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Presidente do Kosovo em Haia para depor perante justiça internacional

O Presidente do Kosovo deslocou-se hoje a Haia para enfrentar os procuradores que o indiciaram por crimes de guerra durante e após a guerra contra a Sérvia, uma visita que definiu como o "preço da liberdade" para o seu país.

Presidente do Kosovo em Haia para depor perante justiça internacional
Notícias ao Minuto

14:09 - 13/07/20 por Lusa

Mundo Kosovo

"Hoje estou aqui para respeitar aquilo por que sonhei e combati. Um Kosovo livre e independente baseado nos direitos individuais, numa sociedade multiétnica e no Estado de Direito", disse Thaçi no exterior do edifício do tribunal, que investiga os presumíveis crimes de guerra cometido pelo Exército de Libertação do Kosovo (UÇK), no decurso e após a "guerra da independência" contra a Sérvia (1998-1999).

"Estou pronto a enfrentar o novo desafio e a vencer pelo meu filho, pela minha família, pelo meu povo, pelo meu país", acrescentou Thaçi, que no decurso do conflito ocupava o cargo de líder político do UÇK.

Em entrevista à televisão kosovar emitida no domingo, Hashim Thaçi disse que de deslocava a Haia para provar perante os procuradores que investigam os alegados crimes de guerra que não desrespeitou as regras internacionais, apesar de estar indiciado por diversos crimes, incluído o envolvimento em cerca de 100 assassinatos durante e após o conflito.

"Ninguém pode reescrever a história", disse hoje.

"Este é o preço da liberdade. Acredito na paz, verdade, reconciliação e justiça. Acredito no diálogo e nas boas relações com todas as nações", assegurou.

Thaçi falou aos jornalistas mas não respondeu a qualquer questão antes de entrar no edifício para discutir com os procuradores o indiciamento que lhe foi dirigido em abril.

Um juiz está a estudar o processo e ainda não decidiu se confirma ou rejeita as acusações.

O atual líder do Kosovo, e ainda o antigo presidente do parlamento Kadri Veseli, também indiciado, negaram responsabilidade pelos crimes de guerra.

Ambos são considerados de responsabilidade criminal pela morte de cerca de 100 sérvios, ciganos e opositores políticos albaneses, e ainda por desaparecimentos forçados, perseguições e tortura.

No Kosovo, muitos consideram que o Tribunal Especial, estabelecido através de uma emenda na Constituição do Kosovo, é uma instituição injusta pelo facto de as forças sérvias terem também efetuado massacres durante um conflito que terá provocado cerca de 10.000 mortos, na maioria separatistas albaneses. Mais de 1.600 pessoas permanecem desaparecidas.

A intervenção do exército da Sérvia no Kosovo em 1998 para combater os pró-independentistas albaneses motivou o envolvimento da NATO através de intensos ataques aéreos contra a Sérvia -- à revelia de qualquer decisão da ONU -- entre março e junho de 1999 quando foi assinado um acordo de tréguas em Kumanovo, cidade da Macedónia do Norte.

Na sequência desde acordo, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 1244 que confirmava a integridade territorial da Sérvia.

Ao basear-se nesta decisão, Belgrado recusou reconhecer a independência da sua antiga província, declarada de forma unilateral em 2008 e de imediato legitimada por diversos países ocidentais, com destaque para os Estados Unidos.

Altos responsáveis militares e da polícia sérvios foram, entretanto, julgados e condenados pela justiça internacional por crimes de guerra no decurso do conflito.

O tribunal que investiga os alegados crimes de guerra do UÇK teve origem num inquérito internacional que decorreu após um relatório do Conselho da Europa que questionou as atividades de antigos comandantes da formação armada separatista, incluindo Thaçi.

O ex-primeiro-ministro kosovar Ramush Haradinaj demitiu-se em julho de 2019, após ser convocado pelo tribunal especial na qualidade de suspeito.

Kadri Veseli, também ex-responsável dos serviços de informações do UÇK, anunciou em novembro passado ter igualmente recebido uma convocatória do tribunal.

Um relatório do Conselho da Europa evocou a morte ou desaparecimento de 500 pessoas, incluindo 400 sérvios, após a retirada das forças sérvias em junho de 1999, e quando o UÇK garantia o controlo "quase exclusivo" da situação no terreno.

O relatório refere-se designadamente a execuções sumárias, sequestros e tráfico de órgãos humanos retirados das vítimas.

O Kosovo, cerca de 1,8 milhões de habitantes e ex-província sérvia com larga maioria de população albanesa, autoproclamou a independência em 17 de fevereiro de 2008, reconhecida de imediato pelos Estados Unidos e Reino Unido e, progressivamente, por 22 dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE).

A Sérvia recusa a secessão unilateral da sua antiga província do sul, que também não foi reconhecida pela Rússia, China, Índia ou África do Sul.

A visita de Thaçi a Haia ocorre um dia após a UE ter elogiado os líderes da Sérvia e do Kosovo pelo recomeço das conversações sobre a normalização das relações, interrompidas desde novembro de 2018, e que preveem um encontro presencial em Bruxelas na quinta-feira.

O Presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, e o primeiro-ministro do Kosovo, Avdullah Hoti, reuniram-se no domingo por videoconferência, mediada pelo chefe da diplomacia europeia Josep Borrell e ainda com a participação do enviado especial da União, o eslovaco Miroslav Lajcak.

"Concordámos nos principais elementos do processo. Também concordámos na agenda para o nosso próximo encontro que terá lugar em Bruxelas, na próxima quinta-feira, e que será presencial. Quero agradecer aos nossos parceiros pelo seu construtivo empenhamento", disse Lajcak no final do encontro.

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