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Quando o tempo de asfixia (8'46'') se tornou um símbolo de repressão

O tempo que George Floyd permaneceu sob o joelho do polícia que o matou, 8 minutos e 46 segundos, segundo a acusação, tornou-se um slogan das manifestações de protesto contra o racismo, nos EUA.

Quando o tempo de asfixia (8'46'') se tornou um símbolo de repressão
Notícias ao Minuto

16:54 - 04/06/20 por Lusa

Mundo George Floyd

George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de, segundo o relatório da acusação, um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante 8 minutos e 46 segundos (8'46'') numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.

Nos dias seguintes, manifestantes indignados usaram esse tempo de asfixia, como símbolo da violência policial e uma forma de homenagear Floyd, em cartazes, pausas e cânticos.

A queixa criminal que acusou o ex-policial Derek Chauvin pelo assassínio de Floyd conclui que o polícia "esteve de joelhos no pescoço de Floyd por 8 minutos e 46 segundos, no total. Dois minutos e 53 segundos foi o tempo depois, em que o Sr. Floyd não respondeu".

Contudo, os registos de data e hora na descrição detalhada do incidente, muitos dos quais foram capturados em vídeo, indicam uma contagem de tempo diferente.

Usando por referência os vídeos, Chauvin esteve de joelhos sobre Floyd durante 7 minutos e 46 segundos, incluindo 1 minuto e 53 segundos em que Floyd parecia já ter parado de respirar.

Os promotores envolvidos no caso não responderam a pedidos de esclarecimento sobre a discrepância nos tempos.

"Sete minutos é muito tempo para ter um joelho no pescoço de alguém", disse Jared Fishman, ex-promotor federal de direitos civis, acrescentando que o tempo total é um pormenor que os advogados de defesa examinarão em tribunal.

Para os manifestantes que têm ocupado ruas de cidades por todo o mundo, no entanto, o valor que tem contado é, na realidade, os 8'46''.

Em várias cidades norte-americanas, com Boston, Tacoma e Washington, ao longo dos últimos dias, manifestantes deitaram-se nas ruas, encenando "mortes" durante exatamente 8'46''.

No capitólio, em Washington, senadores democratas reuniram-se no salão da emancipação, alguns em pé, outros ajoelhados sobre o chão de mármore, durante 8'46''.

A ViacomCBS, proprietária dos canais televisivos MTV e da Nickelodeon, interrompeu sua programação no início desta semana para exibir um vídeo silencioso e sombrio em homenagem ao Floyd, durante 8'46''.

A empresa tecnológica Google pediu aos funcionários que parassem na quarta-feira, durante 8'46'', "como um lembrete visceral da injustiça infligida a Floyd e a tantas outras pessoas", disse Sundar Pichai, CEO da Google e da Alphabet, numa carta aos funcionários.

Fazer uma pausa por 8'46'' ajuda a transformar o resumo em realidade, explicou Monica Cannon-Grant, fundadora da organização de direitos civis Violência em Boston Inc., que organizou um protesto na terça-feira que incluiu os 8'46'' de silêncio.

Não é a primeira vez que um pormenor num incidente ganha vida própria e um simbolismo que ultrapassa fronteiras.

Após a morte de Michael Brown, em 2014, espalhou-se na comunidade que o jovem de 18 anos tinha as mãos em sinal de rendição quando foi baleado por um polícia branco.

O canto "Mãos ao ar. Não atire!" rapidamente se tornou um grito de guerra para os manifestantes.

Mas nunca ficou claro se Brown realmente levantou as mãos, não havendo, nessa altura, vídeos ou fotos do incidente.

Algumas testemunhas juraram em tribunal que as mãos de Brown estavam levantadas, enquanto outras juraram que não estavam.

Vários manifestantes disseram que não importava se as mãos de Brown estavam literalmente levantadas, porque a sua morte permaneceu como símbolo de injustiças raciais mais amplas nas mãos da polícia.

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