Meteorologia

  • 29 MARçO 2024
Tempo
11º
MIN 8º MÁX 15º

Argélia: Candidatos às presidenciais confrontados com o movimento 'Hirak'

Os cinco candidatos que se apresentam às presidenciais de quinta-feira na Argélia apoiaram no seu percurso político o Presidente deposto Abdelaziz Bouteflika ou participaram nos seus governos, fatores decisivos para a sua marginalização durante uma atípica campanha eleitoral.

Argélia: Candidatos às presidenciais confrontados com o movimento 'Hirak'
Notícias ao Minuto

09:20 - 11/12/19 por Lusa

Mundo Argélia

Após um moroso processo, a Autoridade Nacional Independente das Eleições (ANIE) apenas aprovou cinco das 22 candidaturas apresentadas.

No total, 143 personalidades e partidos políticos solicitaram os formulários de subscrição de assinaturas de eleitores para legitimar a candidatura, mas numerosos aspirantes não conseguiram garantir apoios suficientes num clima de contestação generalizada e de apelos ao boicote eleitoral.

Ali Benflis, 75 anos 

Ex-primeiro-ministro, ex-ministro da Justiça (1988-1991), ex-secretário geral da Frente de Libertação Nacional (FLN, partido único durante 25 anos), líder do Talaie El Hourriyet (Vanguarda das liberdades) desde 2004, Ali Benflis tornou-se no principal "adversário" eleitoral do Presidente deposto Bouteflika nas presidenciais de 2004 e 2014.

Numa tentativa de seduzir o movimento "Hirak", que se opõe às presidenciais ao exigir o desmantelamento prévio do aparelho herdado dos 20 anos da Presidência Bouteflika, acusado de ter promovido fraudes eleitorais, este candidato sugeriu a adoção de medidas de confiança e apaziguamento, a demissão do governo designado por Bouteflika e a alteração da lei eleitoral.

Primeiro-ministro de Bouteflika no seu primeiro mandato (1999-2004), e em paralelo secretário-geral da sua formação (FLN), Ali Benflis rompeu com o então chefe de Estado em 2003 e concorreu contra ele no ano seguinte.

À semelhança da maioria dos membros da oposição institucional, encontra-se marginalizado por um movimento de contestação que o acusa de ter legitimado o poder de Bouteflika ao participar no jogo político, apesar das fraudes.

Na campanha defendeu o diálogo nacional como "instrumento privilegiado de resolução da atual crise de regime", mas manifestou "reservas" face à formação de uma Assembleia constituinte antes do escrutínio presidencial, reclamada por uma parte do "Hirak".

Abdelmadjid Tebboune, 73 anos 

Antigo primeiro-ministro de Abdelaziz Bouteflika, foi demitido do seu cargo ao fim de apenas três meses, em agosto de 2017, num contexto de lutas de clãs no círculo de Bouteflika.

Abdelmadjid Tebboune é um produto do "sistema" contestado nas ruas desde fevereiro. Alto funcionário na década de 1970, foi por diversas vezes responsável municipal na década seguinte, antes de subir a ministro nos anos 1990.

Bouteflika designou-o ministro da Comunicação e da Cultura quando chegou ao poder em 1999, antes de lhe confiar outras pastas até 2002. Foi de novo chamado ao governo em 2012, e assumiu o cargo de primeiro-ministro entre maio e agosto de 2017.

Foi despedido ao fim de três meses e substituído por Ahmed Ouyahia por se ter envolvido num conflito com diversos homens de negócios próximos de Said Bouteflika, o todo-poderoso irmão do Presidente.

Detido um mês após a demissão de seu irmão, Said Bouteflika foi condenado no final de setembro a 15 anos de prisão por "conspiração contra o Estado e as Forças Armadas". Numerosos homens de negócios, incluindo Ahmed Ouyahia, estão em prisão preventiva no âmbito de diversos inquéritos sobre alegados atos de corrupção, desencadeados a pedido da hierarquia militar após a demissão de Bouteflika.

Azzedine Mihoubi, 60 anos 

Ex-ministro da Cultura, definido como um "federador", foi eleito em 20 de julho secretário-geral interino da União Nacional Democrática (RND, principal aliado da FLN na Aliança presidencial pró-Bouteflika), sucedendo a Ahmed Ouyahia.

Iniciou a sua carreira como jornalista em 1986, para se tornar diretor de informação da televisão argelina e de seguida diretor-geral da rádio nacional. Nesse período, foi presidente da União dos escritores argelinos e da União geral dos homens de letras árabes. Entre 2010 e 2013 assumiu as funções de diretor da Biblioteca Nacional da Argélia.

Membro da Assembleia popular nacional (parlamento) de 1997 a 2002, foi designado secretário-geral responsável pela Comunicação social, durante dois anos. Em 2015 o primeiro-ministro Abdelmalek Sellal nomeia-o ministro da Cultura, sendo reconduzido no governo de Abdelmadjid Tebboune.

De novo no cargo durante o executivo chefiado por Ahmed Ouyahia, abandona as funções governativas em abril de 2019 na sequência da demissão de Ouyahia, e no contexto do "Hirak". É apontado como um dos possíveis vencedores do escrutínio presidencial, após ter recebido o apoio de figuras próximas do regime.

Abdelkader Bengrina, 57 anos 

Antigo ministro do Turismo da Argélia, Abdelkader Bengrina, proveniente de uma corrente islamita, foi o primeiro a apresentar-se, em 21 de setembro, como candidato às presidenciais de quinta-feira.

Na conferência de imprensa, precisou que o seu objetivo era "romper com a tirania e a corrupção e restabelecer a confiança entre o povo e as instituições do Estado".

Antigo sindicalista, Abdelkader Bengrina foi ministro do Turismo e do Artesanato de 1997 a 1999 num governo de coligação liderado por Ahmed Ouyahia e que integrava o seu antigo partido, o Movimento da Sociedade para a Paz (MSP) -- o principal partido islamita que se reivindicava da Irmandade Muçulmana --, e a RND. De seguida, fundou em 2013 o Movimento El Bina com outros dissidentes do MSP.

Já estava presente como candidato nas presidenciais de 18 de abril, que foram anuladas na sequência da demissão do ex-Presidente Abdelaziz Bouteflika.

Em 09 de novembro revelou o seu programa eleitoral, dirigido em particular ao eleitorado feminino. A coligação parlamentar que inclui o El Bina recuperou em julho a presidência do parlamento, tradicionalmente atribuída à FLN, após a demissão do seu titular.

Abdelaziz Belaid, 56 anos 

Ex-dirigente da FLN entre 1986 e 2011, secretário-geral da Frente El Moustakbal desde 2012 após cindir com o antigo partido único, antigo deputado, função que exerceu durante dez anos, decidiu voltar a candidatar-se às presidenciais após o insucesso de 2014.

Médico e licenciado em Direito, dirigiu a União nacional dos estudantes argelinos de 1986 a 2007 e em 1999 foi designado secretário-geral das União nacional de juventude argelina (UNJA), uma formação satélite da FLN, que integrou durante 23 anos. De seguida, integrou o comité central da FLN sob a tutela do seu líder Ali Benflis, tornando-se no seu membro mais jovem.

Em 2004 apoiou a candidatura de Benflis às presidenciais face a Bouteflika, e afastado quase de imediato das suas funções na UNJA e na FLN.

Após entrar em rutura com a FLN em 2011, Adelaziz Belaid fundou no ano seguinte a Frente El Moustakbal (Frente do Futuro), um pequeno partido considerado próximo do poder, e torna-se secretário-geral.

Nas presidenciais de 2014 decidiu apresentar-se face a Ali Benflis e Bouteflika. Praticamente desconhecido, garante o terceiro lugar (3%, 328.000 votos), num escrutínio em que o ex-presidente obteve larga vantagem na primeira volta (mais de 80%), e entre múltiplas acusações de fraude.

Em janeiro de 2019 anuncia a sua candidatura às eleições então agendadas para 18 de abril, mas retira-se por se opor à candidatura de Bouteflika, que pretendia um quinto mandato. O escrutínio acabou por ser adiado para julho, mas o "Hirak", em paralelo com setores da hierarquia militar, impõem o afastamento de Bouteflika.

Belaid apresenta-se de novo ao ato eleitoral, mas após um período de hesitação e apesar de ter garantido o número de apoios suficientes, retira-se da corrida em 25 de maio.

Em 18 de outubro voltou a apresentar a sua candidatura, suportada por 77.000 assinaturas de eleitores, voltando a desafiar o seu antigo mentor Ali Benflis. Em 09 de novembro apresentou o seu programa eleitoral, centrado no combate à corrupção e na recuperação do dinheiro desviado.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório