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Bougainville vota em referendo de independência da Papua Nova Guiné

A pequena população de Bougainville, no leste da Papua Nova Guiné, vota no sábado num referendo de independência que foi elemento central para pôr fim a uma intensa guerra civil, mas demorou quase duas décadas a concretizar-se.

Bougainville vota em referendo de independência da Papua Nova Guiné
Notícias ao Minuto

10:26 - 21/11/19 por Lusa

Mundo Papua Nova Guiné

Os cerca de 200 mil eleitores, dois terços dos habitantes do que é atualmente a Região Autónoma de Bougainville, terão no boletim de voto a escolha entre "maior autonomia" ou "independência".

Desde as 00h00 de hoje que a região está oficialmente em período de reflexão, decretado pela Comissão do Referendo de Bougainville que, segundo o seu responsável Maurício Claudio, pretende dar tempo aos eleitores para ponderarem bem a sua escolha.

"Este é um voto histórico e deve ser celebrado. Houve muita informação dada a todos sobre as opções em cima da mesa e sobre o processo de voto e agora é altura de refletirmos", considerou.

O referendo, que já foi adiado várias vezes, é um dos elementos centrais do importante Acordo de Paz de 2001, documento que pôs fim a uma guerra civil que se prolongou durante nove anos, entre 1988 e 1997.

Mais do que isso, porém, o voto responde a uma ambição histórica de muitos na região que se chegou a declarar unilateralmente independente, dias antes de a própria Papua Nova Guiné (PNG) se tornar um país soberano, em 1975.

Daí que, numa população de cerca de 300 mil habitantes, a taxa de recenseamento para o voto seja particularmente elevada, especialmente entre jovens que são uma fatia significativa da população.

Especialistas que acompanham a região antecipam que o resultado possa ser de um amplo apoio à independência.

Uma recente análise do Lowy Institute -- um 'think tank' sediado em Sydney -- nota que a própria pressão comunitária torna "socialmente difícil" a opção dos que não queiram a independência, especialmente por muitos recordarem o 'custo' de chegar ao voto.

Mais incerto, porém, é o que ocorrerá depois de serem conhecidos os resultados do referendo.

Mesmo que o voto seja maioritariamente favorável à independência, terá necessariamente de ser reconhecido pelo Governo da PNG, o que obriga a um período de "consulta" e depois um processo mais formal de ratificação.

Não há calendário preciso para esses processos.

Nos bastidores do voto está um conflito sobre a criação e administração da importante mina Panguna, de ouro e cobre, que atingiu um nível de violência extremo, de parte a parte, com até 20 mil mortos (10% da população na altura).

A mina, a céu aberto, era responsável por 45% das receitas de exportação da PNG depois da sua abertura em 1972, causando crescente mal-estar em Bougainville, que reivindicava mais benefícios diretos.

A tensão foi crescendo e em 1988 o Governo destacou efetivos militares e polícias, marcando um período de combate entre as forças governamentais e o Exército Revolucionário de Bougainville (BRA).

A guerra teve um impacto significativo na população, com muitos a terem de fugir de casa e a instalar-se em acampamentos temporários noutros pontos da ilha, com graves danos a infraestruturas educativas, energéticas e de saúde.

O Lowy recorda o bloqueio do Governo da PNG que impediu a chegada de medicamentos, causando ainda mais problemas na região.

O processo de paz só começou a arrancar em 1997 -- houve um cessar fogo no ano seguinte -- e conduziu ao acordo de 2001, assente na recolha e destruição de armas, na criação de um Governo regional autónomo (alcançado em 2005) e de um referendo, a realizar entre 2015 e 2020.

Mesmo que a independência seja apoiada, Bougainville começaria com sérias dificuldades financeiras, de recursos humanos e de infraestruturas, resultado das deficiências da zona, agravadas pelo extenso e intenso conflito.

Observadores notam as dificuldades do voto em si, com 90% da população a viver em zonas rurais remotas, cerca de metade dos habitantes a serem analfabetos e a falta de redes de comunicação adequadas.

A votação começa às 08h00 de sábado (22h00 de sexta-feira, hora de Lisboa) com cerca de 206 mil eleitores registados e mais de 800 locais de voto nas zonas urbanas e remotas da região.

Mais de 250 observadores nacionais e internacionais vão acompanhar o voto, com 650 representantes do Governo e das partes interessadas a acompanhar o processo de votação e escrutínio.

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