Turquia denuncia hipocrisia da Síria após reconhecer genocídio arménio
A Turquia denunciou hoje a votação do parlamento sírio que reconhece como genocídio o massacre de 1,5 milhões de arménios entre 2015 e 2017, num momento em que se agrava a tensão sírio-turca após confrontos mortíferos no noroeste da Síria.
© Getty Images
Mundo Damasco
"É um ato hipócrita da parte de um regime que durante anos cometeu todo o género de massacres contra o seu próprio povo (...), que provocou milhões de deslocados e é conhecido pelo seu recurso às armas químicas", declarou em comunicado o ministério turco dos Negócios Estrangeiros.
O regime de Damasco é ainda acusado de ter provocado "uma tragédia humanitária" na fronteira com a Turquia e denunciou "as acusações sem fundamento emitidas por um regime despótico que perdeu a sua legitimidade".
Segundo as estimativas, entre 1,2 milhões e 1,5 milhões de arménios foram mortos no decurso da I Guerra Mundial pelas tropas do Império Otomano, então aliado da Alemanha e da Áustria-Hungria.
Os arménios procuram que a existência do genocídio seja reconhecida pelos países e instâncias internacionais.
A República da Turquia, fundada em 1923 e proveniente da dissolução do Império Otomano, reconhece os massacres, mas recusa o termo de genocídio, ao referir-se a uma guerra civil na Anatólia e fome generalizada, que terá vitimado entre 300.000 e 500.000 arménios e um número semelhante de turcos.
Numerosos historiadores e universitários concluíram que a deportação e o massacre de arménios durante a I Guerra Mundial correspondem à definição jurídica de genocídio.
Cerca de 30 países adotaram leis, resoluções ou moções que reconhecem o genocídio.
Este reconhecimento pelo parlamento de Damasco surge num contexto de fortes tensões entre a Síria e a Turquia.
Na quarta-feira, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou atacar o regime sírio "em todo o lado" em caso de novo ataque contra as forças turcas deslocadas no norte sírio, após a morte de diversos dos seus soldados.
"O confronto dos nossos heroicos soldados (...), sob a liderança do Presidente Bashar al-Assad, com a brutal agressão turca é uma ação histórica, que tem como objetivo evitar o surgimento de um novo monstro otomano que conclua os velhos crimes otomanos", disse o porta-voz do parlamento sírio, Hammouda Sabbagh.
A Turquia ocupou uma vasta área do nordeste da Síria na sua ofensiva contra os curdos sírios, e ainda na região noroeste, onde apoia os rebeldes sírios e mantém tropas estacionadas, na sequência de um acordo com a Rússia.
Nas últimas semanas a tensão entre Ancara e Damasco agravou-se, com trocas de disparos de artilharia que provocaram dezenas de vítimas nos dois lados rivais, e a Síria continua a insistir na retirada total das tropas turcas do seu território.
A Turquia, que tem apoiado a rebelião síria contra o Governo de Bashar al-Assad, desencadeou desde 2015 três operações militares na Síria contra o grupo 'jihadista' Estado Islâmico e os combatentes curdos, que Ancara define como "terroristas".
Na sequência destas incursões, as forças turcas controlam atualmente uma faixa fronteiriça de 120 quilómetros ao longo do interior do território sírio, a sul da Turquia.
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