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ONU avisa Bozizé que não aceitará "táticas de destabilização" na RCA

A Organização das Nações Unidas avisou que "não serão aceites" quaisquer "táticas" do antigo Presidente da República Centro-Africana, François Bozizé, "que visem destabilizar ou criar instabilidade", disse à Lusa o representante especial do secretário-geral da ONU na RCA.

ONU avisa Bozizé que não aceitará "táticas de destabilização" na RCA
Notícias ao Minuto

18:48 - 13/01/20 por Lusa

Mundo ONU

"Iremos opor-nos a todas as tentativas de desestabilização deste país. Já temos muita coisa feita, temos um acordo de paz desde fevereiro, que estamos a tentar implementar, com todos os seus cossignatários, por isso não podemos permitir que um antigo chefe de Estado venha perturbar a situação política na República Centro Africana (RCA)", afirmou Mankeur Ndiaye, à margem de uma conferência no Instituto de Defesa Nacional.

O representante do secretário-geral da ONU acrescentou: "E este é um aviso muito firme que fazemos em nome da comunidade internacional".

Mankeur Ndiaye recordou que, nos últimos dias, regressaram à RCA os dois principais protagonistas da guerra civil de 2013, François Bozizé, que governou o país durante 10 anos, e Michel Djotodia, ex-chefe da rebelião muçulmana Séléka, que tomou o poder pelas armas em 2013.

François Bozizé - alvo de "sanções por parte das Nações Unidas, da União Europeia, dos Estados Unidos" e mesmo de um mandado de detenção internacional por parte do Governo centro-africano -- está, segundo Mankeur Ndiaye, a "colocar muitas preocupações" ao Governo de Bangui.

"Registamos muita atividade política por parte do antigo Presidente Bozizé, que dirigiu o país durante 10 anos, que coloca muitas preocupações ao Governo da RCA. Falei esta manhã com o Presidente [Faustin-Archange] Touadéra sobre as atividades do ex-Presidente Bozizé, que o inquietam", revelou Ndiaye à Lusa.

Ndiaye descreveu como pacífico e "positivo" o regresso de Djotodia à RCA, sublinhado que o até agora único chefe de Estado muçulmano da RCA "foi recebido pelo Presidente Touadéra", a quem "manifestou a sua disponibilidade para contribuir para a implementação do acordo de paz [de 6 de fevereiro de 2019] e para a estabilização do país, o que é muito positivo".

A chegada a Bangui de Bozizé foi "muito diferente", disse Ndiaye, lançando "um apelo a todas as individualidades políticas, antigos chefes de Estado ou não, para que inscrevam [as suas ações] no quadro da pacificação e da estabilização do país, apoiando a implementação do acordo [de paz]".

"Todas as táticas de um antigo chefe de Estado que visem destabilizar ou criar instabilidade no país não serão aceites. Vamos trabalhar para que as eleições se realizem no respeito do direito constitucional, como sublinhou a comunidade internacional" na resolução 2499 do Conselho de Segurança de 15 de novembro de 2019, acrescentou o representante de António Guterres na RCA.

Mankeur Ndiaye referiu-se ainda à instabilidade no bairro PK5, o principal núcleo económico, mas também a área mais perigosa de Bangui, onde se concentram desde 2014 um grande número de refugiados muçulmanos na sequência dos confrontos entre os rebeldes da Séléka e os grupos anti-balaka que arrasaram a capital da RDC depois da queda de Bozizé em 2013.

O diplomata garantiu que "as condições estão quase reunidas para que as forças de segurança internas (FSI) ocupem os seus postos no bairro e a MINUSCA possa trabalhar em colaboração com habitantes, os comerciantes, as instituições religiosas, com as individualidades políticas e o governo".

O PK5 foi palco, em 26 de dezembro, de confrontos violentos, que provocaram mais de três dezenas de mortos, entre os comerciantes do bairro e membros de alegados grupos de "autodefesa", que cobram há anos "taxas de segurança".

"Estamos a trabalhar para repor a segurança", adiantou o embaixador senegalês.

Segundo Mankeur Ndiaye, "os grupos de autodefesa que existem estão em permanente confronto com os comerciantes".

"Estamos a trabalhar com esses grupos de autodefesa, no quadro do programa de redução de violência comunitária (CVR). Declarámos o bairro PK5 'zona livre de armas' e estamos a trabalhar com os grupos de autodefesa e com os comerciantes", salientou.

Outro dos programas centrais na pacificação do país diz respeito à desmobilização, desarmamento e reinserção (DDR) de mais de 9 mil combatentes em mais de 20 grupos armados, que controlam mais de dois terços do país, com uma área equivalente ao território de França e da Bélgica, mas com apenas 4,7 milhões de habitantes, um quarto dos quais deslocados das suas casas.

"O [programa] DDR está a avançar em termos gerais. Houve alguns problemas de financiamento. Mas estamos a avançar em termos globais. Estamos a avançar no oeste do país, milhares de combatentes já entregaram as armas, uns quatro mil combatentes já desarmaram, não tenho os últimos números, mas avançamos progressivamente", revelou.

"Houve alguns problemas de financiamento, mas penso que esses problemas serão ultrapassados porque temos a contribuição da UE, dos Estados Unidos, do Banco Mundial com 30 milhões de dólares... Estamos a trabalhar. Temos grandes esperanças", salientou Mankeur Ndiaye.

Instado a confirmar o número de 4.000 combatentes já desmobilizados, Ndiaye respondeu que há já "talvez mesmo um pouco mais".

"Os que tinham condições de integrar as forças armadas integraram, outros, que não tinham essas condições, foram orientados para outros projetos de desenvolvimento socioeconómico, com financiamento. Porque é preciso oferecer perspetivas aos antigos combatentes, seja através da sua integração nas forças armadas, seja orientando-os para projetos de desenvolvimento socioeconómico e, por vezes, o financiamento pode colocar problemas", explicou.

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