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Macron vira-se para a direita populista para ganhar as eleições de 2022

As escolhas do presidente francês, Emmanuel Macron, na remodelação do Governo não recaíram sobre figuras da esquerda ou ecologistas, mas sim numa "direita populista" fiel a Nicolas Sarkozy tendo em vista as eleições de 2022.

Macron vira-se para a direita populista para ganhar as eleições de 2022
Notícias ao Minuto

11:06 - 11/07/20 por Lusa

Mundo Emmanuel Macron

"A direita de Édouard Philippe [anterior primeiro-ministro] era fiel a Alain Juppé. Uma direita limpa, professoral, um pouco quadrada e de centro. Agora, estamos numa direita populista. Uma direita de Nicolas Sarkozy, com Jean Castex, que pode ameaçar a direita clássica e também a extrema-direita. Emmanuel Macron posiciona-se definitivamente à direita", afirmou à Lusa Virginie Martin, professora da Kedge Business School.

Para esta politóloga francesa, a escolha do Presidente tanto no que diz respeito ao novo primeiro-ministro, Jean Castex, como aos membros do seu Governo vem da necessidade não só de "ignorar" os maus resultados nas municipais, onde a esquerda saiu vencedora em grandes cidades, mas especialmente de um cálculo político para 2022.

"Macron pensa: este país está estruturalmente à direita, quem vota são as pessoas de direita, com mais de 65 anos e que estão bem na vida. Logo, para ganhar, é preciso agradar a esse eleitorado. E é um bom cálculo", enalteceu a investigadora.

Tendo começado como um fiel de Hollande, no centro-esquerda, Emmanuel Macron foi progressivamente aproximando-se da direita desde a sua chegada ao poder em 2017.

"Aos poucos, ele absorve todos os partidos", referiu a politóloga, que descreve o Presidente não como um homem político, mas como "um estratega eleitoral".

Na linha da frente desta nova fase do mandato estão dois ministros muito contestados: Gérald Darmanin, com a pasta da Administração Interna, e Éric Dupond-Moretti, na Justiça.

"Se as coisas fossem normais, eles não seriam ministros. Mas neste momento em que vivemos, quem ganha pode fazer o que quiser", assegurou Martin.

A escolha destes dois ministros significa para esta politóloga a "trumpização" da vida política francesa. 

Darmanin chega ao Governo com um processo por violação ainda aberto, depois de uma primeira absolvição, e Dupond-Moretti, advogado, com muitas críticas feitas a juízes e magistrados com quem agora terá de trabalhar, assim como declarações polémicas sobre as mulheres.

"A regra, até agora, era que a mínima desconfiança sobre um ministro levava à sua demissão. A Alta Autoridade para a Transparência da Vida Pública olha muito para os impostos ou os conflitos de interesse, mas no que diz respeito a acusações de violação ou propósitos machistas, parece não haver problema", comentou.

Se Macron ocupa agora o espaço à direita, ainda há tempo, até maio de 2022, de surgirem outros candidatos para lhe fazer frente.

"À esquerda, por enquanto, não há ninguém. Mas ainda há tempo, até porque não convém na nossa era ter um candidato exposto durante muito tempo. Parece-me que há personalidades mais ou menos conhecidas que começam a emergir", considerou a professora universitária.

Entre elas, à esquerda, estão Segolene Royale, ex-candidata presidencial do PS, Martine Aubry, autarca socialista de Lille que acabou de ser reeleita, e Arnaud Montebourg, antigo ministro da Economia. 

Outras figuras como François Baroin, antigo ministro e atual presidente dos autarcas franceses, ou Xavier Bertrand, antigo ministro e presidente do Conselho Regional dos Hauts-de-France, também se posicionam à direita.

Cabe agora ao Presidente e ao seu novo Governo mostrar obra feita até 2022, algo que se mostra difícil num contexto de crise e reformas inacabadas.

"Macron tem de ir até ao fim de alguma coisa. Na Educação, o ministro é bom, mas não acontece nada. Na Saúde, está a ser negociada uma reforma muito importante que eu espero que não seja só de financiamento. Quanto à reforma das pensões, eu acho que não vai acontecer nada, já que nem os próprios patrões querem voltar a falar nisso", concluiu Virginie Martin.

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