Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
17º
MIN 12º MÁX 17º

Sobreviventes do Holocausto não querem dar espaço ao antissemitismo

Os seis milhões de judeus mortos no Holocausto ainda vivem na memória coletiva de Israel, onde cerca de 200.000 sobreviventes vivem para lembrar a história porque acreditam estar a desvanecer-se e a dar espaço ao antissemitismo.

Sobreviventes do Holocausto não querem dar espaço ao antissemitismo
Notícias ao Minuto

09:33 - 25/01/20 por Lusa

Mundo Holocausto

"Para mim, Auschwitz não foi uma libertação. Vejo-o todos os dias, dia e noite. Não sei quantos anos me restam da vida, mas, só quando morrer é que me vou livrar de Auschwitz", disse à Efe Menajem Haberman, com os olhos húmidos e enquanto aponta com a mão direita para o número 10111, tatuado no braço esquerdo.

O seu número é uma das muitas marcas indeléveis deixadas pelos dez meses que passou no campo de extermínio mais sanguinário do Holocausto, onde mais de um milhão de pessoas morreram, incluindo a sua mãe e os seus sete irmãos.

Nascido em 1927 na Checoslováquia, Haberman não economiza detalhes da sua história, e contou com pormenores a viagem no comboio de carga que o levou ao frio inverno polaco -- a Alemanha nazi construiu em território polaco o campo de concentração de Auschwitz -, os meses de trabalho escravo em que viveu de sopa e migalhas de pão e os intermináveis dias em que, sem saber o que estava a fazer, atirou cinzas de um crematório para um riacho, incluindo as da sua família.

Entre as fotos de família pousadas perto do sofá onde contou a sua história à agência de notícias espanhola, numa casa de repouso em Jerusalém, destaca-se uma dele mesmo no mês em que foi libertado: tinha um 1,70 metros e pesava 34 quilos.

"Um médico disse-me que tinha alguns dias de vida. Levantei-me e disse-lhe que ele ainda ia cair morto e que eu continuaria vivo", lembrou.

Atualmente com 92 anos, 70 dos quais a viver em Israel, Haberman acabou por se casar com uma holandesa, que também foi uma sobrevivente, e tem três filhos e cinco netos.

"Não sei porque é que tenho o privilégio de estar aqui hoje, quando seis milhões de judeus foram assassinados. Nem no melhor dos meus sonhos esperava permanecer vivo mais 75 anos", confessa, e ressalta o quanto é importante ter hoje um Estado judeu: "Não temos outro lugar, devemos protegê-lo".

Em 1948, quando o Estado foi estabelecido num território que era então a Palestina sob mandato britânico, um em cada quatro israelitas era sobrevivente do Holocausto e muitos outros tinham perdido as suas famílias na Europa.

Um dos sobreviventes, que participou na fundação do tão esperado Estado e da chamada Guerra da Independência, foi Moshe Haelion.

Da poltrona de sua casa em Bat Yam, no sul de Telavive, tem uma vista privilegiada do Mar Mediterrâneo, que o separa da Grécia, sua terra natal, onde nunca regressou desde que dali partiu para Auschwitz, com a sua família, no dia 7 de abril de 1943.

"Quando saímos do comboio, separaram-nos em quatro grupos, por idades. Fui com os jovens que podiam trabalhar e decidimos que a minha irmã, de 16 anos, iria com a minha mãe, tia e avó, para não se separarem. Nesse momento, condenámo-la à morte", contou à Efe Haelion, que, aos 95 anos, se lembra de todos os momentos dos 21 meses que passou em Auschwitz como se tivessem acontecido na véspera.

Ao contrário de Haberman, não mostra tristeza quando conta a sua história, que analisa como mais uma parte da estrada que fez dele o homem que é hoje.

Às vezes até se ri, como quando se lembra dos problemas de comunicação que teve com outros prisioneiros judeus, já que aqueles duvidavam muito que fosse mesmo judeu por não falar yidish, ou quando diz que, de todos os campos por onde passou, "Auschwitz foi o melhor" porque "aos domingos não havia trabalho que era para os soldados descansarem".

Uma semana antes da sua libertação, Haelion, que mantém o número 114923 intacto no braço esquerdo, foi enviado, com milhares de outros prisioneiros, para a trágica 'Marcha da Morte' para Mauthausen, na Áustria, onde passou por vários campos.

"Aqueles que não conseguiam andar mais ou paravam, eram fuzilados", descreve e acrescenta que, já na Áustria, estava com tanta fome que chegou a comer o carvão dos comboios.

A sua libertação final aconteceu em 6 de maio de 1945, quando as tropas norte-americanas chegaram ao campo onde ele estava. De lá, foi para a Itália e viajou de barco para a então Palestina, onde ficou, viveu o nascimento de Israel, serviu 40 anos no Exército e teve dois filhos, seis netos e nove bisnetos.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório