada pena de prisão

O ativista russo Iuri Dmitriev, que investigou a repressão no período de Estaline, foi hoje condenado a três anos e meio de prisão por abuso sexual, num processo que setores da oposição denunciaram como uma fabricação política.

Russo que investiga época de Estaline escapa a pesada pena de prisão
Notícias ao Minuto

21:29 - 22/07/20 por Lusa

Mundo Ativista

Esta condenação, considerada pelos apoiantes de Dmitriev como uma quase vitória, e após o procurador ter pedido 15 anos de prisão, foi acolhida com aplausos no tribunal de Petrozavodsk (noroeste), onde o historiador foi julgado.

Devido ao tempo que já cumpriu em prisão preventiva, deverá ser libertado em novembro após o final de uma pena relativamente ligeira num caso que tem sido relacionado com o seu trabalho de recuperação da memória histórica.

"Iuri [Dmitriev] reagiu de forma muito positiva a este veredito. É uma pessoa muito resistente, sabe que não é culpado", declarou o seu advogado Viktor Anufriev na sala de audiências, ao congratular-se com um resultado "positivo" e assinalando que o procurador não pretende recorrer da decisão.

O ativista e etnógrafo autodidata, de 64 anos, passou cerca de 30 anos a elaborar a lista de 40.000 nomes de pessoas deportadas ou executadas durante a época de Estaline na Carélia, uma região russa junto à fronteira com a Finlândia.

Responsável pela secção local da organização não-governamental Memorial, especializada na documentação dos crimes estalinistas, foi detido pela primeira vez em 2016, acusado de ter registado imagens "pornográficas" da sua filha adotiva.

Em abril de 2018 foi absolvido, um caso muito raro no sistema judicial russo. Mas dois meses depois o Supremo tribunal da Carélia reverteu esta decisão e ordenou um segundo processo à porta fechada, desta vez por "violências de caráter sexual sobre uma menor".

Para os seus apoiantes, este caso constituiu uma tentativa das autoridades de intimidar e silenciar Dmitriev, cujas investigações colidem com o discurso oficial russo de reabilitação da época soviética, em particular o longo consulado de Estaline que se prolongou por cerca de 30 anos até à sua morte em 1953.

"Este veredicto tem duas facetas, a primeira é que Iuri vai ser libertado em breve. Mas este veredito, apesar de ligeiro, não é justo", reagiu Ian Ratchinski, um dos dirigentes da Memorial, ao considerar que o tribunal permitiu que as autoridades russas salvassem a face.

Anatoli Razumov, um historiador que se deslocou Petrozavodsk com dezenas de outros defensores dos direitos humanos, considerou por sua vez que "a sociedade civil e o apoio a Dmitriev" permitiram evitar uma pena demasiado pesada.

Nos últimos anos, Iuri Dmitriev esteve na origem da descoberta de uma das maiores valas comuns da Carélia, em Sandarmokh, onde foram detetados os restos de 7.000 a 9.000 pessoas executadas durante o período estalinista.

Em resposta, uma organização apoiada pelo poder também promoveu escavações em Sandarmokh para demonstrar que uma parte dos corpos descobertos por Dmitriev eram de soldados soviéticos executados pelos finlandeses entre 1941 e 1944.

Numerosas personalidades russas e estrangeiras denunciaram as perseguições injustificadas sobre Iuri Dmitriev, apelando à mobilização contra a "falsificação" histórica.

Numa declaração antes da sentença, Iuri Dmitriev justificou as suas investigações, na sua perspetiva extremamente importantes para a memória russa.

"O meu caminho, o meu percurso consiste em retirar do esquecimento estas pessoas que desapareceram por responsabilidade de um governo da nossa pátria, injustamente acusadas, executadas, enterradas em florestas como animais", declarou, segundo o texto publicado no portal de informação digital Medusa.

"A força de um Estado não reside nos seus tanques e nas suas armas, nas suas bombas nucleares (...). Não, a força de um Estado reside no seu povo", acrescentou.

Os apoiantes de Dmitriev também asseguraram que o seu trabalho incomodou as autoridades, incluindo supostamente alguns influentes membros dos serviços de informações do FSB, sucessor do KGB.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório