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Ernesto Cardenal, padre suspenso por João Paulo II, morreu no domingo

O sacerdote e poeta nicaraguense, Ernesto Cardenal, repreendido e suspenso por João Paulo II em 1983 morreu domingo, aos 95 anos, informou a escritora Gioconda Belli.

Ernesto Cardenal, padre suspenso por João Paulo II, morreu no domingo
Notícias ao Minuto

09:42 - 02/03/20 por Lusa

Mundo Igreja

"O nosso grande poeta acaba de morrer aos 95 anos depois de uma vida dedicada à poesia e à luta pela liberdade e justiça", escreveu Belli numa mensagem dirigida aos jornalistas.

O ato de rebeldia mais conhecido de Ernesto Cardenal mereceu a advertência direta do Papa João Paulo II, na primeira visita que realizou à Nicarágua, em 1983.

No aeroporto de Manágua, após sair do avião João Paulo II dirigiu-se a Ernesto Cardenal que ajoelhado ouviu as palavras do Papa que o repreendeu frente a milhares de pessoas por "misturar religião com política".

A advertência de João Paulo II não afastou Cardenal do cargo de ministro da Cultura do governo sandinista tendo sido, por isso, suspenso ''A divinis' pelo chefe da Igreja Católica que o impediu de realizar cerimónias religiosas.

O momento em que o Papa adverte Cardenal ficou registado numa famosa fotografia publicada em todo o mundo, em 1983.

A posição que tomou após a vitória dos sandinistas, não foi o único ato de rebeldia do sacerdote nicaraguense que em 1965 chocou os católicos mais conservadores com a obra "Oração por Marilyn Monroe e outros poemas" em que pedia a Deus pela "alma da atriz e símbolo sexual" norte-americana do século XX.

Anos depois, durante o regime do ditador Somoza, na Nicarágua, envolveu uma comunidade de pescadores nos princípios da Teologia da Libertação, não reconhecida pela Igreja Católica.

A intervenção política marcou a vida do sacerdote que não deixou de criticar o presidente Daniel Ortega em 2007 que definiu como "ditador".

O conflito com o antigo chefe do Executivo sandinista que integrou nos anos 1980 acabou por atingir Ernesto Cardenal que acabou ameaçado pelo regime tendo corrido o risco de ser preso por ordem do Tribunal de Manágua.

Apesar de retirado da vida política, depois de ter integrado o governo sandinista na década de 1980, Cardenal exigiu ao presidente Ortega, em 2018, para "acabar de imediato com a repressão contra o povo".

Ernesto Cardenal que morreu domingo em Manágua dedicava-se nos últimos anos à poesia tendo publicado em 2019 o livro 'Filhos das Estrelas'.

No ano passado, Ernesto Cardenal celebrou uma missa, uma das primeiras cerimónias religiosas que realizou desde os anos 1980, depois de o Papa Francisco o ter absolvido de "todas as censuras canónicas" impostas pelo Papa João Paulo II que o suspendeu "por misturar religião com a revolução sandinista".

O autor de 'Oração por Marilyn Monroe e outros poemas' (1965), Cardenal era um dos poetas mais reconhecidos da América do Sul e em 2010 chegou a ser proposto para Prémio Nobel da Literatura.

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