Manifestantes prometem não parar até ao derrube do "sistema" argelino
Milhares de manifestantes desfilaram nas ruas de Argel pela 49.ª semana consecutiva, uma mobilização que prossegue apesar de algum recuo e que continua a contestar um poder que se afirma disposto a dialogar.
© Lusa
Mundo Hirak
"Não vamos parar, quer partam, quer continuem [no poder]", ecoou a multidão, enquadrada por um importante dispositivo policial, ao confluir para o centro da capital argelina, referiu a agência noticiosa France-Presse.
"Estado civil, não militar", a palavra de ordem mais popular do 'Hirak', também foi retomada no desfile de hoje.
Com a aproximação do 1.º aniversário do 'Hirak' -o poderoso movimento de protesto popular que desafia o poder argelino desde 22 de fevereiro -, a mobilização mantém-se muito significativa, mas menos intensa face aos grandes protestos do inverno e primavera de 2019, ou aos desfiles no decurso da campanha para as eleições presidenciais de 12 de dezembro, massivamente boicotadas pela oposição.
"Eles dizem que o 'Hirak' está em recuo mas na realidade o número não tem qualquer importância. Há um ano não éramos muitos, mas conseguimos impedir o quinto mandato [presidencial] de Bouteflika", disse à AFP Hamid, um funcionário público de 32 anos.
O ex-Presidente Abdelaziz Bouteflika foi forçado a demitir-se sob pressão popular em abril, após ter anunciado pretender cumprir um novo mandato.
"Há um ano ninguém pensava que os argelinos podiam manifestar-se na capital, mas devido ao 'Hirak' conquistámos esse direito e vamos prosseguir até ao fim deste regime", prometeu Hamid.
Os opositores continuam a exigir o desmantelamento do "sistema" e a partida dos seus representantes do poder desde a independência do país, em 1962. No protesto de hoje, exigiram um "Estado de direito e justiça" e recusaram a perspetiva de exploração do gás de xisto, num dos países do mundo com as maiores reservas de petróleo e gás natural.
No entanto, permanece por definir qual a direção que este inédito movimento, plural e pacífico, deve seguir após a eleição em 12 de dezembro do novo Presidente Abdelmadjid Tebboune, e a tomada de posse do seu governo.
Em resposta ao "Hirak", Tebboune, 74 anos, um ex-primeiro-ministro e colaborador de Bouteflika, prometeu uma revisão da Constituição e, nessa perspetiva, anunciou a formação de um comité de peritos.
O Presidente argelino, que tem evitado um confronto aberto com o movimento popular, iniciou nos últimos dias consultas com personalidades políticas para garantir uma "Constituição consensual", cujo projeto será submetido a referendo nacional.
Segundo Tebboune "vão ser consideradas todas as opiniões sobre a metodologia a seguir, mas igualmente os problemas que o país enfrenta".
Perante esta iniciativa, as forças do Pacto de Alternativa Democrática (PAD) -- uma plataforma de diferentes partidos políticos, associações e representantes da sociedade civil -- organizam no sábado em Argel "colóquios para a alternativa democrática", com o objetivo de preparar uma "conferência nacional" de oposição ao regime.
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