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Nova frente de combate e violência em Idlib no 9.º ano de guerra na Síria

A guerra na Síria, no seu nono ano, registou em 2019 uma nova frente de combate com uma operação militar turca no norte e o regime conseguiu entrar na última província fora do seu controlo, Idlib.

Nova frente de combate e violência em Idlib no 9.º ano de guerra na Síria
Notícias ao Minuto

14:10 - 14/12/19 por Lusa

Mundo 2019

A 9 de outubro, Ancara inicia uma ofensiva no norte sírio contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), apoiada pelos países ocidentais, mas considerada terrorista pela Turquia, que receia a formação de um embrião de Estado curdo junto à sua fronteira, podendo reavivar o separatismo dos curdos turcos.

A ofensiva estava prevista desde o início do ano após o anúncio em dezembro de 2018 do Presidente norte-americano, Donald Trump, da saída dos soldados destacados na Síria para combater os 'jihadistas' do grupo extremista Estado Islâmico.

O objetivo da operação de criar uma "zona de segurança" ao longo da fronteira entre a Turquia e a Síria para manter as YPG à distância foi discutido ainda em janeiro com Washington, mas só em agosto é anunciado um acordo para o seu estabelecimento.

A 06 de outubro, a Casa Branca anuncia que as tropas dos EUA estacionadas na Síria serão retiradas da fronteira com a Turquia na iminência de uma ofensiva turca e um dia depois as forças norte-americanas começam a retirar-se.

"As forças americanas não apoiarão nem se envolverão na operação", adianta Washington, três dias antes dos primeiros bombardeamentos turcos.

A suspensão da ofensiva, a terceira de Ancara na Síria desde 2016, é anunciada a 17 de outubro pelo vice-Presidente dos Estados Unidos. Mike Pence indica que terminará quando as forças curdas retirarem da região.

Nove dias de ataques causaram mais de 90 mortos (72 do lado sírio e 20 do lado turco) e uma nova crise humanitária na devastada Síria, com 300.000 deslocados. Mais de 30 organizações não-governamentais abandonam as zonas sob controlo curdo devido aos combates.

Seis dias depois de ter suspendido a ofensiva, Ancara anuncia que "não tem necessidade" de a retomar, depois de ter acordado com a Rússia (aliado do regime sírio de Bashar al-Assad) a realização de patrulhas conjuntas, que controlarão a "zona de segurança" de onde se retiraram as milícias curdas.

A decisão de Trump de retirar as tropas do nordeste da Síria abrindo caminho para uma invasão turca abalou muitos aliados de Washington e foi criticada por quase todos.

As milícias curdas são parte essencial das Forças Democráticas Sírias (FDS, coligação com árabes), que esteve na linha da frente do combate ao grupo Estado Islâmico, apoiada pela coligação internacional dirigida pelos Estados Unidos.

Dois dias depois do início da ofensiva turca, o Departamento de Defesa norte-americano pedia a sua suspensão por considerar que colocava em risco os progressos alcançados no combate contra os 'jihadistas' do EI.

As FDS anunciaram a 23 de março a "derrota territorial" do grupo extremista Estado Islâmico após a conquista do último reduto do EI na Síria, Bagouz, prometendo continuar a combater o grupo até à sua completa erradicação.

Números divulgados pelos EUA na semana anterior estimavam entre 15.000 e 20.000 os militantes do EI na Síria e no Iraque.

No final de outubro o Pentágono indicou que alguns militares poderiam ficar no nordeste da Síria para proteger instalações petrolíferas e garantir o combate contra um possível ressurgimento do EI.

Alguns dias depois, Trump anuncia a morte do líder do grupo extremista, Abu Bakr al-Baghdadi, numa operação norte-americana no noroeste do país.

Al-Baghdadi terá sido morto na região de Idlib, a última província síria fora do controlo do regime de Assad e que abriga uma variedade de grupos rebeldes e 'jihadistas', dominada pelo Hayat Tahrir al-Cham (HTS, antigo ramo sírio da Al-Qaida).

Para evitar uma grande ofensiva do regime sírio e do seu aliado russo foi acordado em setembro de 2018, entre Moscovo e Ancara (que apoia alguns rebeldes), o estabelecimento de uma "zona desmilitarizada" na província e áreas adjacentes, separando os setores insurgentes de regiões governamentais.

O pacto não foi totalmente respeitado, recusando os 'jihadistas' retirar-se da área de separação, e em finais de abril Damasco e Moscovo intensificam os bombardeamentos contra posições dos grupos insurgentes.

Em maio a ONU indica que várias das suas agências estão a suspender operações humanitárias na zona por a segurança dos seus colaboradores estar em risco devido aos bombardeamentos.

A organização Médicos Sem Fronteiras denuncia que a escalada de violência na província em junho provocou um recorde de mortos e feridos, além de 450 mil deslocados. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) dá conta no final de julho da morte de mais de 500 civis desde abril.

Numa visita sem precedentes à região de Idlib em outubro, Assad disse que a batalha contra os 'jihadistas' e os rebeldes era a chave para o fim da guerra na Síria, que desde 2011 já provocou mais de 370.000 mortos, incluindo mais de 100.000 civis, além de milhões de deslocados e refugiados.

A violência continua em Idlib, região que foi recebendo os que não queriam ficar sob o domínio de Damasco à medida que o exército sírio avançava e recuperava mais de 60% do território, graças ao apoio russo e iraniano.

Segundo o OSDH, pelo menos 19 civis, incluindo oito crianças, morreram a 07 de dezembro em ataques aéreos do regime sírio e dos russos.

No campo político, o secretário-geral da ONU anunciou a 23 de setembro a criação de um Comité Constitucional para a Síria, integrando representantes do Governo sírio e da oposição que deverão elaborar uma nova lei fundamental síria.

"Acredito fortemente que o lançamento de um Comité Constitucional, organizado e liderado por sírios, possa ser o início de um caminho político para uma solução" para a Síria, afirmou na altura António Guterres.

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