"Identifico uma série de lacunas graves na resposta do corpo de bombeiros de Londres, tanto no funcionamento da sala de controlo como no terreno do incidente", declarou o presidente da comissão de inquérito, Martin Moore-Bick, neste relatório, segundo os trechos citados pela agência de notícias Press Association.
O texto de mil páginas deve ser publicado na quarta-feira, mas foi apresentado às famílias das vítimas na segunda-feira e alguns trechos foram hoje divulgados pela imprensa.
O incêndio na torre Grenfell começou na noite de 14 de junho de 2017 e alastrou rapidamente aos andares superiores da torre de 25 pisos, alegadamente devido ao revestimento exterior inflamável.
Moore-Bick considerou que a tragédia teria causado menos mortes se algumas decisões tivessem sido tomadas antes e criticou em particular, a decisão dos bombeiros de pedir aos moradores que permanecessem nas suas habitações, depois do início do incêndio, pouco antes da 1h00 (mesma hora em Lisboa), antes de mudar a estratégia às 2h47.
"Esta decisão poderia e deveria ter sido tomada entre a 1h30 e a 1h50 e provavelmente teria causado menos mortes", salientou Martin Moore-Bick.
O presidente da comissão de inquérito considerou que "a preparação e a organização do corpo de bombeiros de Londres para um incêndio como o da torre de Grenfell foi gravemente inadequada".
Enquanto enfatizava a coragem dos bombeiros, Moore-Bick acusou a comandante dos bombeiros, Dany Cotton, de ter demonstrado uma "incrível falta de sensibilidade" por ter declarado numa audiência que tomaria as mesmas decisões se revivesse a noite da tragédia.
Moore-Bick manifestou preocupação com o risco de os serviços de emergência "não aprenderem as lições" da tragédia.
Dany Cotton anunciou em junho que pretende aposentar-se.
Um porta-voz do corpo de bombeiros recusou-se a comentar sobre a fuga de informação na imprensa antes da publicação oficial do relatório.
Na rede social Twitter, a comissão de inquérito indicou estar "dececionada" por esta fuga e não fez mais comentários.
Dos mais de 300 residentes, 70 pessoas morreram no incêndio, mais uma vítima que sucumbiu dos ferimentos dias depois no hospital e um bebé nado morto, filho dos portugueses Márcio e Andreia Gomes.
Logan Gomes, que já tinha quase sete meses de gestação, morreu devido à intoxicação com fumo da mãe, que foi hospitalizada juntamente com uma das duas filhas após escapar pelas escadas desde o 21.º andar.
Além do casal Márcio e Andreia Gomes e as duas filhas menores, viviam na Torre Grenfell outros seis portugueses, todos no 13.º andar: Miguel e Fátima Alves e dois filhos, e outros dois amigos portugueses, residentes num apartamento vizinho, que também sobreviveram.