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França repatria da Síria dez crianças filhas de 'jihadistas' franceses

Dez crianças filhas de 'jihadistas' franceses, "especialmente vulneráveis", foram repatriadas da Síria na madrugada de hoje, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.

França repatria da Síria dez crianças filhas de 'jihadistas' franceses
Notícias ao Minuto

14:20 - 22/06/20 por Lusa

Mundo MNE

Em comunicado, o Ministério afirma que França repatriou as crianças, "órfãos ou casos humanitários", que "estavam em campos do nordeste da Síria".

As crianças, precisa, "foram entregues às autoridades judiciárias francesas" e a sua situação será tratada pelos serviços sociais.

Uma delegação francesa foi buscar as crianças a Qamishli, segundo o responsável pela diplomacia da administração autónoma curda daquela região da Síria, Abdel Karim Omar.

Entre as crianças repatriadas, a mais nova das quais tem dois anos, há três que não são órfãs, mas cujas mães "aceitaram enviá-las para França dadas as condições no campo", segundo fonte curda citada pela agência France-Presse (AFP).

"Duas mães aceitaram separar-se dos filhos, o que, num desses casos, implicou a separação de irmãos", adiantou por seu lado o Coletivo Famílias Unidas, uma associação de familiares de crianças filhas de 'jihadistas'.

Com o acolhimento destas crianças, eleva-se a 28 o número total de menores filhos de 'jihadistas' franceses repatriados por França.

"Cada criança que regressa é uma vida salva", afirmou o Coletivo, mas o repatriamento "não deve ser a este preço", de separação da família, dado tratar-se de crianças "já marcadas pela sua história, o luto, a guerra, a vida em campos".

"Abandonar a mãe [e parte dos irmãos e irmãs] não está em conformidade com o superior interesse destas crianças e só vai acentuar os seus traumas", acrescentou.

A doutrina seguida por França para estes casos é a de avaliação "caso a caso", sendo autorizado o repatriamento de todas as crianças órfãs de pai e mãe, mas, nos casos em que a mãe ou o pai estão vivos, a situação é avaliada e exige autorização governamental.

Uma doutrina "tão cínica quanto cruel", acusou William Bourdon, um dos mais conhecidos advogados de França, especializado nomeadamente em crimes contra a Humanidade, à televisão BFM.

"Todos os responsáveis pela luta antiterrorista, juízes de instrução, dizem que, mais que uma urgência humanitária e sanitária, há uma urgência securitária de restituir estas crianças às mães", afirmou.

A diretora em França da organização internacional de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, Bénédicte Jeannerod, saudou os repatriamentos como uma "boa notícia", mas também considerou "urgente França repatriar as outras crianças" e que "o regresso destes cidadãos, crianças e adultos, retidos no noroeste da Síria, é a única resposta viável face aos imperativos humanitários, de justiça, do direito internacional e de segurança".

A Comissão Consultiva de Direitos Humanos francesa, utilizando a 'hashtag' £OnNeNaitPasTerroriste (Não nascemos terroristas), escreveu no Twitter que tem defendido e apelado "para o repatriamento de todas as crianças francesas retidas em campos sírios".

"Todas as crianças são casos humanitários e o superior interesse de todas é serem repatriadas com as mães", afirmou à AFP a advogada Marie Dosé, membro da Comissão, acrescentando que "estas crianças estão marcadas a ferro pela violência da sua história".

Dezenas de organizações não-governamentais e organizações internacionais têm defendido o repatriamento das crianças filhas de 'jihadistas', algumas das quais estão há anos a viver em condições sanitárias extremamente precárias.

Em 2019, 517 pessoas, 371 delas crianças, morreram no campo de al-Hol, segundo números do Crescente Vermelho curdo avançados em meados de janeiro.

As autoridades curdas, que afirmam ter detidos 12.000 estrangeiros, 4.000 mulheres e 8.000 crianças, em três campos de deslocados no nordeste da Síria, têm apelado com frequência aos países envolvidos que repatriem os seus cidadãos.

Pelo menos 13 'jihadistas' francesas, entre os quais Hayat Boumedienne, companheira de um dos autores dos atentados de janeiro de 2015 em França, fugiram dos campos em que estavam detidas, segundo o Centro de Análise do Terrorismo (CAT) de França.

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