Erdogan produziu estes comentários após um encontro em Istambul com a chanceler alemã Angela Merkel, que no passado domingo promoveu em Berlim uma conferência de paz sobre a Líbia que resultou num cessar-fogo provisório.
No decurso de uma conferência de imprensa comum com Merkel, o líder turco teceu fortes críticas ao marechal Khalifa Haftar, cujas forças instaladas no leste da Líbia desencadearam em abril uma ofensiva em direção à capital Tripoli, onde está instalado o Governo de Acordo Nacional (GAN) legitimado pela ONU.
"Este homem não é de confiança", disse Erdogan numa referência a Haftar, reforçando que os países que participaram na cimeira de Berlim "não deveriam convidar este homem", referindo-se ao ataque e as ameaças das forças de Haftar, que no início desta semana bombardearam o aeroporto internacional Mitiga em Tripoli.
Erdogan acrescentou que a Turquia não deve abandonar o primeiro-ministro líbio Fayez al-Sarraj, que lidera o Governo de Tripoli.
"Estamos determinados em fornecer-lhe todo o apoio que possamos disponibilizar", acrescentou.
As forças de Haftar, que controla o leste e vastas zonas do sul da Líbia, tem recebido apoio dos Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito, e ainda da França e Rússia.
A Turquia tem por sua vez fornecido ajuda ao Governo de Tripoli, também apoiado a um nível menos intenso pelo Qatar e Itália. Ancara enviou tropas em apoio a Al-Sarraj, mas o líder turco reiterou que apenas incluem "instrutores e peritos", e não uma força de combate.
Erdogan e Merkel divergiram publicamente sobre o resultado da cimeira de paz de Berlim.
A chanceler alemã disse que Haftar concordou em princípio com a trégua, enquanto o Presidente turco insistiu que o marechal líbio "não colocou a sua assinatura" em nenhum documento.
O futuro do acordo sobre migração entre a Turquia e a União Europeia (UE), estabelecido em março de 2016 e que diminui de forma significativa o fluxo de migrantes em direção à Europa, foi outro assunto abordado no encontro bilateral de hoje.
No entanto, o número de migrantes provenientes da Turquia e que entram na Europa através da Grécia aumentou de forma significativa em 2019.
Em 2016, e sob pressão alemã, a UE concordou em conceder à Turquia cerca de 6 mil milhões de euros para ajudar os 3,6 milhões de refugiados sírios instalado no país euro-asiático, e promover outras iniciativas para evitar a partida de migrantes em direção à Grécia.
Merkel admitiu hoje que a UE poderá fornecer uma ajuda adicional em apoio da Turquia.
"Posso imaginar a UE a fornecer apoio para além das suas parcelas de 3 mil milhões [de euros], porque atendendo à atual situação política na Síria, não existe possibilidade de prever o regresso dos refugiados", disse.
Erdogan tem acusado com frequência a UE de não cumprir a sua parte do acordo, e no passado ameaçou "abrir as portas" para os migrantes que pretendem alcançar a Europa.
O líder turco disse ainda que o seu país não pode "continuar a suportar o fardo" de acolher 3,6 milhões de refugiados sírios, e pretende apoio europeu para os instalar na designada "zona de segurança" no norte da Síria. Os países europeus permanecem relutantes face a esta perspetiva.
Sobre esta situação, Merkel disse que a Alemanha apenas pode apoiar o regresso dos refugiados a uma zona de segurança no caso da aprovação deste esquema pela agência de refugiados da ONU (UNHCR).