A nomeação foi assinada por Luiz Pontel de Sousa, secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, órgão ao qual a FUNAI está subordinada, e foi publicada no Diário Oficial do país.
A nomeação é alvo de críticas de organizações não-governamentais e lideranças indígenas que lutam pela proteção dos direitos dos povos nativos do Brasil porque Ricardo Lopes foi ligado à Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), entidade conhecida por seu trabalho de evangelização de indígenas.
Sarah Shenker, da Survival International, considerou, em comunicado, que "colocar um missionário evangélico no comando do departamento de índios isolado da FUNAI é como colocar uma raposa no galinheiro. É um ato aberto de agressão, uma declaração de que eles querem entrar em contacto com essas tribos à força, o que as destruirá".
A representante da ONG acrescentou que a nomeação a par da proposta anunciada pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de abrir reservas indígenas para mineração e exploração agropecuária, será parte de "um plano genocida para a destruição total dos povos mais vulneráveis do planeta cuja sobrevivência está agora em risco."
Já a Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organização ligada a Igreja Católica que há décadas defende direitos dos indígenas no Brasil, manifestou em dois comunicados "grave preocupação" com iniciativas do Governo para os povos indígenas isolados e de recente contacto.
Sobre a nomeação do ex-missionário evangélico, a ONG lembrou que ele fazia parte da MNTB, grupo "que tem um longo histórico de desrespeito aos povos indígenas e, especialmente, aos povos em situação de isolamento voluntário ou de contacto recente com a sociedade não indígena, os quais são alvo de sua política fundamentalista de conversão evangélica e de desobediência à diretriz de não contacto com povos isolados".
Sónia Guajajara, líder indígena que foi candidata a vice-presidência nas eleições de 2018 pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol) que atualmente coordena a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) usou as redes sociais para criticar a escolha do ex-missionário.
"O tiro certeiro do Governo Bolsonaro agora veio para cima dos povos em isolamento voluntário, impondo a sua ideologia perversa de integração e assimilação com a nomeação do Missionário Ricardo Lopes para a CGIIRC da FUNAI. O perigo agora vem de quem tem o dever de protegê-los", escreveu a responsável, na sua conta do Twitter, antes da indicação de Ricardo Lopes ser formalizada.
Também a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (Coiab) denunciou "os crimes de genocídio e etnocídio que serão cometidos contra os nossos parentes isolados e de recente contacto caso se concretize a nomeação de uma pessoa ligada às atividades de proselitismo religioso".
Em entrevista concedida aos 'medias' brasileiros, Ricardo Lopes disse que não pretende evangelizar indígenas e que irá atuar de forma técnica.
O Brasil possui mais de 100 comunidades indígenas isoladas, muitas vivendo na Amazónia.
Antes do anúncio, o Ministério Público Federal (MPF) brasileiro informou que havia pedido à FUNAI que detalhasse as políticas de proteção para estes grupos.
O órgão afirmou esperar que qualquer mudança na política "não agrave as vulnerabilidades já enfrentadas" por tribos isoladas.