Investigação a terrorismo generalizou-se e jornalistas são alvos
Alain Bauer, ex-conselheiro de segurança do Presidente francês Nicolas Sarkozy, defende que as maiores mudanças na análise e investigação de ameaças terroristas em França não foram motivadas pelos ataques ao Charlie Hebdo, mas as redações continuam a ser "alvos simbólicos".
© Reuters
Mundo Terrorismo
"As grandes alterações em relação aos serviços de informações e alertas de terrorismo já tinham começado antes deste ataque [07 de janeiro de 2015] e acabaram por ser aceleradas após os ataques ao Bataclan [novembro 2015]. A ideia de Michel Rocard [ex-primeiro-ministro entre 1988 e 1991] de considerar a luta antiterrorista como um problema global foi retomada por Sarkozy depois reforçada por Manuel Valls [ex-primeiro-ministro entre 2014 e 2016] ", considerou Alain Bauer, ex-conselheiro de segurança de Nicolas Sarkozy, questionado pela Lusa.
Para este criminologista, os jornalistas continuam a ser "alvos simbólicos", embora para quem comete este tipo de atos, como os irmãos Kouachi, que perpetraram o ataque ao Charlie Hebdo, a "sobremediatização" dos ataques permite utilizar qualquer alvo para ampliar as suas mensagens.
A nível de segurança, apesar do ataque mortal à redação do jornal satírico ter tido um valor simbólico e ter incitado várias manifestações em França sob o lema "Je suis Charlie", foram sim os ataques à sala de espetáculos Bataclan, a 13 de novembro de 2015, que levaram às maiores mudanças no quotidiano dos franceses e na maneira como as autoridades seguem as ameaças terroristas.
Desde logo, a França viveu dois anos em estado de urgência, a polícia foi autorizada a fazer buscas durante a noite e incentivada a utilizar as suas armas de serviço fora do trabalho, as penas foram endurecidas nos casos de associação criminosa e suspeitas de terrorismo, assim como os suspeitos deste crime passaram a estar isolados devido ao perigo de radicalização.
Mas para Alain Bauer, isso não é suficiente. "Novas leis e mais trocas de informação com os serviços de informações estrangeiros não chegam. Precisamos de melhores capacidades de análise e conseguir uma revolução cultural imaginada em 1988, desenvolvida em 2008 e reforçada em 2015 sobre uma leitura global do fenómeno do terrorismo", indicou o especialista em segurança.
O ano de 2020 não marca apenas o quinto aniversário deste ataque, mas também será este ano que se vão conhecer mais pormenores sobre quem terá ajudado os irmãos Kouachi a executar o seu plano.
Entre maio e julho deste ano, catorze pessoas suspeitas de ajudarem os terroristas vão ser julgadas em Paris, entre elas três à revelia que terão fugido depois dos ataques e se presume que se encontrem atualmente algures na fronteira entre o Iraque e a Síria.
Para além dos ataques ao Charlie Hebdo, estes arguidos vão também ser julgados por cumplicidade na morte de uma agente da polícia em Montrouge e o sequestro do supermercado Hyper Cacher levado a cabo por Amedy Coulibaly nos dias que se seguiram ao atentado contra o Charlie Hebdo.
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