"Para os cientistas portugueses é uma mais-valia muito grande, na medida em que cada vez mais a investigação é global", disse à Lusa a investigadora Vânia Silvério, que concluiu esta semana uma temporada de três meses no departamento de Engenharia Mecânica da CMU, através da iniciativa "Visiting Faculty & Researchers" do programa Carnegie Mellon Portugal.
A investigadora do Instituto de Microsistemas e Nanotecnologias INESC-MN esteve a trabalhar com um novo material, elastómero de cristais líquidos, que é "muito parecido com um plástico, mas que dá para esticar, encolhe com a temperatura" e está a ser explorado para robótica, eletrónica vestível (wearables) e emplastros com sensores.
"O trabalho que eu fiz aqui em três meses sozinha, em Portugal demoraria um ano a fazer, porque não tenho sensibilidade para este tipo de materiais", explicou a investigadora, que colaborou com o professor Carmel Majidi no projeto e pretende publicar um artigo científico sobre o resultado.
"Tem sido muito bom, porque não só consegui experimentar o material com este grupo, como consegui também uma colaboração com outro grupo da Universidade de Pittsburgh", adiantou.
A facilidade de colaboração que é fomentada na CMU também foi sublinhada por Bruno Direito Leitão, investigador do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da Universidade de Coimbra, que termina este mês o programa de visita no departamento de Psicologia.
"A vantagem competitiva que a CMU e algumas universidades americanas acabam por ter é a massa crítica", afirmou. "É um meio aliciante e inovador, um brainstorming iterativo e constante porque estão muito próximos uns dos outros".
O investigador tem estado a colaborar com a equipa do professor Marcel Just num projeto que utiliza a técnica de ressonância magnética funcional.
"O trabalho que estamos a realizar em Coimbra é na área do autismo e estamos a trabalhar para desenvolver esta tecnologia para outras coisas, como AVC e patologias com comprometimento de áreas cerebrais", explicou.
"O que se pretende é tentar estabelecer uma nova técnica que permita modelar e treinar as áreas [do cérebro] que possam ter algum problema funcional", acrescentou.
O projeto deverá levar à publicação de dois artigos científicos e a ideia será agora "ir atrás de financiamento para alimentar algumas das ideias que podem surgir desta colaboração", afirmou o investigador.
Resultados concretos também são esperados no final da estadia do investigador Pedro Moura, do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores da Universidade de Coimbra, desenvolveu trabalho na área do carregamento de veículos elétricos com o professor Javad Mohammadi e já submeteu um artigo científico com parte do resultado.
"O futuro passa, numa primeira fase, por continuar a trabalhar em conjunto e fazer uma implementação prática nalguns dos nossos edifícios", explicou, referindo que a Universidade de Coimbra tem a infraestrutura necessária para testar os algoritmos de controlo do carregamento de veículos que foram desenvolvidos. O objetivo último será chegar a produtos comerciais em parceria com algumas empresas.
Estão também previstos mais dois artigos científicos, revelou Pedro Moura, para quem estas visitas "são bastante produtivas para os investigadores portugueses", porque permitem "conhecer novos métodos e renovar os objetivos de investigação".
Andreia Mordido, investigadora do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, salientou que a experiência permite dar um impulso ao trabalho e é "uma mais-valia para todos os académicos em Portugal".
A especialista esteve a trabalhar com o professor Frank Pfenning num projeto com o objetivo de "tornar o software muito mais robusto", através da identificação de erros em tempo de compilação, e tem prevista a publicação de um artigo científico como resultado.
Sobre as características da interação com os investigadores na universidade norte-americana, referiu que a experiência "foi única em todos os sentidos" e que o trabalho feito em Pittsburgh é "de altíssima qualidade".
"Considero que na CMU se reúnem as condições de excelência para fazer investigação", afirmou. "Poder aliar isso ao nosso trabalho é uma experiência enriquecedora".