Grécia alerta que Europa deve esperar uma nova vaga migratória
O primeiro-ministro da Grécia, Kyriakos Mitsotakis, alertou hoje, numa entrevista à agência France Presse (AFP), que a Europa deve preparar-se para uma eventual nova vaga de migrantes e de refugiados.
© Reuters
Mundo Migrações
"A Europa deve preparar-se para a eventualidade de uma nova vaga de migrantes e de refugiados", afirmou Kyriakos Mitsotakis à AFP, na véspera de uma reunião do Conselho Europeu e uma semana depois do início da ofensiva turca no nordeste da Síria.
Cem dias depois de ter tomado posse como chefe do Governo helénico, Mitsotakis, cujo país voltou a ser este ano a principal porta de entrada para a Europa, tem vindo a subir o tom das críticas contra os países da União Europeia (UE) que se recusam a acolher migrantes e refugiados nos respetivos territórios.
"Devem existir consequências para quem optar por não participar deste exercício de solidariedade europeia", afirmou o primeiro-ministro grego conservador.
No início de outubro, diante do Parlamento helénico, Kyriakos Mitsotakis defendeu que o bloco comunitário devia impor "sanções específicas" aos Estados-membros que se recusem a aceitar refugiados, mas sem precisar nomes de países.
É conhecida a oposição de alguns países da Europa central e de leste (como a Hungria, Polónia e a República Checa) ao sistema de quotas obrigatórias para a recolocação de refugiados pelos Estados-membros da UE.
Com mais de 70 mil requerentes de asilo na Grécia, dos quais quase 33 mil encontram-se nas ilhas do Mar Egeu, mais próximas da Turquia, Kyriakos Mitsotakis classificou como "inaceitável a abordagem de vários países-membros da UE que consideram que não é de todo um problema" deles.
"Temos entre 3.000 a 4.000 menores não acompanhados na Grécia, não seria muito difícil para os países europeus assumirem parte deste fardo", prosseguiu.
Naquele que será o seu primeiro Conselho Europeu (agendado para quinta e sexta-feira em Bruxelas), o líder do partido de direita Nova Democracia, que sucedeu ao primeiro-ministro Alexis Tsipras (esquerda) em julho último, promete "levar a questão da partilha do fardo" migratório à discussão.
"Não podemos evitá-lo", disse Mitsotakis, reforçando: "A Grécia não pode lidar com este problema sozinha".
No ano corrente, mais de 46.000 migrantes chegaram à Grécia, segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), mais do que o conjunto de chegadas verificadas em Espanha, Itália, Malta e Chipre.
Mesmo estando ainda longe da fasquia que o país atingiu em 2015, quando recebeu um milhão de refugiados, o recente fluxo está a levantar novamente questões de sobrelotação.
Atenas afirma que os campos de acolhimento nas ilhas do Mar Egeu (como é o caso da ilha de Lesbos) já sobrelotados, não podem suportar uma nova vaga migratória provocada, nomeadamente, pela ofensiva turca na Síria.
Kyriakos Mitsotakis condenou, de forma veemente, a "incursão" turca no norte da Síria, iniciada a 09 de outubro, porque cria "um novo polo de instabilidade que pode criar uma nova pressão migratória" na Europa.
Questionado sobre a recente ameaça do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de "abrir portas" aos cerca de 3,6 milhões de refugiados sírios atualmente acolhidos em território turco, em reação às críticas europeias contra a ofensiva de Ancara na Síria, Mitsotakis classificou-a como "inaceitável", defendendo que "a Europa não pode ser objeto de tal chantagem".
"O comportamento de Ancara torna a gestão do problema migratório ainda mais complicada", disse Mitsotakis, lembrando que "a UE foi generosa com a Turquia", no âmbito do acordo bilateral sobre o controlo dos fluxos migratórios para a Europa firmado em março de 2016.
Em 2016, e em troca da cooperação da Turquia, a UE concordou em acelerar a liberalização dos vistos para os visitantes turcos, relançar as negociações de adesão ao bloco comunitário e conceder uma ajuda financeira a Ancara, que iria atingir até 2018 um total de seis mil milhões de euros, para melhorar as condições de vida dos milhões de sírios já refugiados naquele país.
"Não creio que a Turquia o reconheça plenamente", reforçou.
Para Mitsotakis, a questão migratória "é a mais difícil" da atualidade grega, porque a Grécia não a pode controlar.
"Somos um pilar de estabilidade numa região instável, não podemos mudar a geografia", mas "precisamos de mais apoio da Europa", exortou o político grego.
Nesse sentido, o primeiro-ministro grego pede, entre outras medidas, "tecnologias" para identificar embarcações com migrantes a bordo antes destas zarparem das costas turcas ou um reforço da Frontex, a agência europeia de controlo de fronteiras.
Em finais de setembro, o Governo grego anunciou que pretende reenviar perto de 10 mil migrantes para a Turquia até final de 2020, decisão anunciada após o registo de um incêndio e de tumultos num campo de refugiados sobrelotado na ilha de Lesbos.
"É prioridade número um acelerar os procedimentos de asilo: quando alguém não é elegível para asilo, ele ou ela deve ser devolvido à Turquia", como autoriza o acordo UE-Ancara de 2016, concluiu Kyriakos Mitsotakis.
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