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Israel: Netanyahu acusado de explorar a crise do coronavírus

O governo israelita tem tomado uma série de medidas para conter a propagação do novo coronavírus, mas o primeiro-ministro em funções é acusado de explorar a crise para se manter no poder minando a democracia no país.

Israel: Netanyahu acusado de explorar a crise do coronavírus
Notícias ao Minuto

14:46 - 19/03/20 por Lusa

Mundo Coronavírus

Num contexto de restrições que deixam Israel praticamente desligado, Benjamin Netanyahu conseguiu que o início do seu julgamento fosse adiado por dois meses, autorizou a vigilância eletrónica dos cidadãos israelitas e impediu que o parlamento avance com legislação para o retirar do cargo, nota a agência noticiosa norte-americana Associated Press.

As medidas, após as terceiras legislativas em menos de um ano no país com resultados inconclusivos, levaram Yair Lapid, uma das principais figuras da oposição, a dizer aos israelitas que "já não vivem em democracia".

"Não existe poder judicial em Israel. Não existe poder legislativo em Israel. Existe apenas um governo não eleito que é liderado por uma pessoa que perdeu as eleições. Pode chamar a isto várias coisas, mas não é uma democracia", indicou num vídeo.

As críticas contra Netanyahu têm vindo a aumentar e a polícia impediu hoje duas caravanas de carros de chegarem ao Knesset (parlamento), onde ativistas tinham planeado um protesto contra o governo.

Muitos dos carros, que segundo a polícia se dirigiam para um "protesto ilegal", transportavam bandeiras negras além das de Israel e fizeram ouvir as buzinas. "Com a ditadura morremos", lia-se num cartaz.

Israel tem diagnosticados 400 casos de coronavírus, cerca de um quarto dos quais detetados nas últimas 24 horas.

Aos israelitas pediu-se que ficassem em casa e dezenas de milhares estão em quarentena domiciliária, enquanto os estrangeiros estão impedidos de entrar no país.

Numa medida controversa, o governo israelita pediu ao serviço de segurança interna Shin Beth para utilizar a sua tecnologia de vigilância de telefones para ajudar a conter a propagação do vírus, rastreando os movimentos dos infetados.

A vigilância em Israel desencadeou críticas generalizadas de deputados e grupos de direitos cívicos. Os opositores preveem entregar hoje uma queixa ao Supremo Tribunal.

Netanyahu tem ganho com a crise, dirigindo severos discursos televisivos ao país todas as noites, onde se apresenta como a pessoa responsável que dirige o país durante uma crise sem precedentes e que é forçada a tomar medidas difíceis, enquanto os seus rivais estão focados em questões políticas mesquinhas.

"A última coisa que farei é prejudicar a democracia", disse numa entrevista na quarta-feira.

"Sob o disfarce da batalha contra a disseminação do coronavírus, o primeiro-ministro em funções Benjamin Netanyahu está a concentrar cada vez mais poder nas suas mãos, sem equilíbrio nem fiscalização", indicava um editorial de diário Haaretz na quarta-feira, intitulado "Uma epidemia de vigilância".

"Neste tempo de emergência e para evitar entrar num terreno escorregadio, é essencial manter a proporcionalidade e a supervisão", adiantava.

Na sequência das eleições de 2 de março, o líder da coligação Azul e Branco, Benny Gantz, rival de Netanyahu, foi designado pelo presidente para formar governo.

Entretanto, Netanyahu tem utilizado uma série de ordens executivas e outras táticas para fazer avançar a sua agenda e impedir que o parlamento se reúna.

O plano de vigilância foi aprovado sem a supervisão do parlamento e na quarta-feira o presidente do Knesset, Yuli Edelstein, do partido de Netanyahu (Likud), adiou abruptamente a reunião parlamentar, suspendendo os planos do Azul e Branco de nomear novas comissões e adotar legislação que poderia limitar a permanência de Netanyahu no cargo.

O presidente Reuven Rivlin alertou que o sistema democrático do país está a ser ameaçado.

Os críticos de Netanyahu consideram que a crise surgiu na altura certa para o primeiro-ministro.

"O coronavírus passará mais cedo ou mais tarde", escreveu o analista Bem Caspit no jornal Maariv. "Depois de enterrarmos os mortos, também teremos de administrar os sacramentos à nossa democracia", adiantou.

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