França suspende "temporariamente" envolvimento na operação naval da NATO
A França vai suspender o seu envolvimento na operação naval da NATO junto à costa líbia após um incidente com um navio turco, num contexto de crescentes tensões na aliança militar entre os dois países devido ao conflito líbio.
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Mundo Líbia
O ministério da Defesa francês disse hoje que a França enviou na terça-feira uma carta à NATO anunciando que vai suspender "temporariamente" a sua participação na operação "Sea Guardian".
Um responsável do ministério disse que a França pretende que os aliados da NATO "reafirmem solenemente o seu compromisso" no embargo às armas com destino à Líbia. A França acusou a Turquia de repetidas violações no embargo às armas decretado pela ONU em torno do conflito na Líbia, e considerou que o Governo de Ancara constitui um obstáculo para a concretização de um cessar-fogo no país do norte de África.
A França também apelou para a concretização de um mecanismo de crise destinado a prevenir a repetição do incidente registado no início de junho entre navios de guerra turcos e franceses no Mediterrâneo. A NATO está a investigar a ocorrência.
Na terça-feira, a Turquia denunciou vigorosamente a abordagem "destrutiva" da França na Líbia, ao acusar Paris de procurar reforçar a presença da Rússia neste país confrontado desde 2011 com uma devastadora guerra civil e diversas ingerências externas.
Estas declarações surgiram um dia após uma polémica declaração do Presidente francês Emmanuel Macron, que acusou a Turquia de "responsabilidade histórica e criminal" neste conflito.
A Turquia apoia militarmente o Governo de Acordo Nacional (GAN), sediado em Tripoli e reconhecido pela ONU, face às forças dissidentes do marechal Khalifa Haftar, que controla as regiões do leste da Líbia, a designada Cirenaica.
Haftar é apoiado pelo Egito, Emirados Árabes Unidos e de forma mais prudente pela Rússia, que mantém a amarga recordação de ter permitido a intervenção militar ocidental em 2011. De acordo com numerosos analistas, e apesar das contínuas negações oficiais, a França também tem apoiado o marechal dissidente.
Após a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011, na sequência de uma revolta interna e uma decisiva intervenção aérea de forças da NATO (onde a França se destacou juntamente com Reino Unido e Estados Unidos), a Líbia resvalou para uma situação de caos, com contínuos conflitos e lutas pelo poder.
Em abril de 2019, as forças de Haftar desencadearam uma ofensiva em direção a Tripoli, mas o seu avanço que parecia imparável foi travado há poucas semanas, na sequência do apoio turco ao GAN.
Apoiados pelos drones de Ancara, as forças pró-GAN ameaçam agoira Sirte, uma localidade estratégica em direção ao leste do país do norte de África e uma "linha vermelha" para o Egito, que ameaçou intervir militarmente.
A guerra civil na Líbia, que se agravou na sequência de uma crescente ingerência externa, em particular do Egito, Emirados Árabes Unidos, França e Rússia em apoio a Haftar e, mais recentemente, da Turquia e Qatar em apoio ao campo oposto -- a Itália, antiga potência colonial, também tem privilegiado os contactos com Tripoli --, provocou muitos milhares de mortos e mais de 200.000 deslocados.
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