"A Justiça cobre os culpados de esclavagismo para os proteger", indicou Biram Dah Abeid, presidente da Iniciativa para o Ressurgimento do Abolicismo (IRA, organização não reconhecida) e deputado do parlamento, durante uma conferência de imprensa em Nouakchott, capital da Mauritânia.
Essa cumplicidade - acrescentou - não é do interesse da sociedade ou da Justiça mauritana, pelo que Biram Dah Abeid pediu às elites do país maior envolvimento para acabar com esse flagelo, que representa para a Mauritânia estar na liderança do 'ranking' mundial de países com escravatura.
Biram Dah Abeid foi candidato às eleições presidenciais em junho passado e ficou em segundo lugar com cerca de 19% dos votos contra os 52% alcançados por Mohamed Ould Ghazouani, atual Presidente da Mauritânia.
Abolida oficialmente em 1980, a escravatura foi penalizada pela primeira vez em 2007 e depois considerada como "crime contra a humanidade" e "crime imprescritível" numa nova lei em 2015.
Biram Dah Abeid salientou hoje que a sua luta não é direcionada contra uma comunidade étnica específica, em alusão ao grupo étnico árabe-berbere (os "Beidan"), que tradicionalmente praticaram a escravatura com os harratines, negros da cultura árabe.
Ainda hoje, os harratines, embora não estejam sujeitos à escravatura, realizam as tarefas mais ingratas na sociedade e sofrem marginalização social, o que leva muitos observadores a questionarem-se até que ponto deixaram de ser escravos.