Meteorologia

  • 23 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 13º MÁX 24º

Isabel ganhou coragem para exigir fim da violência contra as mulheres

Isabel Sofia foi acusada pela família de matar a filha, por ter sido uma das pessoas que sobreviveu ao acidente com o seu carro, em outubro e, embora sob estigma, saiu hoje por um "mundo sem violência contra mulheres".

Isabel ganhou coragem para exigir fim da violência contra as mulheres
Notícias ao Minuto

19:41 - 13/12/19 por Lusa

Mundo Moçambique

A ativista social, de 42 anos, não se contém e desata em lágrimas quando questionada se já sofreu alguma violência. A pergunta reacende episódios recentes.

Há dor em dobro: Por um lado, pela morte da filha de 23 anos, que também era ativista, e, por outro, pelo julgamento na família, que já a condenou.

"Estão a culpar-me pela morte da minha filha", disse a ativista e assistente social da associação Hi Xikanwe,

A filha de Isabel Sofia morreu em outubro, num acidente de viação que envolveu a sua viatura e em que ela sobreviveu, além de mais um ocupante.

"A pergunta é como eu sobrevivi. Acusam-me de a ter matado e estão a jogar os meus próprios filhos contra mim", desabafou a ativista, que também é mãe de sete filhos.

As sequelas do acidente ainda são visíveis no seu corpo, mas doem menos que o estigma que hoje sofre.

"Não me deixaram chorar pela morte da minha filha", frisou a ativista, que associa o estigma que está sofrer ao facto de ser mulher num país de cultura patrilinear.

"Não me deixavam dormir e o meu marido acordava-me para explicar o que aconteceu naquele dia [do acidente]", lamentou Isabel Sofia, acrescentando que pelo facto de conhecer os seus direitos é tida como mulher rebelde e desobediente no seio familiar.

Hoje, embora as lembranças daquele dia de dor permaneçam na sua cabeça, saiu às ruas, juntamente com dezenas de pessoas, e marchou pelas mulheres moçambicanas, exigindo o fim da violência contra as raparigas.

A marcha iniciou-se às 15:20 locais (menos duas em Lisboa) na Avenida Eduardo Mondlane, quando dezenas de pessoas, maioritariamente mulheres, começaram a juntar-se ao pé da estátua daquele que é considerado o "arquiteto da unidade nacional", fundador da frente que lutou contra o regime colonial.

Empunhando cartazes com mensagens de repúdio à violência contra raparigas, Isabel Sofia e outras dezenas de pessoas percorreram perto de dois quilómetros, entoando hinos de exaltação à mulher moçambicana e exigindo a implementação de leis que protegem a mulher.

"As leis são boas, mas o erro está na aplicação. Não estamos a dizer que os governantes não estão a fazer um bom trabalho, mas estamos a dizer que a violência contra a mulher deve parar", disse à Lusa Catarina Chule, outra ativista moçambicana.

Enquanto a luta de Isabel Sofia e tantas outras mulheres moçambicanas ganha voz nas capitais provinciais, os dados sobre a violência doméstica e os casamentos prematuros continuam assustadores, principalmente na zona rural.

Em 2018, Moçambique registou cerca de 25 mil casos de violência doméstica, dos quais 12 mil foram contra mulheres.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório