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Eleição presidencial de Lacalle Pou no Uruguai é viragem à direita

A eleição presidencial de Luís Lacalle Pou implica uma viragem à direita do Uruguai em matéria de política externa e de comércio exterior, com impactos no Grupo de Contacto Internacional, no Grupo de Lima e no Mercosul.

Eleição presidencial de Lacalle Pou no Uruguai é viragem à direita
Notícias ao Minuto

22:32 - 28/11/19 por Lusa

Mundo Analistas

A partir de 1 de março, quando for empossado, Luís Lacalle Pou, porá fim a 15 anos de governação à esquerda e deverá iniciar uma viragem que colocará o país mais próximo do Brasil de Jair Bolsonaro e mais distante da Argentina de Alberto Fernández, os dois gigantes sul-americanos e principais parceiros comerciais do Uruguai.

As mudanças propostas pelo eleito coincidem com a visão do governo brasileiro, mas são opostas à postura do próximo governo argentino que assumirá em 10 de dezembro: Venezuela e Mercosul, bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Em relação à Venezuela, Lacalle Pou deverá condenar o regime de Nicolás Maduro, que classifica como uma ditadura, reconhecer o governo do autoproclamado Presidente Juan Guaidó e associar o Uruguai ao Grupo de Lima.

Em relação à abertura comercial do Mercosul, o Uruguai deverá somar-se à posição do Brasil e do Paraguai, distanciando-se da visão protecionista da Argentina.

A viragem em política externa passa por eliminar das relações internacionais as chamadas "afinidades ideológicas", uma variante uruguaia do "viés ideológico" tão propagado pelo Presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

O objetivo é que o Uruguai não fique confinado num Mercosul fechado em si, mas que procure a "agilidade e flexibilidade" do bloco para negociar acordos relevantes.

"Lacalle Pou não se identifica com Bolsonaro. No Uruguai, existe muito medo quanto ao autoritarismo. Inclusive, a família Lacalle foi perseguida pelo regime militar. Bolsonaro causa rejeição aqui no Uruguai, mas em matéria comercial, certamente o Uruguai será um aliado", explica à Lusa Adriana Rada, analista política e diretora da consultoria em opinião pública Cifras.

A vitória apertada de Lacalle Pou, do Partido Nacional, sobre o socialista Daniel Martínez, da Frente Ampla, obriga o eleito a reforçar internamente a sua coligação, formada rapidamente entre a primeira e a segunda volta das presidenciais, e a estabelecer pontes com a outra metade do país que não o elegeu.

"Desde o dia 27 de outubro, na primeira volta, formou-se uma coligação eleitoral de cinco partidos que unia todos os candidatos que, juntos, obtiveram 54% dos votos. Por outro lado, a Frente Ampla tinha os 39% de votos obtidos. Essa diferença de 15 pontos terminou em 1,2%", salientou à Lusa o analista político e diretor da Consultoria Factum, Oscar Bottinelli.

"Lacalle Pou já indicou que vai buscar a alternativa que lhe cabe: buscar a unidade com a outra metade do país, evitando o ambiente de confrontação para construir um ambiente de acordos. A coligação terá de costurar-se muito para que funcione bem", conclui Bottinelli.

A visão em matéria de política externa para o período 2020-2015 do governo Lacalle Pou aparece no quinto dos 12 pontos do denominado "Compromisso com o País", documento que permitiu a formação chamada "Coligação Multicor" com os cinco partidos que se opuseram durante a campanha eleitoral ao candidato da governamental Frente Ampla, Daniel Martínez.

O texto estabelece um Plano Estratégico de Política Externa que "reoriente o Serviço Exterior do país em direção a uma grande força comercial".

Intitulado "Inserção internacional: abrir mercados e fazer alianças", o documento indica que "após anos de uma política externa baseada em 'afinidades ideológicas', o país ficou confinado num Mercosul bloqueado e isolado do mundo".

O texto indica que as barreiras comerciais atuais fazem com que "os produtos uruguaios não sejam competitivos", afetando "negativamente o emprego, o investimento e as condições de vida dos uruguaios".

Em relação especificamente ao Mercosul, o documento indica que a "Coligação Multicor" propõe um bloco "moderno, ágil e flexível" com uma "agenda externa proativa, pragmática e não condicionada a fatores ideológicos" para se chegar a novos acordos comerciais ou para concretizar os já fechados ou em curso como os alcançados acordos de comércio livre com a União Europeia e a EFTA [que integra a Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein].

"Trabalharemos por uma flexibilização das regras do Mercosul no que se refere aos outros acordos comerciais. Precisamos de um Mercosul moderno, ágil e flexível", indica o texto.

O Mercosul está em negociações avançadas com o Canadá, Singapura e Coreia do Sul.

Também avança com Japão e pretende iniciar negociações formais com os Estados Unidos.

Porém, o Presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, já avisou que quer rever o acordo com a União Europeia e deu sinais de preferir o protecionismo como forma de recuperar a indústria argentina antes de permitir qualquer competitividade com o mundo.

Além disso, Alberto Fernández fez campanha a favor do candidato uruguaio derrotado, Daniel Martínez.

No campo político, o Uruguai também deve distanciar-se da Argentina.

Em relação à Venezuela, o eleito Lacalle Pou criticou, ao longo dos últimos anos, a postura condescendente do atual governo de Tabaré Vázquez, que não condenou o regime de Nicolás Maduro.

Essa postura foi definida por Lacalle Pou como "cúmplice".

Em fevereiro, o Uruguai recebeu a primeira reunião do Grupo de Contacto Internacional, do qual Portugal faz parte, para lidar com a crise na Venezuela.

Na ocasião, o Partido Nacional de Lacalle Pou declarou o regime de Nicolás Maduro como "ilegítimo" e reconheceu Juan Guaidó.

O atual governo uruguaio de Tabaré Vázquez classificou como golpe de Estado a renúncia de Evo Morales na Bolívia, posição que também deve mudar com Lacalle Pou.

A viragem do Uruguai da esquerda ao centro-direita era a última peça que faltava no tabuleiro da América do Sul desde que Mauricio Macri iniciou o ciclo de vitórias da oposição em 2015.

Paradoxalmente, depois da vitória de Alberto Fernández em outubro, Argentina e Venezuela serão os dois únicos países que não pertencerão ao arco de direita e centro-direita que prevalece na América do Sul.

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