Cartum, 15 jan 2020 (Lusa) -- Dois soldados sudaneses foram mortos durante um assalto das forças de reação rápida sudanesas em duas bases do Serviço Nacional de Informações e Segurança (NISS), onde na terça-feira irrompeu uma rebelião contra a reforma da instituição.
"Decidimos tomar de assalto as bases para pôr fim a esta rebelião (...). Retomámos o controlo" das duas instalações, declarou hoje aos jornalistas o Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas sudanesas, Osmane Mohamed al-Hassan, citado pela agência France-Presse.
"Dois soldados perderam a vida e quatro outros, entre os quais dois oficiais, foram feridos", acrescentou. Um balanço anterior deu conta de cinco feridos.
"Não vamos tolerar qualquer golpe de Estado contra a revolução sudanesa", declarou, pelo seu lado, o general Abdel Fattah al-Burhane, que preside ao Conselho Soberano, um órgão composto por civis e militares, encarregado desde o verão passado de conduzir a transição pós-Omar al-Bashir, o antigo Presidente do país, deposto pelos militares em abril último.
"Protegeremos este período de transição, e quem atentar contra a segurança e a estabilidade dos cidadãos será derrotado", acrescentou o general Hassan, que falava ao lado de Al-Burhane.
O Governo sudanês de transição decidiu há meses restringir as competências do NISS apenas às funções de informação, libertando-o do seu braço de segurança e, neste contexto, desmantelar o denominado Comité de Operações da agência.
Aos cerca de 13.000 homens que integravam a subestrutura, o Governo ofereceu a possibilidade de integrarem o Exército, as Forças de Reação Rápida ou a Polícia. A maioria dos funcionários optou pela demissão com indemnização.
O temido Serviço de Informações e Segurança foi acusado de protagonizar a repressão durante a ditadura de Al-Bashir e, em particular, durante os protestos contra o antigo Presidente, que, ao fim de quatro meses, foi forçado a abandonar o comando dos destinos do país pelo seu próprio exército.
Uma das principais reivindicações dos manifestantes e das forças políticas da oposição no Sudão foi, precisamente, o desmantelamento daquela força de segurança e o julgamento dos responsáveis pela repressão, que se saldou por centenas de mortes durante os protestos que decorreram entre dezembro de 2018 e junho de 2019.
Na terça-feira à noite, o atual chefe dos serviços de informações, Mohamed Hamdan Daglo, acusou o antigo dirigente do NISS Salah Gosh, uma figura proeminente do regime de Al-Bashir, de estar por detrás deste ato de "rebelião", em que vários membros da instituição manifestaram o seu descontentamento contra a reforma, disparando armas em vários pontos de Cartum, incluindo no interior das duas instalações tomadas de assalto esta madrugada.
Gosh demitiu-se dois dias depois da destituição de Al-Bashir e o seu paradeiro é desconhecido.