Venezuela. Mais de 30 mil estudantes foram recrutados por grupos armados
Mais de 30.000 estudantes venezuelanos foram recrutados nos últimos anos por grupos armados em instituições educativas da Venezuela, denunciou hoje a organização não-governamental (ONG) Fundaredes.
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Mundo ONG
Os dados foram divulgados durante a apresentação do relatório anual "Fundaredes -- 2019", elaborado por aquela ONG que se dedica à defesa dos Direitos Humanos, da democracia, da cultura de participação cidadã nas fronteiras venezuelanas com o Brasil, a Colômbia e o mar das Caraíbas.
"O recrutamento de crianças e adolescentes em instituições de ensino para que sejam incorporadas nesses grupos armados criminosos excedem os 30 mil até 2019", lê-se no documento.
Segundo o documento, "em 2019, mais de 15.000 crianças e jovens foram recrutadas direta ou indiretamente por grupos armados irregulares" em "violação flagrante" dos seus direitos e dos compromissos assumidos pelos Estados na Convenção sobre os Direitos das Crianças" assinada e ratificada pela Venezuela.
"O Estado venezuelano foi notificado da situação nas fronteiras e foi-lhe pedido que empreendesse ações para impedir que os grupos armados irregulares continuem a entrar nas escolas. Foi-lhe lembrada a obrigação de prevenir a ameaça ou violação dos direitos das crianças e adolescentes", explica.
Porém, "não ordenou nenhuma política pública que promova a sua proteção, para combater as atuações dos grupos irregulares no lado venezuelano da fronteira", sublinha.
A Fundaredes explica ainda que entregou às autoridades venezuelanas um documento dando conta que os grupos irregulares usam a "Fundação Amigos das Escolas" para fazer sondagens e entregar materiais escolares nas localidades fronteiriças, "com o objetivo de captar e cativar os meninos, meninas e adolescentes para as suas fileiras, violando as leis da República".
O relatório precisa que se regista a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e grupos dissidentes desta organização em 325 escolas dos Estados venezuelanos de Zúlia, Táchira, Apure, Bolívar e Amazonas, além do Exército de Libertação Nacional da Colômbia e das Forças Bolivarianas de Libertação.
Segundo a Fundaredes, a deserção escolar nessas regiões foi de 78%. Por outro lado, 66% dos alunos que ainda estão matriculados não assistiram regularmente às aulas e 75% dos professores abandonaram as suas funções.
"O contrabando de combustível é uma das principais atividades levadas a cabo pelos grupos armados irregulares que disputam o controlo dos territórios e dos recursos. Os adolescentes estão mais expostos por estarem na idade mais procurada pelas organizações guerrilheiras para os explorar e doutrinar", explica.
Segundo o documento, "a crise económica na Venezuela tem sido aproveitada pelas organizações criminosas para tentar seduzir crianças e jovens com mais facilidade, oferecendo material escolar, presentes, e até dinheiro, para convencê-los a fazer parte de suas fileiras, sabendo que os pais têm cada vez menos recursos para fornecer a comida adequada aos filhos um, muito menos material escolar ou brinquedos".
"Além da entrega de objetos, foi possível acelerar um processo ideológico e de condicionamento comportamental em que as pessoas, por medo, se habituam a conviver com essas organizações criminosas, chegando inclusive a associarem-se às suas atividades ilegais, visando (assim) mitigar a ocorrência de eventos que afetem a sua integridade, vale dizer, que evitam ser vítimas desses grupos".
A Fundaredes alerta ainda que devido à crise humanitária no país, muitos pais venezuelanos emigraram à procura de oportunidades de trabalho e ingressos, no estrangeiro, "deixando os filhos ao cuidado dos avós, familiares e amigos, em condições de vulnerabilidade".
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