Moçambique: Forças governamentais revelam "inoperância estranha"
Analistas moçambicanos consideram que há uma "inoperância estranha" e "falta de motivação" das forças de defesa e segurança face a ataques de grupos armados no norte de Moçambique, defendendo uma liderança militar forte para a restauração da ordem.
© Lusa
Mundo Moçambique
Em declarações à Lusa, o politólogo e diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização da sociedade civil moçambicana, Adriano Nuvunga, assinalou que os relatos de que as forças de defesa e segurança se retiraram, sem resistir, aos assaltos às sedes dos distritos de Mocímboa da Praia e de Quissanga, em menos de 48 horas, demonstram uma "inoperância estranha".
"É uma inoperância estranha que um exército regular não dê luta a grupos armados que misturam alguma organização e amadorismo, como se vê pelas imagens que nos chegam", referiu Nuvunga.
O facto de alguns membros dos grupos armados que atuam em Cabo Delgado se apresentarem fardados com uniforme das forças governamentais pode ser sinal de que as forças de defesa e segurança estão infiltradas.
"Mesmo quando o exército governamental enfrentou uma guerrilha mais feroz e mais organizada como a da Renamo, durante os 16 anos de guerra civil, não vimos tantas fragilidades como estas", frisou Adriano Nuvunga.
Fernando Lima, analista e presidente da Mediacoop, o mais antigo grupo de media privado em Moçambique, também vê como "manifesta incapacidade" a inação das forças governamentais nos mais recentes ataques de grupos armados em Mocímboa da Praia e Quissanga.
"Na ausência de elementos de análise mais consistentes, porque não estou no terreno, não deixo de ver uma manifesta incapacidade das forças de defesa e segurança na gestão da violência nos últimos dois episódios em Mocímboa da Praia e Quissanga", afirmou Fernando Lima.
Juma Aiuba, analista residente na província de Nampula, vizinha de Cabo Delgado, entende que a inércia das forças de defesa e segurança denota desmotivação e falta de liderança.
"Parece haver uma voz que diz: 'não vamos combater, não interessa, não ganhamos nada com isto'", disse Juma Aiuba.
Aiuba assinala que há um nível de impreparação que se observa no facto de a polícia e o exército serem apanhados desprevenidos.
"Dá sempre a ideia de que a polícia e o exército nunca sabem que haverá um ataque, não temos ali contrainteligência militar, há uma falta de preparação", notou.
Grupos armados atacaram na madrugada de quinta-feira a vila de Quissanga, uma sede de distrito de Cabo Delgado, norte de Moçambique, levando à fuga generalizada da população, segundo relatos de residentes.
Foi a segunda invasão de uma vila por parte do movimento que há dois anos e meio aterroriza a região, depois de na segunda-feira terem ocupado durante quase todo o dia Mocímboa da Praia, uma das principais zonas urbanas de Cabo Delgado, fazendo um número de vítimas e prejuízos ainda por determinar.
Mocímboa da Praia fica a cerca de 90 quilómetros a sul dos megaprojetos de gás natural em construção na região, enquanto Quissanga fica 200 quilómetros a sul, mais perto da capital provincial, Pemba.
A província de Cabo Delgado tem sido alvo de ataques de grupos armados que organizações internacionais classificam como uma ameaça terrorista e que em dois anos e meio já fez, pelo menos, 350 mortos além de 156.400 pessoas afetadas com perda de bens ou obrigadas a abandonar casa e terras em busca de locais seguros.
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