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Argentina: Frágil união no parlamento e protestos limitarão novo governo

Com a disputa pela Presidência praticamente definida, o desafio do novo governo argentino será manter o bloco parlamentar unido e conter os conflitos sociais nas ruas, indicam analistas entrevistados pela Lusa.

Argentina: Frágil união no parlamento e protestos limitarão novo governo
Notícias ao Minuto

08:59 - 26/10/19 por Lusa

Mundo Argentina

Além da corrida eleitoral para saber quem ocupará a Casa Rosada, sede do governo argentino, nos próximos quatro anos, o desafio dos vencedores será a formação de uma maioria coesa e controlar as manifestações populares.

"A verdadeira incógnita sobre estas eleições já não é saber quem será eleito para Presidente, mas qual será o tamanho do bloco de governo e qual será a força da oposição", explica à Lusa o analista político Raúl Aragón.

Os argentinos vão eleger metade da Câmara de Deputados e um terço do Senado. A coesão ou fratura do peronismo será condição para o sucesso do novo governo perante os desafios de emergência do país.

O candidato Alberto Fernández, que as sondagens colocam como virtual vencedor da corrida presidencial, tem o plano de convocar os atores sociais a um grande acordo de preços e salários que permita recuperar parte do poder aquisitivo e conter a alta galopante dos preços.

A Argentina vive desde 2011 em recessão (com exceção de 2017) combinada com alta inflação.

Alberto Fernández terá de negociar com credores externos e com o Fundo Monetário Internacional (FMI) uma reestruturação da dívida pública que permita ao país voltar a ter crédito.

Terá também de atacar as consequências de índices alarmantes de pobreza que deixam o país à beira de uma explosão social.

Os empresários vão querer reformas, especialmente a laboral. Os sindicatos que hoje apoiam Alberto Fernández negar-se-ão a uma reforma.

Nas ruas, os movimentos sociais já mandam recados de advertência sobre qualquer tentativa do futuro governo em aplicar receitas liberais na economia.

Os investimentos estrangeiros dependem das variáveis que a direção 'kirchnerista' resiste em ceder.

"Alberto terá de atacar primeiro as coisas que mais o podem desestabilizar. Deverá acalmar um conflito social iminente. Haverá uma pressão das ruas e haverá o conflito com os credores e com o FMI", prevê Raul Aragón.

O Presidente Mauricio Macri governou quatro anos sem maioria em ambas as câmaras, um problema que Alberto Fernández, se for eleito, não terá.

"Tudo indica que o bloco do governo terá 131 deputados contando os aliados, suficientes para ter quórum próprio. O mesmo vale para o Senado", calcula o analista político Aragón.

Na Câmara de Deputados, são necessários 127 dos 252 legisladores para o quórum próprio. No Senado, 37 dos 72 senadores.

Alberto Fernández terá maioria sempre que mantiver os aliados, mas o risco de fratura do próprio bloco é grande.

O peronismo é um movimento que oscila entre moderados e radicais. O 'kirchnerismo' é a ala mais radical do peronismo. Moderados e radicais passaram os últimos anos divididos até que a necessidade de derrotar Macri os uniu.

"Manter a coesão será o grande desafio no Parlamento. É difícil porque o bloco é um saco de gatos. O peronismo une-se para chegar ao poder, mas, uma vez no poder, fratura-se", observa Aragón.

Alberto Fernández é considerado um moderado dialogante e, por isso, obteve o apoio de governadores peronistas, dos sindicatos e de boa parte da sociedade que não tolera Cristina Kirchner.

Foi com essa noção da resistência que o seu nome gerava que a própria ex-Presidente, em maio, anunciou a escolha de Alberto Fernández como candidato presidencial.

Do outro lado, a oposição liderada por Mauricio Macri, que concorre à reeleição também será igual ou mais forte.

A coligação do atual Presidente deve receber a mesma quantidade de votos que obteve na primeira volta em 2015, sem perder, portanto, legisladores.

"O crescimento do peronismo acontece em detrimento de terceiras forças; não da coligação de Macri", explica Aragón.

Ao longo do último mês, Mauricio Macri apostou em caravanas pelo país para recuperar o voto da classe média e acabou a gerar um inédito fenómeno social: a presença maciça da classe média nas ruas de todo o país.

Essa demonstração de força política, segundo os analistas, emite dois sinais: Alberto Fernández sabe que agora Mauricio Macri tem poder para convocar a classe média para as ruas e a coligação de Macri sabe que este será o líder da oposição.

"Macri deu um recado: seremos uma oposição coesa e vamos cuidar dos interesses dos 35% da população que nos apoia. E sabemos que, por mais que percamos as eleições, sempre haverá 40% de argentinos que vão querer uma opção não-peronista, não-'kirchnerista' e não-populista", interpreta à Lusa o analista político Jorge Giacobbe.

"As pessoas terão um nível de expectativa muito grande que Alberto não poderá atender. A lua-de-mel durará de seis a 18 meses até começar o desgaste porque não haverá dinheiro para cobrir todas as demandas sociais. E a bola voltará para a oposição", prevê Giacobbe, que vê ainda uma fratura no peronismo.

"Se o que vier para Alberto for muito difícil, isso vai desatar um conflito entre o peronismo e o 'kirchnerismo'. Hoje, são sócios para ganhar, mas depois para governar provavelmente haverá problemas", acredita.

"A união de Alberto com Cristina não é uma coisa sólida", adverte.

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