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"Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa"

O último Governador português em Macau recorda que teve, durante as funções, mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa, mas salientou que o "rumo" a definir para a transição contou com uma "grande compreensão" do poder de então em Portugal.

"Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a chinesa"
Notícias ao Minuto

05:15 - 15/12/19 por Lusa

Mundo Vasco Rocha Vieira

"Tive mais problemas com a parte portuguesa do que com a parte chinesa (...) muitas vezes, por falta de perceção. Normalmente, as pessoas estão longe, em Lisboa - isso é uma coisa histórica, que não é só de agora - e acham que sabem melhor as soluções do que aqueles que estão em Macau", afirmou Vasco Rocha Vieira, numa entrevista à Lusa a propósito do 20.º aniversário da transição da administração do território para a China.

Porém, assegurou que quando foi necessário definir "o rumo, os objetivos fundamentais das políticas para Macau, foram discutidos pelo governo de Macau, em Lisboa, com quem deviam ser discutidos, com o Presidente da República e com o primeiro-ministro" e houve "sempre" sobre isso "uma grande compreensão por parte dos órgãos de soberania portugueses e uma grande prova de confiança em relação a quem estava no território".

"Isso foi fundamental" para que todo o processo de transição de Macau para China "corresse bem".

Nos primeiros anos "em que era preciso saber o que é que se queria, marcar objetivos e ter confiança em quem lá estava (...) isso aconteceu", sublinhou.

Quando questionado sobre a relação com o Presidente Jorge Sampaio, de quem são conhecidas algumas críticas a Rocha Vieira, o general limitou-se a dizer: "foi aquela que tinha de ser e que o Presidente da República entendia que devia ser".

"Nunca tive nas minhas funções problemas institucionais, porque nunca pessoalizei as coisas", concluiu.

Da sua parte, enquanto governador de Macau, assegura que "houve sempre a assunção das responsabilidades".

"De acordo com o meu papel, as minhas funções e para aquilo que fui nomeado e quando se é assim não se tem problemas", disse.

Rocha Vieira explicou que foi nomeado para o cargo de governador de Macau pelo Presidente Mário Soares, na altura em que o primeiro-ministro era o professor Cavaco Silva.

"Quero dizer que [a relação] correu de uma forma exemplar. Vinha a Lisboa, punha os pontos, o Presidente da República perguntava-me se queria que falasse com o primeiro-ministro por qualquer problema", especificou.

E continuou: "falava com ele, apreendia da parte dele quais eram as preocupações do Dr. Mário Soares. Tinha reuniões alongadas com o professor Cavaco Silva e as coisas ficavam sempre esclarecidas".

"Nunca houve nenhum conflito", garantiu, realçando que "as grandes linhas de orientação da administração portuguesa em Macau foram definidas nessa altura".

"Portanto quando, depois, mudou o Presidente da República (...) não houve grande problema" afirmou.

Na época, tudo quanto "era importante em toda a área de códigos, legislação do que quer que seja, dos funcionários públicos, tudo isso estava resolvido, ou no caminho já decidido".

Na ocasião, o que estava a ser definido era como minorar a dependência de Macau de Hong Kong, transferindo-a mais para o interior da China, para a zona de Cantão.

E "isso não é uma subordinação em relação à China. É defender os interesses de Macau. E isso foi compreendido pela parte chinesa, e as coisas correram bastante bem", referiu.

Rocha Vieira recordou que havia uma preocupação na altura, com o facto de a transição de Hong Kong terminar antes, em 1997, portanto dois anos e meio antes da transferência de Macau, e não se saber o que aconteceria, inclusivamente no panorama internacional, porque muitas coisas estavam a mudar.

Foi na década de 1990 que houve o desmembramento da União Soviética, que começou o grande crescimento da China e a crise financeira asiática, pelo que o propósito da administração portuguesa de Macau foi "ter as coisas resolvidas antes do processo de transição de Hong Kong terminar".

"E conseguimos isso", referiu.

A experiência de Hong Kong também não trazia ensinamentos ao território: "Não podíamos, porque Hong Kong e Macau são realidades completamente diferentes", considerou.

Desde logo pela escala de Hong Kong e depois pela maneira como as administrações procederam, explicou.

Além disso, "Hong Kong, quando começou o processo de transição tinha tudo localizado, os quadros eram bilingues (...), tinham todos os tribunais, tinham universidades, tinham escolas, tinha os códigos. Macau não tinha", frisou.

A falta de investimento da metrópole nas periferias ao longo dos séculos foi particularmente sentida no território: "Macau foi deixado muito longe".

Por outro lado, a China esteve muito tempo fechada ao exterior, pelo que era curto o aproveitamento de Macau ou do papel que poderia desempenhar na zona e nas ligações regionais.

Por isso, a perceção desse novo papel de Macau só "passou a existir a partir do momento em que a China começou a abrir-se ao exterior e a ter uma preponderância muito grande como potência cada vez mais global".

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